Eu podia contar-vos…

Que num destes dias fui a uma dessas lojas de roupa de criança muito blogo-badaladas… é por demais evidente que esta minha deslocação não foi fortuita e que se deveu, apenas e só, ao cumprimento de uma perigosa missão da minha nova empresa: A Deco-Blog Teste. 
Para realizar esta primeira empreita de relevo, disfarcei-me de mom-hippie-chic-sparkling-blazé, peguei nos meus filhos e como uns verdadeiros clientes "mistério", fomos averiguar as maravilhas que nos anunciam. Enquanto cirandava pela loja, os meus filhos, quais gorilas selvagens e indómitos, resolveram saltar em cima de um picolo-sofá-de-design que fazia parte do mood da loja, sendo que os lojistas supé, supé, observando a situação com um torcer de nariz desgostoso diziam simultâneamente e de forma condescendente que não tinha mal que, afinal, eram crianças…; ora todos nós sabemos que crianças a saltar sobre picolos-sofás-de-design é coisa que tem muito mal e, esquecendo momentânea e totalmente o meu disfarce mom-hippie-chic-sparkling-blazé, gritei em voz de militar de carreira o meu primeiro “em pé, direitos, não mexe, não fala, não toca em nada!”. Acalmadas as hostes e enquanto os meus lindos filhos batiam continência, peguei nalgumas peças de roupa, vamos dizer que foram para aí umas cinco e, para testar em casa a qualidade dos tecidos e resistência às lavagens, dirigi-me à caixa para pagar. Aí chegada fui abordada por lojista supé, supé, com o seguinte comentário:

- Ah… que engraçadoooooo… tudo o que escolheu é da colecção do ano passadoooooooo!

Perante tão nefasta constatação, respondi rapidamente que eu era uma pessoa orgulhosamente anacrónica e démodé e que, tal coincidência era, portanto, extremamente natural. No entanto, e para uma experimentada CEO da Deco-Blog Teste, senti imediatamente que a minha missão ultra secreta estava em risco e, para minorar o tempo de presença e diminuir o risco de ser desmascarada, tirei rapidamente um molho de notas da carteira (porque nestas lojas supé, supé, não se usa multibanco, pe’cebe?) e enquanto me abanava com um leque improvisado (porque nestas lojas supé, supé, não se conhece o conceito de ar condicionado, pe’cebe?) vi pelo canto do olho a minha filha a aproximar-se. Sabendo que as coisas estavam prestes a descambar definitivamente, agarrei imediatamente o saco das compras, arrancando-o das mãos do lojista supé, supé na esperança de ainda conseguir sair em grande estilo… acontece, pessoas…, que não me consegui retirar a tempo e que, tudo o que eu temia, aconteceu… a minha filha, com o cabelo todo transpirado e colado ao pescoço, da sauna que todos fazíamos em conjunto naquela loja supé, supé, aproximou-se de mim e coçando a cabeça como só um pequeno gorila sabe fazer, proferiu a seguinte frase:

- MÃE, ACHO QUE ESTOU COM PIOLHOS!

Pessoas… pessoas… “acho que estou com piolhos”?! “A-C-H-O Q-U-E E-S-T-O-U C-O-M P-I-O-L-H-O-S?!”Isto é frase que se diga em ambiente hippie-chic-sparkling-blazé?! Pessoas… pessoas… fiquei petrificada com o saco na mão enquanto observava, em câmera lenta, a minha linda filha a coçar a cabeça como se estivéssemos na secção dos primatas do jardim zoológico. Ainda balbuciei um desajeitado “isso é porque estás transpirada…”, mas o lojista supé, supé, em vez de fingir que não tinha ouvido tal coisa, solidarizou-se imediatamente comigo como só os lojistas supé, supé sabem fazer e, frisando bem a palavra PIOLHOS, respondeu:

- Piolhooooooooos?! Nem imaginaaaaaaaa, as minhas filhaaaaaaaaaas também tiveram imeeeeeeensos piolhooooooooos! E com um gesto cúmplice de mão, acrescentou “É um horrooooooooor não é?”

E pronto, é por estas e por outras que o melhor é não vos contar que, num destes dias, fui a uma dessas lojas de roupa de criança muito blogo-badaladas…