A pessoa acorda de manhã, já atrasada (como acontece, aliás, em qualquer outra manhã de sua vida. Nada de novo, portanto). Tem de atravessar a cidade em racing. Fá-lo exemplarmente, já que hoje foi dia de apanhar os sinais todos verdes (há dias em que os sinais estão todos encarnados. Nunca há dias em que os sinais se alternem entre si). A pessoa pensa que, apesar do atraso, vai conseguir apresentar-se a horas na escola de filha. A pessoa começa mesmo a esboçar um sorriso de vitória. Isto até encalhar atrás da camioneta da… Loba, Peúgas e Collants.
Aí, todos os preciosos segundos que conseguimos poupar com os sinais verdes, se esvaem como areia por entre os dedos (que hoje estou poetiza). O sorriso que arvorava a nossa face, desaparece sem deixar rasto. Vem-nos à mente aquele momento em que fizemos obras em casa e o empreiteiro nos mostrou, com orgulho, os roupeiros (amplos closets, na realidade), dando especial ênfase à gaveta que, ele próprio, tinha já destinado para os nossos peúgOS. Aliás, durante a obra, o empreiteiro, referiu-se profusamente aos nossos peúgOS. Estou em crer que o empreiteiro tinha um fetiche com peúgOS. A par com a palavra peúgOS, o empreiteiro utilizava, amiúde, a palavra estereotomia. Em todas as frases ele encaixava a palavra estereotomia. Tudo era dotado de uma estereotomia muito particular. Na realidade o empreiteiro era, tal como eu, um poeta! Claro que, com toda a poesia, a obra demorou o dobro do tempo e custou o dobro do orçamentado. Mas, olhemos para o lado positivo! Tivemos oportunidade de conviver com um artista do betão, uma mente sensível e um talentoso artesão. Um Miguel Ângelo do ladrilho, portanto.
Aí, todos os preciosos segundos que conseguimos poupar com os sinais verdes, se esvaem como areia por entre os dedos (que hoje estou poetiza). O sorriso que arvorava a nossa face, desaparece sem deixar rasto. Vem-nos à mente aquele momento em que fizemos obras em casa e o empreiteiro nos mostrou, com orgulho, os roupeiros (amplos closets, na realidade), dando especial ênfase à gaveta que, ele próprio, tinha já destinado para os nossos peúgOS. Aliás, durante a obra, o empreiteiro, referiu-se profusamente aos nossos peúgOS. Estou em crer que o empreiteiro tinha um fetiche com peúgOS. A par com a palavra peúgOS, o empreiteiro utilizava, amiúde, a palavra estereotomia. Em todas as frases ele encaixava a palavra estereotomia. Tudo era dotado de uma estereotomia muito particular. Na realidade o empreiteiro era, tal como eu, um poeta! Claro que, com toda a poesia, a obra demorou o dobro do tempo e custou o dobro do orçamentado. Mas, olhemos para o lado positivo! Tivemos oportunidade de conviver com um artista do betão, uma mente sensível e um talentoso artesão. Um Miguel Ângelo do ladrilho, portanto.
Com tudo isto, claro que cheguei à escola de filha já passava das 9h30. À chegada, uma mãe que vinha a sair, disse-me num sorriso malévolo: hãhãhãhãhãh, hoje estávamos atrasadas e a Maria disse-me que, com certeza, íamos chegar depois da XXXX (nome de filha)… Mas eu disse-lhe que não… hãhãhãhã…, que, com certeza, íamos conseguir chegar antes….
Como se fosse, realmente, impossível chegar depois de filha! A cabra (atenção que a palavra cabra é aqui utilizada como uma metáfora poética que nos remete para o mais puro que a natureza tem para nos oferecer) que não se ponha a pau que eu, amanhã, lanço-lhe a camioneta da Loba (lá está, novamente a metáfora da natureza) – peúgas e collants, só para ver se ela gosta!
Vá lá que o empreiteiro não se lembrou da gaveta para as cuecas e fios dentais, ou a conversa ainda teria descambado, e com a queda dele para o intelectual, lá se ia parar ao Miller e à Anaïs Nin
ResponderEliminar..há um vocabulário paralelo muito interessante de se explorar.. o meu empreiteiro (sim porque todos nós a determinada altura da nossa vida já tivemos um empreiteiro, e ele torna a remodelação, como foi o meu caso, da casa de tal forma pessoal que a determinada altura chegamos a achar que aquele é realmente o nosso empreiteiro pessoal, e depois chamamos-lhe assim) dava-lhe para conjugar a 3ª pessoa do plural, de qualquer verbo, sempre no imperativo, ou no conjuntivo desde que fosse futuro e aí acertava, exemplo:
ResponderEliminar"..tenho uma data de clientes que ainda não me pagarem o que me devem"
"estou aqui há meia hora à espera e ainda não trouxerem o material, aquela malta é tramada"
..e sabes o mais engraçado, é que fim de algum tempo já eu falava da mesma forma, mas só com ele... um pouco como acontece quando vamos de férias para o alentejo, ou algarve, por exemplo, ao fim de alguns dias já pegámos ali uma pontinha da pronúncia local..
:DD