E então ela entrou, uma mulher à volta dos cinquenta, bonita,
cabelo impecavelmente esticado pelo cabeleireiro, muitíssimo bem vestida, sapatos
e carteira da Avenida da Liberdade, mas a cara fechada, um olhar de
superioridade abrasivo, os lábios apertados num trejeito de desprezo, cumprimentou a
outra que já lá estava sentada com um beijinho solitário, deixando-a pendurada
e de faces ruborizadas, aquelas centésimas de segundos que se prolongam
indefinidamente, aquela hesitação entre o disfarçar ou forçar o cumprimento,
mas a mulher bonita lá fez um esforço lento para dar o segundo beijinho, um
esforço demasiado lento, como que a marcar a hierarquia, depois sentou-se de
lado na cadeira, numa pose estudadamente blasé, a mesma boca crispada, os olhos perscrutadores
a avaliar o ambiente à sua volta em euros, como uma folha de Excel em soma
automática, enquanto falava de generalidades com uma batata quente na boca, a
competição entre as duas a tornar-se palpável a todos os que estavam à volta, a
mulher bonita a tornar-se cada vez mais feia com a soberba a desprender-se-lhe de todos os
poros, a outra a apagar-se perante
aquela manifestação de distinção, até que no fim, a outra, que estava a ficar
para trás na corrida da supremacia do estilo, levantou-se, pegou na sua
carteira também ela da Avenida da Liberdade mas uns bons furos acima, e a mulher
bonita transfigurada em feia, chegou-se para trás na cadeira, como que
atingida por uma bala certeira no coração, e perdeu ali, no instante em que
pousou os olhos na marca da carteira da outra, a sua guerra surda.
sexta-feira, 30 de junho de 2017
quinta-feira, 29 de junho de 2017
Se calhar achou que era uma instalação artística, ou assim...
E então o meu consorte disse que se ía deitar mais cedo, que estava cansado, e eu fui a correr ao quarto preparar a minha poltrona de leitura, que não consigo adormecer se não ficar a ler um bocadinho, para ficar tudo arrumado e não fazer barulho quando ele já estivesse a dormir, voltei para a sala e vi o meu consorte passar para o quarto. Um minuto depois recebo a seguinte mensagem:
quarta-feira, 28 de junho de 2017
A Grande Obra
Porque tenho tido muitos pedidos para a cozinha, ei-la em todo o seu esplendor!
(com sorte ainda recebo um patrocínio da marca da caldeira! :D)
E a casa-de-banho, que está a ficar tãoooooooo fixe!
E agora para a fachada, a grande decisão que inquieta os arquitectos: o mais claro ou o mais escuro?
(é que é uma diferença abismal!)
segunda-feira, 26 de junho de 2017
sábado, 24 de junho de 2017
sexta-feira, 23 de junho de 2017
Infelizmente não tenho uma irmã mais nova, nem mais velha, nem sequer um irmão a quem imputar estas situações menos próprias e não me resta outra opção que não a de desfazer o mito da blogger que não diz palavrões (pronto, Mirone, ganhaste, a taça é tua)
Mas como também quero entrar na corrente, "Títulos do caralhão" iniciada pela Susana Rodrigues e logo continuada pela NM, que isto já se sabe que eu não resisto a correntes, que me passam logo todos os males, quero é participar, dê lá por onde der, que isto as correntes são os novos selos, também eu tenho uma história que não é do caralhão mas é quase.
Estava eu em casa doente, havia de ter uns três ou quatro anos, coisa que calhou na altura em que os meus pais se divorciaram, e vai que tive uma amigdalite, e então a minha Maman pediu a um amigo, médico, para me ir ver a garganta, para ver se era caso de antibiótico, mas caramba, médico era o meu pai, não era um qualquer que me entrasse pela porta dentro, isso é que não! e então ele lá chegou, todo amizade, ah que menina tão linda, mostra lá a garganta, todo cheio de boa vontade, mas eu não estava para ali virada, lembro-me bem que pensei de imediato "olha-me este, a fingir que é médico, quando toda a gente sabe que médico é o meu pai, espera lá que já te digo!", e então fui para a porta da varanda, uma porta de vidro alta, daquelas de correr, e toca de chamar o cão Bock, um pastor alemão gigante e mau como as cobras, toda eu aos gritos, e então o Bock veio, viu-me ali naquele estado e desatou aos saltos de corça do lado de lá do vidro, dentes de fora, baba assassina a escorrer para todo o lado, um Bock totalmente enfurecido, e eu aos gritos para o médico, "se não te vais embora eu solto o cão!", não soltas nada, vá, anda cá, faz ahhhhh, para vermos essa garganta, "ai solto, solto!" e à medida que ele se aproximava eu gritava, abanado a porta, uma frincha já a aparecer, o focinho do cão a resfolegar por ali, "Vou soltar, vou mesmo soltar o cão!", e o amigo da minha Maman já em pânico, a andar de arrecuas para a porta da rua, "não abras! não abras a porta!, que linda menina, tão simpática, abre lá essa boquinha para ver essas amígdalas", e o cão a ladrar e a saltar cada vez mais alto, eu eu a gritar "eu não abro a boca, vou é abrir a porta! ai abro, abro!" E então pus-me a pensar muito, que eu queria mesmo era ofendê-lo, agora a querer ocupar o monopólio do meu pai, estava-se mesmo a ver que estava ali um grandessíssimo mentiroso!, e então pensei, pensei, vou chamar-lhe um nome mesmo feio e cabeludo, o pior que sei, e então, depois de muito esforço, agarrada à porta da varanda, com o cão a saltar por trás de mim, gritei com todas a forças: SEU, SEU... (e a cabeça a pensar, as peças da engrenagem cerebral a ranger, a memória a abrir todos as pastas, a rever todos os ficheiros: como é que é? como é que é mesmo aquela palavra?! Vai Palmier, tu sabes!, tu sabes!, tu diz a palavra mágica que ele vai-se já daqui, e foi então, que a minha cabeça de quatro anos chegou finalmente ao pior insulto jamais proferido em terras lusas) , seu, seu... CARALHOTO!
quarta-feira, 21 de junho de 2017
Está tudo bem
Só que, com a enormidade do que se passou no fim-de-semana, a vontade de escrever foi-se. Escrever sobre o quê afinal? Sobre o tom de cinzento da pintura da fachada, sobre pequena Cutxi, que nem com este calor dispensa um serão passado ao meu colo, sobre o quê? Tudo parece tão estúpido... É que nestas alturas uma pessoa fica de braços caídos, sem acreditar muito bem no que se esta a passar, a olhar para a televisão e a pensar como e que deixamos arder um pais tão pequeno, as suas gentes. As nossas gentes. Como é que os governantes vão para a televisão dizer que, por mais que tenham feito ou estejam a fazer, estão de consciência tranquila?! Eu, que não tomo decisões, que não percebo nada de botânica, nem de florestas, nem de fogos, não estou de consciência tranquila, ninguém de bem pode estar de consciência tranquila quando famílias inteiras foram esturricadas numa estrada.
E pronto, foi por isto que não escrevi, por pudor, porque sou sempre forte, porque não cedo aos sentimentos, porque em 2003, tinha o meu filho meia dúzia de meses, vi o fogo mesmo ali, a subir o vale, e fui virar o carro para o portão, para estar pronta para fugir por uma qualquer estrada...
E pronto, foi por isto que não escrevi, por pudor, porque sou sempre forte, porque não cedo aos sentimentos, porque em 2003, tinha o meu filho meia dúzia de meses, vi o fogo mesmo ali, a subir o vale, e fui virar o carro para o portão, para estar pronta para fugir por uma qualquer estrada...
sexta-feira, 16 de junho de 2017
Lapalissade
Apesar dos inúmeros sinais verticais, daqueles com o círculo
encarnado, de perigo, apesar das lombas, das bandas sonoras, das luzes cor de
laranja intermitentes, apesar
das barreiras a cortar o acesso, apesar dos painéis de sinalização darem indicação
de piso molhado e zona de derrapagem, há quem teime em circular a alta
velocidade pela auto-estrada da soberba, ignorando aquilo que toda a gente sabe: que o caminho acaba
numa parede cega.
quarta-feira, 14 de junho de 2017
Nunca me tinha acontecido
Então ela entrou na sala para a entrevista com um decote daqueles mesmo reveladores, bem bonito por sinal, olhou para mim decepcionada e perguntou ah, vai ser consigo? Sim, vai ser comigo. E então virou-se de costas, voltou ao corredor e reentrou com uma écharpe castamente enrolada à volta do pescoço...
segunda-feira, 12 de junho de 2017
sexta-feira, 9 de junho de 2017
E pronto!
Bem sei que o mal está lá atrás, nas primeiras vezes que lhe
abri a porta e dei dois dedos de conversa, que enfim, achei que não podia
privar a porteira do seu modo de vida, do leva e traz, de lhe acenar com a
cabeça quando diz mal da senhora do segundo, da do terceiro e do quarto,
sabendo de antemão que, quando fecho a porta, vai ao segundo andar dizer mal da
senhora cá de baixo, ou seja, de mim, mas a porteira é uma pessoa solitária,
precisa destes momentos de fel para se manter rija e saudável e a mim não me
custava assim tanto, de modo que a deixava entrar quando ela se abeirava por
trás do murinho do pátio, nunca imaginando que, um dia, o assunto do leva e
traz se focasse apenas nas minhas pinturas, as que ela disse que até eram
jeitosas e finas, mas que aparentemente a atormentam. Agora, para além das
visitas do fim de tarde, ataca a minha auxiliar de roupa e lar durante o dia,
para irem secretamente e em conjunto ver os quadros da doutora, tu já viste isto? Olha este cão, que
feiiiiiio! E a cara dela? Tu já vistes
a cara dela? E põe-se a imitar a expressão da cara da boneca que está na
pintura, E aqui, enfiada com o cão na banheira! Onde é que já se viu uma pessoa
a tomar banho com um cão!? E o rato? Um rato em cima dela, olha bem práquilo, que nojo! e,
danada, agarra no pescoço da minha auxiliar de roupa e lar dirigindo-lhe os
olhos na direcção do rato, para ela não perder pitada: olha! Para que é que ela
pinta estas porcarias?, pergunta indignada. Sim, podia pintar umas coisas
bonitas, os filhos, que são tão jeitosos, o marido, um homem tão bem parecido,
não desfazendo, uma paisagem, mas não, põe-se a fazer isto! E agora, à tarde, sabes
lá, chega a casa, põe-se a pintar e pronto! Como quem diz, uma pessoa dá-se ao
trabalho de a vir visitar, coitada, que ela precisa tanto, e ela nada!
quinta-feira, 8 de junho de 2017
Eu ía escrever uma história bastante dramática sobre uma pessoa que se tinha tornado invisível e não sabia
Mas enquanto estava nisto a minha atenção foi desviada para uma daquelas janelinhas da net que estão sempre a piscar do lado direito do ecrã, uma daquelas janelinhas Alice no País das Maravilhas "buy me, buy me", uma janelinha de um site de roupas daqueles com coisinhas bastante simples, todas elas assim na casa dos quatro dígitos... e depois... ó páaaaaaaaaaaaaaa!... dei com isto:
A sério, pessoas, alguém chame a Pipoca Mais Doce para nos esclarecer! Isto usa-se?!
É que já estou a antecipar um Outono-Inverno absolutamente épico!
quarta-feira, 7 de junho de 2017
terça-feira, 6 de junho de 2017
Moche à Susana
Porque eu também quero mostrar o antes e o depois da minha Natureza, a minha linda Ficus Lyrata, a que estava com as folhas esquisitas, de tal forma que lhe cortei duas, só que a decisão de proceder à excisão das folhas foi muito repentina, se é para cortar é para cortar, e é já!, mas como não encontrei a tesoura, a do peixe, que é mesmo boa, peguei numa faca e vá de proceder à poda, uma folha, zuca, já está, outra folha, zássss, claro que no zássss dei uma facada a uma terceira folha que não tinha nada a ver com o assunto e depois fiquei com aquela cara de olhos muito abertos e cantos da boca para baixo, a olhar em volta da sala, não fosse alguém ter visto o meu acto de hostil contra a planta, enquanto tentava disfarçadamente colar essa terceira folha de volta ao caule, como a minha filha, uma vez, quando era muito pequenina e viu um fio de cabelo meu a cair, pegou nele com todo o jeitinho, com as mãos minúsculas com covinhas de bebé e, muito aflita, disse-me "olha, mãe, é teu", enquanto tentava voltar a pôr-mo de de volta na cabeça, mas dizia eu que a minha Ficus Lyrata sobreviveu aos meus maus tratos e depois de meses de habituação ao seu novo lar, brindou-nos finalmente com uma nova folha. Verde, tenrinha e linda.
Da minha famosa orquídea não posso dizer a mesma coisa, já que, depois de nos ter brindado com um braço de flores, as primeiríssimas da Blogosfera 2017, foi confrontada com uma nova habitante, uma enérgica orquídea gémea, exuberante e de duplos cachos luxuriantes, toda armada em boa, e a minha pobre orquídea de cacho simples com raízes na cabeça não resistiu a tamanho ultraje e acabou por sucumbir à humilhação. E agora está ali, toda enxovalhada e despida de graça, a ganhar forças para provar o que vale.
Depois ainda há aquela questão que me anda a afligir vai para cima de muito tempo: como é que se dá água à nossa jungle caseira durante as férias? Há alguma técnica daquelas muito à frente?! Um Personal Irrigator? Um hotel para flores? Sei lá, qualquer coisa! É que a pessoa toma a responsabilidade de prover aos seus vegetais de estimação, até àqueles a que não tem muita estima, como aquela planta gigante e horrorosa que a minha porteira me ofereceu no aniversário, com umas folhas desgrenhadas e pontiagudas mais umas flores sinistras, encarnadas, que parecem de cera, e está aqui num desassossego, a pensar se vai ter de alugar uma carrinha de caixa aberta para levar as malas, os filhos e a floresta, tudo para a época estival.
sexta-feira, 2 de junho de 2017
Quem inventou este conceito de arraial de fim do ano da escola, com o objectivo de proporcionar momentos de alegre convívio entre pais, filhos e professores
Devia ser punido com pena de prisão até quinze anos.
(estou fechada no carro a recuperar forças)
(Agora que já fiz o meu momento oooooooom, vou voltar a entrar para mais meia hora de martírio)
(mas já volto. Parece que dura até às dez da noite...)
E, como boa blogger, Palmier aproveita este momento alto para vender o Merchandising Blog em Bom
Tatuagens definitivas Blog em Bom, para poder levar o seu selinho para todo o lado
Canecas Blog em Bom para beber o smoothie matinal em grande estilo
Aniquile as suas inimigas exibindo o escapulário Blog em Bom em oiro e pedras preciosas
Ainda hoje teremos almofadas, mochilas, bonés, chapéus de chuva e capas de telemóvel. Não perca tempo, faça já a sua pré-reserva!
quinta-feira, 1 de junho de 2017
Valha-me Deus que ninguém me explicou as regras!
(era suposto renomear sempre Pipoco Mais Salgado?!)
(Eu só não o fiz porque julgava que a corrente não podia andar para trás, ok?!)
(Já percebi... devia ter deduzido, não é? Era um teste, é isso!)
(E agora, vão-me castigar? Retirar o selo? Banir da Blogosfera?! O que vai ser da minha vida, Deus meu?!)
Selinho Blog em Bom (e o tempo que eu demorei para perceber que para pôr a imagem ali ao lado tinha de lhe dar um título...)
E agora, antes que me gastem os blogs todos, informo desde já que estão convocados para este maravilhoso momento de convívio:
https://ladykina.wordpress.com/
https://ladykina.wordpress.com/
http://afacanaocortaofogo.blogspot.pt/
http://ciganomaltes.blogspot.pt/
https://pipocamaispicante.blogspot.pt/
http://diascaes.blogspot.pt/