A Maria Sangrenta

A Maria Sangrenta entrou ontem nas nossas vidas. Tudo começou na escola, quando o meu pobre filho, entrando atrasado na aula de desenho, foi obrigado a ficar na mesa das meninas. Pois que a conversa se desenrolava em volta dessa Maria, a Sangrenta. Tudo cheio de detalhes e com descrições pormenorizadas como só as meninas sabem fazer. A história da Maria que aparece à meia-noite com duas facas cravadas na cabeça, um fantasma no feminino que tem sangue a escorrer dos olhos e mata sem piedade. E o problema, é que as miúdas são tramadas e deixaram-me o meu pequeno e ingénuo Skylander em pânico. A noite passada, depois de ter acordado cinco ou seis vezes, acabou a noite a dormir na nossa cama. Até que não correu muito mal já que o rapaz que não costuma parar quieto, estava com um medo tal de ser expulso para o local de origem que nem se mexeu. Hoje a saga continua. Foi para a cama. Chamou quatro ou cinco vezes. Apareceu pé ante pé na sala com os olhos vidrados de aflição. "Mãe... não te rias... se fosse contigo também estavas cheia de medo!". E tem razão, que eu lembro-me bem do dia em que me armei em forte e vi um filme de terror com uma bruxa que tinha umas unhas enormes e amarelas e, no fim, andei uma hora a correr atrás da minha mãe. O apogeu deu-se quando ela apagou a luz da sala e, farta daquela cena, me fez búúúúú! E eu até chorei, ali, junto ao interruptor, agarrada às pernas dela. Agora o Skylander está aqui ferrado no sofá e eu... eu estou a pensar em como é que o vou carregar para a cama sem que o raio da Maria Sangrenta acorde das profundezas para nos matar a todos através do conhecido método da vigília eterna...