sábado, 4 de fevereiro de 2012

Era uma vez um dia de praia

Quando era pequena, assim com uns doze ou treze anos, tinha um amigo (que ainda tenho) que adorava (e que ainda adoro). Esse amigo, que tinha mais 4 ou 5 anos que eu e era o meu ídolo.
No Verão, íamos de férias para o Algarve e aí passávamos três meses. Três meses é muito tempo e, portanto, dava para muitas cenas.

Uma das cenas é memorável.

Amigo tinha um colete de salvação rapinado por alguém de um avião. Amigo queria levar o colete para a praia para o usarmos. Amigo fazia sempre tudo o que queria e eu, ia sempre a reboque. Levámos, portanto o colete para a praia.
O dia estava perfeito. Água quente, calor de morte, ausência de vento, praia apinhada de gente.
Chegámos, amigo vestiu o seu colete e fomos a correr para a água.
Acontece que os coletes dos aviões para além do apito, tubinho para encher, etc... (que as hospedeiras nos mostram antes de um vôo), têm uma bolsinha com um pó misterioso (que serve, sei-o agora, para, em caso do avião se despenhar no mar, os meios de salvamento conseguirem localizar os náufragos perdidos no meio do oceano).
Como ia dizendo, corremos para a água, mergulhámos, muito felizes e, eis senão quando, uma mancha AMARELA FLUORESCENTE (o pó misterioso...) começa a alastrar vinda directamente do colete. Ao princípio achámos divertiíssimo e rimo-nos imenso. Acontece que a mancha não parava de crescer. De pequena (assim à nossa volta), passou para uma mancha média, depois desatou a crescer, a crescer até se tornar gigantesca. Passados uns 10 minutos a mancha, repito, AMARELA FLUORESCENTE ocupava a totalidade do mar que banhava aquela bela praia que, dez minutos antes, era perfeita. O mar transformou-se numa massa opaca AMARELA FLUORESCENTE. E não, não estou a exagerar.
Num ápice, apareceram mães de todo o lado, mães  aos molhos, gritos histéricos, a arrancar crianças do mar, a levá-las para a areia, a analisá-las à lupa, a lavá-las com garrafas de água mineral. As crianças choravam de aflição, ouviam-se palavras como radioactividade, nuclear e sei lá mais o quê.
Saímos de fininho da água, esticámos as nossas toalhinhas e ali ficámos... a observar a azáfama de mães, pais, avós, banheiros, cabos-do-mar... Devo dizer que o tumulto foi de tal forma grave que, a páginas tantas, tememos um linchamento público (se, na altura, já houvesse TVI, tenho a certeza que tínhamos sido notícia de abertura de telejornal)...
No entanto, ninguém desconfiou de nós... angélicas crianças inocentes...
O dia perfeito de há dez minutos atrás, tornou-se num dia diabólico, tornou-se no inferno na terra. Famílias inteiras a derreter, todos juntinhos a transpirar, à sombrinha dos chapéus-de-sol. Filhos a suplicar uma ida ao mar. Mães com a voz a tremer a recusar liminarmente tal pedido. Olhares de incredulidade, mar cada vez mais amarelo. Mais ninguém entrou na água o resto do dia e, durante o resto das férias, ouvimos murmúrios na praia sobre o dia em que o mar ficou AMARELO FLUORESCENTE...




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