Escolhemos a caixa com menos gente, uma caixa onde só se podia pagar com cartão electrónico, estava cheia de sede e enquanto punha as compras no tapete rolante pedi à menina se podia abrir a garrafa de água antes de a pagar e a menina disse-me que sim, que ali, no Continente, não se deixava morrer ninguém à sede, e eu fiquei contente por saber que assim era, que podia ir em segurança ao Continente, que ali nunca ninguém há-de morrer à sede. Atrás de nós, para pagar, estava um homem pequeno, um metro e sessenta, fato de treino preto, com umas calças demasiado compridas e uns ténis brancos, daqueles com uma sola fininha, que fazem os pés parecer ainda mais pequenos do que são, um homem gorducho, com uma barriguinha, um cabelo assim pegajoso e uma argolinha na orelha. Na verdade não dei logo pelo homem atrás de mim. Só reparei nele quando atendeu o telefone. Ou melhor, só dei por ele quando começou a responder a quem com ele falava. Primeiro foram uns "eh pahhh" desgarrados, uns "eh pahhhs" que se foram intensificando e eu a mandar calar os meus filhos, que queria ouvir a conversa, e eles a perguntarem "o que é?, o que foi?" e eu a fazer-lhes olhares, e a dizer "schhhh!" e a fazer sinalefos com a cabeça, a apontar para o homem, e às tantas estava a fila toda a assistir, e o homem dizia lá para o outro lado "já te disse que estou aqui no hiper", "eh pahhhhh, eh pahhhh, eh pahhhh", "já te disse que vim ao Contnénte", que ele dizia mesmo assim "Contnénte", e depois o homem olhava para o telefone, zangado, e fazia menção de o atirar para longe, e eu pensava que ela, do lado de lá, tinha desligado, mas não, ele voltava à conversa, "eh pahhhhh, eh pahhhhh, estás sempre desconfiada!" e então, num repente, atirou o telefone, que tinha carinhosamente acondicionado numa capinha tigresse, contra o tapete rolante, para junto do saco com limões e das acendalhas, mas atirou-o com cuidado, só para marcar posição, para nos mostrar a todos que era mesmo capaz de o fazer, infelizmente o telefone saltou da capinha e a tampa de trás abriu-se, e o homem, claramente arrependido, pegou no seu querido telefone e com olhos tristes e aflitos tratou de voltar a encaixar todas as peças, para de imediato voltar à conversa, que esteve suspensa durante o massacre do telemóvel, "eh pahhhh, eh pahhhh" "porrrrrrrrrra, porrrrrrrra", aquele porra que carrega nos erres, "só me telefonas para discutir". E eu ainda estive tentada a gritar lá para o outro lado que ela estivesse descansada, que ali no Continente ninguém queria o homem baixinho, com o fato de treino preto e pés pequenos, mas achei que era capaz de dar mau resultado, de piorar a situação lá para o lado dele.
Que personagem!
ResponderEliminarÉ verdade!
EliminarTu aguentaste-te sem rir disso? Eu nem me aguento sem me rir (alto) numa sapataria com sapatos foleiros.
ResponderEliminarEstava tão atenta, para não perder nada do drama que ali se desenrolava, que nem tive tempo para rir! :DDDDDDDDD
EliminarUm pedaço de mau caminho omo o que descreves tem de ser bem controlado, não vá alguma lambisgóia roubá-lo.
ResponderEliminarA sério... tanta energia desperdiçada... :DDDDDDDDDD
EliminarIsto é uma espécie de análise sociológica?
ResponderEliminarOlha... deve ser! :D
EliminarAhahahahahahahahahahahahahahah, Palmier, daqueles assim tipo "gordurosos"????
ResponderEliminarEra péssimo... fiquei a perguntar-me como raio podia suscitar tamanha ciumeira... :D
EliminarEntão, se calhar também se não fosse ele a pegar nela... :)
EliminarMesmo assim! A sério... :DDDDDDDDDDDDDD
EliminarO que me ri...
ResponderEliminarMas se calhar a senhora ao ouvir uma voz feminina, ia piorar ainda mais a situação do homem.
Era bem capaz, era! :DDDDDDDDD
EliminarAinda acabava junto com as acendalhas!
Ahahah! Não sei se gostei mais do relato da figurinha se da tua confissão " e eu a mandar calar os meus filhos, que queria ouvir a conversa, e eles a perguntarem "o que é?, o que foi?" e eu a fazer-lhes olhares, e a dizer "schhhh!" e a fazer sinalefos com a cabeça, a apontar para o homem"
ResponderEliminarDe mais!
São tão boas, estas conversas! Uma pessoa não pode perder estes achados! :DDDDDD
EliminarEstou a formular uma tese sobre os efeitos do Sul na vontade de começarmos a ouvir conversas dos outros e assim. Quando chegar à parte das conclusões aviso-te :)
ResponderEliminarÉ como a questão da betoneira... é mais forte do que eu! :DDDDDDDDDDDDD
EliminarE que interessa esta banalidade ? fiquei cansada mas li tudo só pra ver se havia qualquer coisinha. A publicidade ao continente fica-lhe a matar.
ResponderEliminarLamento imenso tê-la entediado.
EliminarSe quiser também posso fazer publicidade a outros: Jumbo, Jumbo, Jumbo. Pingo Doce, Pingo Doce, Pingo Doce. Lidl, Lidl, Lidl.
Melhor assim?
Ó amigo(a), será a única pessoa que ainda não reparou que a Palmier não precisa (abomina) de publicidade para nada?
EliminarNão é a Palmier, é o Continente, amigo(a) !
EliminarLOL, eu estva lá! : -)
ResponderEliminarE não te calavas nem por nada! :DDDDDDDDD
EliminarUm pouco exagerada não? :D Eu ouvi-o primeiro!!!!
Eliminar:D
EliminarMas afinal o homem tem um blog ou não?
ResponderEliminarIsso é que é verdadeiramente importante, caramba....
Para a próxima pergunto-lhe! :DDDDDDDDDDDDDDD
EliminarPfffff não se pode contar contigo para nada, é o que é.
EliminarOlha a sorte do baixinho ter os eh pahhs dele num post tão bom. Sempre é capaz de compensar o azar de não ter sido dotado pela mãe natureza, sei lá...
ResponderEliminarBoa Páscoa, Palmier. :-)
Boa Páscoa, Susana :)
EliminarBolas, faltou uma informação fundamental : qual o toque que o senhor tinha no telefone... Também me espantou a falta do tinto, mas se calhar o hiper estava com alguma ruptura de stock.
ResponderEliminar:DDDDDDDDDDDD
EliminarNão sei... só dei conta já ele estava em amena cavaqueira... se calhar era a voz "dela" a perguntar "Onde estás? O que estás a fazer?"
O seu post lembrou-me o da Ana de Amesterdam, adoro ambas :)
ResponderEliminarBeijos
Obrigada, um elogio para mim :))))
EliminarTenho estado fora mas, já tinha saudade destes relatos!!! Uma delícia!! (quanto á parceira, há mulheres muuuuuito chatas)!!
ResponderEliminar:))))))
EliminarC,
ResponderEliminarPeço desculpa mas não vou publicar o comentário, porque nem o Continente é o Continente a que se refere (este era mesmo o do Belmiro, onde se fazem compras, era mesmo real, nada disto é ficcionado), nem o filme que fez, que muito apreciei, por ser deveras imaginativo, tem qualquer coisa que ver com a realidade. Ainda assim, saiba que é sempre muito bem vinda e que, não sendo a pessoa do talho, tenho todo o gosto em dar dois dedos de conversa.
*Não sendo eu
EliminarCombinado! Fico à espera :)
EliminarBoa Páscoa também para si.
Na volta, seria a mãezinha, lol.
ResponderEliminarAhahahahhahahahahahahhahhahahhahahahahahahahahhahahahahhahaahhahahahahahahhahahahahahhahahahahahahhaha
EliminarNão coloquei essa hipótese, mas, vai na volta... :DDDDDDDDDDDDD
Amei! Obrigada.
ResponderEliminarNão temos todos que ser Deuses gregos...Ainda bem que aquele homem têm alguém que sente ciúmes dele. É sinal que mesmo não tendo as medidas standard, há alguém que o ama.
ResponderEliminarFosse eu um Deus grego, ou não, dispensaria em absoluto uma cena de ciúmes desta magnitude...
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