Que só não suplicaram por escrito por serem extremamente tímidos, deixo, então, breve relato da minha aventura presidencial.
Ontem há hora marcada, dirigi-me a Belém. Deparei-me com uns guardas muito aprumados, que, desconhecedores dos milagres da tecnologia, não se apreceberam da minha câmera oculta e, displicentes, mandaram-me avançar.
Acedi, então, ao interior du palais. Uma vez lá dentro, corri pela rampa acima em grande velocidade, dando alguns saltos de gazela pelo meio (apenas para confirmar a capacidade de reacção dos referidos guardas). Verifiquei que ficaram imóveis. Senti-me, então, mais segura para prosseguir com os meus intentos.
Cheguei, finalmente, ao palais propriamente dito a arfar (tendo em conta o despropositado esforço físico a que me sujeitei segundos antes) pisando, então, a passadeira vermelha. Chegada ao topo da escada, agradeci com acenos a todos os que assistiam à minha entrada, só me apercebendo depois que, ao contrário do que esperava, eram seguranças que ali se posicionavam e não os meus habituais fãs.
Passei, então, nesta famosa sala. A conhecida sala do Gnomo do Presidente. O Gnomo, muito perigoso e bem treinado, sai do seu esconderijo a mando do Presidente e pode, ou não, atacar, consoante as ordens que lhe são gritadas pelo seu dono. Como não sabemos se o gnomo vai ou não aparecer, devemos ser muito cautelosos nesta travessia.
De seguida, passámos à cerimónia. Posicionei-me na retaguarda, de forma a poder observar devidamente o meu campo de batalha e acertar os últimos detalhes do meu plano. Enquanto Marie discursava lá à frente, tive oportunidade de verificar que o casal que se diz pobre e reclama a atribuição do rendimento mínimo, tem a casa repleta de objectos de ouro. Fiquei deveras chocada com tal situação e, como tal, tratarei de passar essa informação à Segurança Social...
De seguida, cruzei-me com diversos cúmplices do casal. Todos eles sobrevivendo à custa do Estado e claramente à dependentes do Rendimento Social de Inserção...
Terminada a cerimónia, dirigi-me ao exterior. Aí, e para parecer muito à vontade, intrometi-me em várias conversas, sendo que os convivas me olharam de modo estranho. Atribuí esse olhar a uma certa inveja da minha joia bolo-rei. Apesar disso, não me acanhei. Continuei a acercar-me dos vários grupos, num estilo muito profissional. O estilo penetra. Chegava, abanava a cabeça com um ar entendido, dava uma gargalhada mesmo que não viesse nada a propósito e afastava-me, saltitando, para o grupo seguinte. Falei em inglês, francês e mais umas línguas que não conheço. Mas, falei sempre. Estava imparável. Os níveis de autoconfiança encontravam-se ao rubro. Audaciosa como nunca. O olhar de lince sempre à procura do alvo…
E, eis que, de repente, mesmo à minha frente, estava Marie. Impecável no seu moderno saia-casaco. Aí, estuguei o passo e concretizei o meu plano. Subi para uma cadeira e relinchei. Relinchei três vezes com muita convicção.
Não tenho quaisquer recordações do que se passou de seguida. Acordei hoje de manhã neste bonito jardim, com um enorme galo na cabeça. Estou em crer que fui atacada pelo gnomo presidencial com uma vigorosa paulada na nuca. No entanto, sacudi a poeira e fui à minha vida com a extraordinária sensação do dever cumprido.
Presumo que tenham tido conhecimento de tudo isto no Jornal da Noite de ontem...
Os relinchos devem ter soado bem no Palácio. Os cavalos dos GNR não responderam?
ResponderEliminarFoi terrível. Não nos deram oportunidade de entabular uma conversa... :)))
EliminarAs fotos estão boas, o texto está excelente com um argumento objectivo, ritmo e um sentido de humor subtil, no cômputo geral uma publicação muito boa... porém, não posso deixar escapar uma pequena referência crítica:
ResponderEliminarentão, nem uma gravaçãozita de voz, um vídeozito mesmo pequeno que fosse, nada? seria a cereja no topo do bolo. quase imperdoável.
:))
(vá lá, mesmo assim mereces os parabéns)
Nem imaginas... Eu tinha preparado uma grande produção (com três câmeras a filmar em simultâneo de forma a acompanhar a minha actuação de todos os ângulos)! Acontece que o gnomo me confiscou o material. Parece que agora tenho de dirigir um requerimento à Presidência da República para me devolverem as coisas. No entanto, já fui avisada que vão apagar o filme... Terei de esperar por uma próxima oportunidade... Tendo em conta o sucedido, devem estar ansiosos por me terem lá outra vez :))))
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