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Domingo é o único dia da semana em que me dedico à culinária. Ao jantar, dirijo-me à cozinha e, com a mestria de um chef, faço um extraordinário prato gourmet: ovos mexidos com salsichas. Um dia destes, tiro uma daquelas fotografias com filtros e dizeres e pranto aqui juntamente com a receita. Posso até acrescentar uns mirtilos e umas sementes de goji para dar um ar mais sofisticado à coisa. Mas, como ia dizendo, no Domingo repeti a experiência gourmet mas a coisa sofreu um ligeiro twist. Apesar da minha vasta experiência na conjugação de ingredientes e no manuseamento da baixela, quando ia tirar os ovos da frigideira aquilo pesou-me na mão e eu achei por bem apoiar a frigideira (saída do fogão e quente p'ra burro), directamente no prato. Ora, nesse exacto momento aconteceu uma estranha e inesperada coincidência... o prato rachou de um lado ao outro. Ora, toda a gente sabe que as regras de HACCP não permitem a utilização de loiça rachada, pelo que peguei imediatamente no prato e, zás, caixote do lixo com ele. Acontece que o prato, apesar de rachado não estava partido, e era um bocado grande... e ficou ali atravessado no caixote, nem para baixo nem para cima e eu, depois de analisar a questão de forma extremamente científica, tirei-o do caixote e, vá de bater com ele para que se partisse em dois e coubesse efectivamente dentro do  caixote. Foi nesse exacto momento que consorte entrou na cozinha e assistiu ao extermínio do prato. Pum, pum, pum, crash. Depois do jantar, pusemos as crianças na cama, tudo normal (achava eu), consorte enfiou-se no escritório de porta fechada com aquelas óperas aos gritos, tudo normal (achava eu), e eu fiquei na sala, tudo normal (achava eu), às tantas ele passa e informa-me que vai dormir, tudo normal (achava eu), ontem de manhã acordei, pequenos almoços, correria para a escola, até logo, até logo, tudo normal (achava eu), fui trabalhar, tudo normal, voltei para casa, tudo normal, consorte chegou a casa, entrou, mirou-me ao longe, disse-me um olá sumido, jantou calado e de olhos baixos como que a evitar um confronto (?), crianças na cama... vem sentar-se no sofá ao meu lado, pega-me na mão a medo e diz:

- Vá... diz lá... o que é que se passa? 

- Hã?! O que é que se passa?!... não se passa nada!?

- Então porque é que ontem estavas para ali a partir a loiça toda?