quinta-feira, 26 de julho de 2012

Maman, a vítima

Ontem, por volta das dez da noite telefonei a maman, para saber como se encontrava. Acontece que, apesar das insistentes chamadas, maman não atendeu. Hoje, já preocupada com a falta de notícias, voltei a ligar, sem sucesso. Maman só respondeu há cerca de cinco minutos, confirmando que tudo se encontrava bem. Acontece que ontem, maman, esgotada pela intensa actividade física a que tem sido exposta e tão bem relatada por mim própria AQUI, viu-se obrigada a ludibriar Cánis, sob pena de, não o fazendo, ter de continuar a atirar a bolinha 24/24 horas, até que os seus membros superiores se soltassem do tronco, sendo projectados para local longínquo e ficando perdidos para todo o sempre.
Maman arquitectou, então, um embuste sofisticadíssimo para ludibriar Cánis e conseguir uns minutos de descanso. Assim, maman, adquiriu uma casota, que equipou com o cobertor de caxemira mais fofo do mercado e, logo pelas nove da noite de ontem, iniciou uma série de bocejos extremamente exagerados, para que Cánis se convencesse que era hora de dormir e se dirigisse (sem reclamações) ao exterior, para aí efectuar o seu sono de beleza. Assim, e para dar mais credibilidade à situação, maman colocou Cánis na sua nova casota T0 e tapou-o com a sua luxuosa manta. De seguida, introduziu-se na habitaçao, apagou a televisão, desligou as luzes da sala e ocultando-se furtivamente no seu quarto, também ele sujeito ao rigor das trevas, acendeu a pequena televisão que aí se encontra na modalidade filme mudo e, não descurando nenhum pormenor, retirou o som ao telemóvel.
Todos estes detalhes teriam sido extremamente argutos, não se tivesse dado o caso de, à primeira ganidela de Cánis, papai irromper pela janela do primeiro andar proferindo-lhe, com voz doce e cristalina, frases adoráveis como:
- Cánis, Cánis, não chores meu pequenino…
Ou,
- Não tenhas medo de estar sozinho. Eu estou aqui contigo…
E, ainda,
- Pronto meu Cánis, tem calma, vai tudo correr bem…
Claro que Cánis, dotado de um faro espectacular para se aproveitar de situações melodramáticas, ganhou alento e tratou de esganiçar ainda mais o seu latido, prolongando-o indefinidamente noite dentro, na companhia de papai que, do alto da sua janela-pedestal, incentivava o Canídeo a exortar os seus receios através da conhecida terapia do uivo.
Claro que, com toda esta agitação, maman só acordou já o sol ia alto no horizonte...

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