Não, não é um post sobre o dia de Maman

Há uns anos atrás (poucos que ainda sou uma jovem adolescente), quando se preparavam para o meu nascimento, Maman levou para a maternidade, para além dos seus objectos pessoais, uma mala de roupinhas de bebé. Acontece que, ao abri-la e perante o seu conteúdo, ninguém diria que eram as roupas para o aguardado recém-nascido que aí vinha.

As roupas eram de cor... tcharan... PRETA. Vejam com os vossos olhinhos:

Pois. Papai dera ordem contra os cor-de-rosa, amarelo canário, ou suaves azuis e insistira num look gótico-uderground para a sua querida bebé (eu própria, portanto). Papai, que se encontrava ausente de Portugal, deixara também instruções para o nome de seu baby. Se fosse rapaz, chamar-se-ia... tcharan... Lúcifer. Nome bué da fixe porque é o nome do... tcharan... Diabo! Imaginam o alívio das famílias de Maman e Papai ao avistar o meu pipi? Pois... tudo (mesmo tudo) é melhor que Lúcifer (confesso que ainda há noites em que acordo sobressaltada com a possibilidade de ter uma pilinha e de me chamar Lúcifer....). Havia, também, uma alternativa algo estranha para o caso do Baby ser uma menina. Acontece que, face a Lúcifer, todos os nomes são, simplesmente, maravilhosos, pelo que, me foi aplicada a alternativa.

Conforme disse, Papai encontrava-se ausente de Lisboa, pelo que Maman teve de lhe escrever uma carta a comunicar o nascimento de sua baby, cujo conteúdo reproduzo: "Já nasceu a bebé, está tudo bem e registámo-la com o nome que querias. E, depois, acrescentou, num acesso de extrema franqueza: "Tem muito cabelo e é muito feia. Parece (sic) uma macaquinha". 

É portanto este o relato do meu nascimento: Uma bebé vestida de preto, com um look extremamente gótico-underground, um nome alternativo, muito cabelo e tão feia que se diria ser aparentada com um símio!

Ainda hoje agradeço a meus pais esta minha entrada no mundo já que, sendo impossível piorar, as expectativas eram excelentes e, a partir desse momento, seria sempre a melhorar (pensava eu)!

Com Maman e sua baby já em casa chegou o papel da Conservatória do Registo Civil onde estava escrito, preto no branco, o nome extremamente alternativo de sua baby. No entanto, nada havia preparado Maman para o choque de ler no referido papel um detalhe de extrema importância. Também aí, estava escrito, preto no branco, que a baby de Maman era do sexo: MASCULINO.

Ora Maman, ruborizada com tal erro, abalou, de imediato para a Conservatória do Registo Civil com o objectivo de repor a verdade dos factos. Levou-me com ela para o caso de ser necessário exibir o meu pipi como prova das suas alegações. Felizmente, não foi necessário a exibição de pipi (pois que, por esta altura dos acontecimentos, já me encontrava suficientemente traumatizada com este tratamento tão pouco digno da minha pessoa). Bastou a declaração do hospital a atestar a existência de pipi. No entanto, Maman não se livrou de ser insultada pela senhora da Conservatória pela escolha absurda do nome para a pobre criança, "tadinha", que não tem culpa nenhuma e é tão linda (apreciei de imediato esta pessoa de extremo bom gosto) e depois põem-lhe este nome que nem se sabe se é rapaz, se é rapariga!

As coisas acalmaram até ao meu ingresso na escola e, a partir daí o meu nome continuou a proporcionar-me alegres momentos de confusão (que, um dia destes, vos contarei). Acontece que, ao longo da minha vida, em Portugal, só tive oportunidade de conhecer uma pessoa com o mesmo nome (extremamente absurdo) que eu pelo que, se o revelasse, ficaria impedida de aparvalhar aqui à minha vontade, porque (e essa é mais uma das desvantagens do meu nome) eu seria, inevitavelmente, eu...

P.S. Apesar de tudo isto, gosto do nome. É um bom nome. Quis, inclusivamente, passá-lo a filha. Infelizmente, marido afirmou não se sentir à altura de lidar com duas...