A Grande Obra - O senhor José Carlos, o meu novo amigo

Já fiz amizade com o senhor José Carlos, o Encarregado. Foi mais forte do que eu. Nas minhas rondas pelo exterior fui-me cruzando com ele, ah e tal, e como vão andando as coisas?; Ah, hoje o camião falhou-nos, só tirámos três carradas de terra, mas amanhã já vem outro que assim não nos livramos disto, a gente começa a mexer na terra e ela parece que cresce; Um dia destes há-de me deixar ir ver lá dentro; Com certeza, é só dizer, atão a senhora não é a dona? Pois sou... mas disseram-me que não podia entrar sozinha e eu não quero que se zanguem comigo...; Ah pois, qu'isto os donos cada vez mandam menos! Mas a senhora diga-me, que eu abro-lhe a porta para ver. E assim foi, ontem o senhor José Carlos abriu-me a porta e foi-me fazendo as honras da casa, foi à frente, ia afastando o entulho com as botifarras, Cuidado com os pregos, olhe aqui os vidros, para aí não, suba por aqui!, Isto agora ainda vai demorar, só lá para o fim do ano é que chegamos lá abaixo para começar a crescer; Só?! Ah pois é, agora vamos desfazendo devagarinho, depois, quando vier a grua, é que isto avança, só aí é que podemos começar a tirar os barrotes do telhado, começamos a tirar o peso lá por cima e vimos por aí abaixo. E eu fui vendo tudo com atenção e, caramba, já tinha assistido à beleza de ver nascer um edifício, mas nunca tinha acompanhado a beleza de ver desfazer um. É que este entrelaçado de tabique e barrotes de madeira é quase tão bonito de ver como o esqueleto do dinossauro que está no átrio do Museu de História Natural, em Londres.

(estou capaz de dizer para conservarem o cofre... para guardar as minhas inúmeras jóias :D)