segunda-feira, 30 de abril de 2018

Fecharam-me no porão sem wi-fi, foi?

Então lá terei de recorrer a métodos ancestrais para saber o que estão a urdir!


Título: Silêncio, minha boa gente! Silêncio, por favor! 
Dim: 100x150 cm
Acrílico s/ tela

sábado, 28 de abril de 2018

É falso, é falso! É tudo falso!


Desde que fui democraticamente eleita sucessora hereditária aos comandos do Aleph, o Navio, decidi que navegaríamos ao sabor da aragem. Içámos as velas, recolhemos o leme e deixámo-nos ir, levados pelos vento dos loucos e pelas correntes mais poderosas dos oceanos, pilhámos paquetes, pescámos sereias e tritões, fomos engolidos pelas piores tempestades do Mar do Norte, rodopiámos no furação do triângulo das Bermudas, chegando mesmo a ser dados como desaparecidos, subimos o rio Amazonas, onde, os bloggers que aderiram aos outfits primavera-verão com tendência floral e ramagens, ficaram perdidos para todo o sempre, confundidos com a vegetação. Para obviar a esta situação de desaparecimentos misteriosos, determinei, por razões de segurança e inspirada na vasta experiência das escolas que levam crianças em visitas de estudo, que a tripulação deveria envergar uma farda. Depois de uma profunda pesquisa nos sites de moda mais destacados, o modelo eleito foi o vestido castanho Handmaid's Tale, anunciado por Pipoca mais Doce. O último grito da moda, portanto. Foi sem dúvida uma excelente medida, a tripulação estava finalmente segura e a salvo, silenciosa e, modéstia à parte, bastante bonita. 

Agora a ex-capitã regressou cheia de sacos da Disney com fatos de Cinderela, de Ariel, de Aladino, de Pocahontas e sei lá mais o quê, e fecharam-me aqui no porão, amarrada com estas cordas e soterrada por todos os vestidos castanhos que havia a bordo. Sinceramente não percebo, uma pessoa preocupa-se, quer fazer o bem e depois dá nisto.

Sempre quero ver quem é que trata da segurança desta gente a partir de agora... 

segunda-feira, 23 de abril de 2018

E então, Palmier, quando te mudas?


Talvez quando receber o carro novo e conseguir escalar para dentro da garagem… sim, escalar. Porque o meu carro, que não é propriamente um desportivo, não entra. Verifiquei isso mesmo este fim-de-semana, perante o olhar estarrecido de um grupo de turistas. Ali estava eu, vrum, vrum, pódérósaaaa,  a sacar do comando, o portão- lindo por sinal - a abrir, os arbustinhos lá dentro a dizer-nos olá e a cintilar à luz do sol, e vá de embicar o carro para o interior, as rodas da frente sobem o passeio, sobem o lambril da garagem e antes das de trás iniciarem a sua subida, raccckkkkcchhhhhhhcccracc, a parte de baixo do carro a arrastar no chão. Lá fiz marcha-atrás, outra vez o raccckkkkcchhhhhhhcccracccckhhh, e os turistas de boca aberta e mão na cabeça, lá cheguei tudo à esquerda - que os degraus são mais baixinhos - para fazer a segunda tentativa, lá pus as rodas da frente, raccckkkkcchhhhhhhcccracccckhhh, lá voltei a fazer marcha-atrás, raccckkkkcchhhhhhhcccracccckhhh, lá fechei o lindo portão, fiz adeus aos turistas e fui-me embora.

Pois que vejamos: a Câmara exige que na reconstrução dos edifícios se façam garagens, o que me parece muito bem, já que todos sabemos o inferno que é estacionar nesta cidade, os cidadãos fazem os projectos de reconstrução com garagem, a Câmara aprova o projecto com aquela garagem mas, depois, o senhor do departamento de acessibilidades, que verifica estas coisas na prática, diz, literalmente – o senhor disse mesmo isto - que se está nas tintas para os carros, se entram ou não, e que só quer saber dos peões, e que, para os peões, os passeios não podem ter inclinação.

Moral da história: os carros não entram nas garagens que a Câmara aprovou...


sexta-feira, 20 de abril de 2018

Assim uma ermster ou hipsmita

Ou seja, uma hipster dos ermitas. Com uma gruta super cool, cheia de tapetes fofinhos, aquecimento central e uma barba bem aparada. Não quero nada ser uma ermita cheia de folhas secas presas num cabelo emaranhado.

Mas tinha de ser uma ermita com algum estilo

Não podia ser assim uma coisa toda desconchavada.

Na verdade, na verdade...

O meu sonho era ser ermita.

(mas não sei porquê, não me deixam...)

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Hello!

Fui ao cabeleireiro pintar o cabelo logo às oito da manhã, que é programa que abomino, mas tem de ser, uma vez que pretendo continuar a enganar toda a gente com a minha incrível juventude de cabelo castanho médio, referência N345, e logo eu que detesto ir ao cabeleireiro hoje quase quis que demorasse mais uns quinze minutos, que me faltavam sete páginas para acabar Os Despojos do Dia e estava mesmo lançada, nem mesmo a voz estridente da senhora das tintas me conseguiu desconcentrar, e, digo-vos, a voz estridente da senhora das tintas é capaz de acordar um urso hibernado a sete quilómetros de distância, mas pronto, por outro lado ainda bem que fiquei com aquelas belíssimas sete páginas para logo à tarde, para quando for levar a minha filha à situação de andar de patins, porque tê-las ali à minha espera também é muito bom.

(agora tenho de ir à procura do filme)

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Diário de bordo

Desde que a Capitã Cuca abraçou uma vida de blogger de sucesso, com corridinhas junto ao rio, lojas e restaurantes gourmet, que fiquei aqui sozinha a tomar conta do navio Aleph. Na sua apressada saída deixou-me apenas um pequeno baú com uma camisa de noite até aos pés, de um branco imaculado, com instruções específicas para só ser usada nos três dias do vento dos loucos e um vale para, em momentos de desespero, chamar Fernando Josué. Á proa do navio, vestida com a camisa de noite até aos pés, com o cabelo num desalinho como é meu apanágio, lutei contra o vento dos loucos durante dois dias e duas noites. Ao fim da segunda noite insone, derreada pela força das ondas e os uivos do vento, desci ao porão, abri o baú, e chamei por Fernando Josué que se materializou numa questão de segundos. Não sabia eu que Fernando Josué era uma pérfida armadilha preparada pela ex-capitã para me obrigar a fazer má figura perante os outros piratas que cruzam os mares.. Fernando Josué, a gaivota, pousou no mastro mais alto do navio e ali ficou durante dias e dias e noites e noites, alternado os seus gritos entre um saco de gatos à luta, um bebé recém nascido com cólicas insuportáveis e infindáveis gargalhadas maquiavélicas. Tentei de tudo, deitei-me no catre sob uma pilha de trezentos cobertores, bati as palmas para afugentar Fernando Josué, escondi-me dentro de um barril de rum mas em lado nenhum estava a salvo dos terríveis sons por ele emitidos. Foi então que decidi jogar-me ao mar. Enchi a minha bóia de flamingo, tapei o nariz e mergulhei de pés no oceano revolto. A última imagem que vi foi esta: Fernando Josué gargalhando vitorioso no cimo do mastro.