quarta-feira, 10 de abril de 2013

A sério que não percebo…

Este "pó" súbito e intenso à Joana Vasconcelos. Ok., não pinta a óleo nem esculpe em pedra, não são obras escuras e tenebrosas, difíceis de entender, com múltiplas leituras ocultas mas…  já olharam bem para os Corações de Viana feitos em talheres de plástico? Para “A Noiva”, o lustre de tampões que é mesmo bonito? Para o bule gigante em ferro forjado? Para os sapatos de panelas? A flor de ferros de engomar? Claro que não... o Lobster phone do Dali é que é bom! É Surrealismo, pois então! E o Surrealismo, como toda a gente sabe, está cientificamente comprovado! Arte que é arte, tem de se inserir numa corrente, tem de ser coisa séria, profunda e meditativa… não pode ter cá sentido de humor. Sentido de humor?! Não! Nunca! Brincar com a arte?! Mas o que é isso? Quem se atreve?
A sensação que tenho é que, de repente, a Joana Vasconcelos já não é boa porque tem o agreement do regime. Porque vendeu uma peça para o Eleven, esse restaurante de luxo, essa coisa do demo! Para um hotel em Troia… uhhhh hotel de cinco estrelas?! Vade retro! E artista que é artista, artista que se preze tem de ser pobre e andrajosa. Faz-me lembrar o "pó" dos anos ’90 à Paula Rego, essa pintora que vejam bem… pintava quadros com figuras de caras feias! Ah… que grande horror! De certezinha que não as sabia pintar bonitas… coitadinha… não devia ter “jeito” para o desenho…  É que arte que é arte tem de ter caras bonitas! Princesas, mesmo, com tiaras e anéis…  de preferência tão bonitas como as meninas do Velasquez que, com toda a gente sabe, eram belas como a aurora boreal.
Se calhar, para ser arte é necessário que esteja emoldurada (de preferência numa moldura de talha dourada?) e pendurada numa parede ou, no limite, em cima de um pedestal?
Nem vou falar sobre o reconhecimento internacional da Joana Vasconcelos porque não é isso que faz dela uma grande artista. O que faz dela uma grande artista, uma artista com uma imaginação prodigiosa, com uma criatividade rara, um sentido de humor delicioso e uma capacidade de fazer acontecer são, simplesmente, as suas obras.
Pronto... tenho dito!

24 comentários:

  1. OMG!! I think I have a girl crush on you! Now what??!! :D Creepy!!...

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  2. Cara palmier, aquele sapato feito de panelas - humpfff! - não é sequer compensado! Não pode ser arte!

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  3. Ainda não me dei conta do "pó" à Joana VAsconcelos. Eu também adoro todo o trabalho dela.

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  4. Se calhar é uma questão simples de inveja, esse sentimento tão nosso.
    Como neste blogue, por exemplo, onde tantas vezes se sente a inveja de outros blogue(r)s...
    Ou, nesse caso, já é, sei lá, simplesmente ironia?

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    1. Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
      Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
      Inveja de outros blogues/bloggers? Aqui??
      Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
      Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahah
      Obrigada pela gargalhada :)

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  5. eu adorava ter uns sapatos em panela em versao mini, no quarto. juro. acho-os lindos! e uns coraçoes tb marchavam. ha peças com as quais me identifico menos porque a arte é subjectiva mas acho um deslumbre como aquela cabeça concebe aquelas peças com aquela matéria prima. Mesmo

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  6. Pó d´ inveja...digo eu!
    Cá no burgo, infelizmente, ao invés de se invejar o sucesso do outro e fazer melhor para o alcançar também, inveja-se o sucesso desejando o mal do outro ou denegrindo-o...
    Ainda por cima a Joana está viva...ainda se fosse uma artista morta...aí é que toda a gente diria "sim senhor! grande artista que era!"
    P.S. - Ó Joana, se por acaso ler isto, veja que eu a desejo viva e bem viva!
    Tenho até aqui uma colecção de tampas de tachos, muito jeitosas no género, que já não me servem para nada (os tachos perderam-se na bruma dos tempos) e que lhe cedo com o maior dos gostos, para uma qualquer obra que pretenda fazer!

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  7. A obra da Joana Vasconcelos nada tem de original ou significante. Segue uma fórmula matemática (daí o tal agreement? Ahah!): trocadilhos visuais (fraquinhos, fraquinhos) + portugalidade kitsch + marketing harassment vão à Bimby e temos artista!
    No fundo, não difere muito da nossa Pipoquinha em que nós tanto cascamos; ambas sabem vender-se melhor que os pães de deus do Zé Diogo Quintela.
    Como li hoje no @RadarSAPO: "Era tão genial se a Joana Vasconcelos estivesse afinal a filmar um mockumentary sobre a parolice portuguesa durante estes últimos anos." (tweet de Pedro Alves Guerreiro) Se era!...

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    1. Hum... não posso concordar. Porque é que não tem nada de original (onde é que já viu igual ou parecido?) ou significante (porque não?)? Quanto aos materiais sim, têm como base objectos que encontramos (ou encontrávamos) em Portugal. E daí? Ela é portuguesa, vive em Portugal, "brinca" com esses materiais (e, a meu ver, muito bem). Porque é que isso tem de ser mau? No fundo, a linha condutora do trabalho dela passa por descontextualizar objectos que usamos no nosso dia-a-dia e dar-lhes escalas diferentes. E isso, não me parece uma fórmula matemática. Chamar-lhe-ia antes um fio condutor. Todos os artistas têm um fio condutor que vai ligando os trabalhos entre si. Este, é o dela. Não me parece que se juntasse os tais "ingredientes" na Bimby lhe saíssem de lá muitas Joanas Vasconcelos. Ou então, diga-me que modelo de Bimby tem, que eu vou a correr comprar uma :)
      Quanto á parte do marketing, é certo que é bem feito, é certo que tem uma excelente equipa a trabalhar para ela mas, caramba, se não houvesse obra para o sustentar, não tinha tido o sucesso que teve em Paris. É que, essa coisa do marketing (sem sustentação) só funciona cá em Portugal... Desde os primeiros cães de loiça que eu gosto do trabalho dela (muito antes do tal marketing)...
      É sempre fácil criticar obras de arte depois de elas estarem feitas... o tão célebre "isto, também eu fazia". Pois é... mas ninguém tinha feito...

      Por fim, só uma pergunta... quem é o Pedro Alves Guerreiro?

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    2. Diz que "a linha condutora dela passa por descontextualizar objectos que usamos no dia-a-dia". Onde é que eu já vi isto? Duchamp, o grande precursor! Pegar num vulgar urinol, virá-lo ao contrário e proclamá-lo fonte, assinatura R. Mutt! Estavamos em 1917 e tal obra nunca chegou a ser exibida na Society of Independent Artists... O júri e os críticos não entenderam a novidade, desconstruam-se!, reinventem-se!, o mundo está em guerra e já nada é o que era porque os olhos que vêem também já não o são!. Estamos em 2013 e o que tinhamos a dizer sobre (n)este tipo de readymades, já Warhol e as suas latas Campbell e caixas Brillo disseram por nós. E melhor. Depois a Palmier continua, "e dar-lhe escalas diferentes". Podia falar de Magritte ("The Philosophy in the Bedroom", p.ex.) mas falo antes de algo em 3D e hiperrealista: as obras de Ron Mueck (curiosamente, genro de Paula Rego) em que ele agiganta o medo, diminui a mesquinhez. Nada de novo, certo?
      Mas ah!, o sucesso em Versailles! Já dizia Mário de Sá-Carneiro que "estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo..." (E o Diogo Morgado que já anda a morfar cachorros quentes com a Oprah?! Ah pois é! Deus pode ser brasileiro e o Papa argentino... Mas o "hot Jesus" é nosso, caramba!)

      Não sei quem é o Pedro Alves Guerreiro, só sei que é alguém que tem conta no twitter onde debitou tal sentença.

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    3. Até já estou nervosa :)
      Tenho de ir pôr os meus filhos a dormir e já cá volto ;)

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    4. Pronto, não se fala mais nisto!
      Bora enrolar catálogos da Zara e combinar um duelo no Grémio? ;)

      (E um beijinho à Joana.)

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    5. Nã, nã! Nem pensar! O duelo no Grémio fica para amanhã. Hoje ainda tenho coisas para dizer! :)
      O Duchamp pegou num objecto do dia-a-dia e descontextualizou-o.
      O Warhol pegou num objecto do dia-a-dia, descontextualizou-o e multiplicou-o.
      O Ron Mueck pegou na figura humana e agigantou-a.
      A Joana Vasconcelos pegou nos objectos do dia-a-dia, descontextualizou-os e dando-lhes forma (os Corações de Viana são os mais exemplificativos) agigantou-os. Tornou-os noutra coisa. No fundo utilizou os objectos do dia-a-dia como material de trabalho. Nenhum dos três artistas anteriores fez isso.
      Há diferenças entre todos eles. A questão que coloco, é "Porque é que este fio condutor é válido para os três primeiros e inválido para a JV?"
      Quanto à exposição de Versalhes, disse no texto que, para mim (que não sou entendida nestas coisas das artes, mas uma simples interessada), não é isso que faz dela uma excelente artista. No entanto... ah... no entanto... um milhão e duzentos mil visitantes em três meses... até dá para ficar maluquinho! Seja em Paris, seja no programa da Oprah :) (Quando o descobrirem mascarado de Salazar, é que vai ser pior :D)
      Pronto... então até amanhã, com os catálogos, à porta do Grémio! :DDD




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  8. concordo em tudo com este texto
    e mais é mulher, caraças quantas mulheres vingam no mundo das artes??
    poucas, devia ser um orgulho... digo eu

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  9. Basta ver o numero de visitantes q a exposição ja teve. Milhares de pessoas!
    Só prova q é uma artista aclamada pelo público português.

    Rita

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  10. Não faz mal falarem mal, desde que falem. Mal consiga ter tempo vou ver a exposição.
    Para também poder dizer mal, claro!

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  11. Nós por cá estamos num outro patamar de cultura e tenho a mais nova (9 anos) curiosa com a exposição desde que a viu no telejornal, o que a chamou a atenção são as peças em croché assim como as de utensílios de cozinha, o pior da coisa é que achamos os bilhetes um pouco carotes...4 pessoas é uma nota preta, imagino as despesas da exposição mas fico a pensar se o valor assim elevado não será para selecionar publico e só atingir uma determinada classe :(

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    1. Os miúdos adoram. Fomos duas vezes ao CCB - Fundação Berardo (grátis)...
      Porque é que não sugeres à escola dela uma visita de estudo ao Palácio da Ajuda? De certeza que têm programas especiais para escolas... (a da minha filha já tem a visita marcada...)

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  12. ahahahah

    É mera questão de gosto, Senhora...)). Pessoalmente não valorizo a obra da Moça e custa-me que sejam os contribuintes a pagar grande parte daquelas... Sei Lá, daquelas 'coisas' ))

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    1. Eu percebo isso... também há artistas que não "gosto" tanto, que isso do gostar é ligeiramente subjectivo ;). No entanto consigo dar valor ao conjunto do trabalho mesmo que não vá de encontro ao meu "gosto" pessoal.
      Quanto ao pagamento de Sei Lá... (:D) daquelas coisas... por parte dos contribuíntes, desconfio... desconfio mesmo... que no fim, feitas as contas do número de bilhetes vendidos, será dos poucos bons negócios que faremos este ano... ;D

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    2. (ah... e esqueci-me de dizer... ainda bem que voltaste ;) )

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