sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Estereótipos (ou então não)

Quando era pequena, para aí com sete ou oito anos, aprendemos na escola, meninos e meninas, a coser botões. Passado uns tempos, estava o Quim-Zé muito bem na sua vida, quando de repente e sem que nada o fizesse esperar, foi alvo de uma terrível partida do universo: caiu-lhe um botão da bata! E o bom do Quim-Zé, o Quim-Zé que aprendeu a coser botões ao meu lado, em vez de pegar na agulha e na linha, veio ter comigo, botão numa mão, bata na outra, e aquele olhar perdido que os homens aprendem a fazer -logo aos sete anos- sempre que lhes cai um botão, pedir para eu lho coser. Lembro-me perfeitamente de estarmos lá em baixo, na sala de trabalhos manuais, a luz a entrar pelas janelas altas, deviam ser umas onze da manhã, e de eu ter olhado para o Quim-Zé com aquele ar desolado, botão numa mão e bata na outra, e ter achado que o Quim-Zé era parvo. Então se tínhamos aprendido os dois a fazer a mesma coisa, ele vinha-me pedir a mim (!), para lhe coser o botão? A que propósito?! Lembro-me que lhe disse devagarinho, porque os meninos precisam que se lhes fale assim devagarinho, onde estavam as agulhas e as linhas e o Quim-Zé lá foi, de cabeça baixa, sentar-se num banquinho, agulha numa mão, a bata na outra, linguinha de fora, a coser o seu botão. 

As coisas? Ora as coisas nem sempre são como têm de ser...




44 comentários:

  1. ahahahahahahahahahah

    És má.

    ahahahahahahahahahah

    (Os meninos da minha turma aprenderam a fazer arraiolos. E fada do lar. Eu aprendi carpintaria e a cortar vidro. E detestei tudo, ainda assim preferi os arraiolos e a fada do lar...)

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    1. Muito má! E desde pequenina! :DDDDDDDDDD

      (olha... eu adorei isso tudo! Fiz montes de tapetes e uma cadeira! :D)

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    2. Uma cadeira???? Como assim fizeste uma cadeira? Era ikea e montaste? :)
      Sinceramente, a pior experiência da minha vida foi obrigarem-se a tentar fazer uma treta qualquer de madeira. Ainda tenho pesadelos: eu, uma serra e um bocado de madeira.

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    3. Qual Ikea, qual quê! Serrei a madeira e fiz uma cadeira! Era pequenina, mas era uma cadeira! :DDDDDDDDDDDD

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    4. O meu irmão aprendeu arraiolos, eu fiz uma mesa, um banco e um instrumento de percussão: caixa chinesa. :D

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    5. Mep, Mep... a arruinar estereótipos desde tenra idade! :DDDDDDDDDDD

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  2. Eu até contava de como foi quando ensinei o meu homem a passar a ferro, mas mete família "in law" ao barulho pelo que vou mazé ficar caladinha...

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    1. Havias de me ver a passar camisas... sou pró! É pena não passar a ferro há alguns dez anos! É um talento que se perde! :DDDDDDDDDDDDDDD

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    2. Eu fiz uma caixa de madeira, lembro-me de me ter enganado a cortar os lados, aquilo ficou tudo torto. Mas muito bem envernizado.

      E por falar em estereótipos, há muito tempo, vieram ter comigo com umas calças de fato na mão, que tinham de ser engomadas e não sei o quê. Lembro-me de ter feito um ar desolado, eu também não sabia passar calças de fato a ferro, o máximo que podia fazer era montar a tábua enquanto ele ia buscar o ferro.
      (ainda hoje não sei passar calças de fato, desconfio bem que nunca saberei...)

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  3. «porque os meninos precisam que se lhes fale assim devagarinho»
    Não sabe pregar botões e é lerdo! Aposto que deu um bom "pater familias"!

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    1. Ou então não. Depois desta experiência pode bem ser um costureiro de renome! :DDDD

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  4. Eu lembro-me. Lembro-me de me teres contado com um ar espantado, que o Quím Zé te tinha pedido para lhe coseres um botão.

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  5. Percebeu a ideia. Como (quase) sempre.

    É por isso que (quase) a aprecio.

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    1. Lá está... as coisas são como são.

      É (quase) recíproco. :D

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    2. Era uma ideia difícil, lá isso era.

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    3. Aposto que a Palmier ia cavar, adubar, sachar, podar e catar o piolhinho das couves; isto na jardinagem. E ia para cima de um andar de duvidosas condições de segurança caiar as paredes, e ou ainda fazer massa de pedreiro, acarretar baldes dela lá para cima e estucar as paredes, com colher e martelo de pedreiro, ao invés de ir arrumar uma cozinha.
      Hem?! Ganhava a aposta, não ganhava? :D

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    4. Pode apostar, Corvo! À confiança! Dêem-me uma trincha que eu fico satisfeita! :DDDD

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  6. Pobres de nós, que só queremos alguém que nos sirva de Mãezinha por perto...

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    1. Pobre Quim-Zé... ainda hoje deve estar sentado no banquinho a pensar por que razão fui tão má para ele... :DDDDDDDD

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  7. Muito bem! Assim é que é! Menos o "linguínha" que não tem acento, fica de pé. :/

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  8. Palmier a olhar por nós, fomentando a proactividade masculina desde tenra idade!
    "Poende" os olhinhos minhas meninas, "poende " os olhinhos!

    P.S. : A linguínha de fora é tão, mas tão familiar que chega a ser assim pró fofi- nostálgico... Eu, quando era pequena tinha o mesmo tique, mas quando estava a desenhar :)

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  9. Já vais com sorte que na tua escola ensinaram os dois a coser. Na minha só ensinavam às meninas e na altura havia um menino que também queria aprender e foi o caos. Ninguém o queria deixar frequentar a disciplina, chamaram os pais à escola e tudo. Era uma disciplina onde ensinavam "coisas de meninas", coser, bordar, cozinhar, etc. e os meninos estavam proibidos de frequentar, em vez disso tinham aulas de desporto. Como esse menino não gostava muito de desporto e adorava cozinhar (hoje é chefe de cozinha) queria mesmo fazer parte da disciplina das meninas, mas não o queriam deixar. Depois lá acabaram por deixá-lo, porque os pais pediram muito, senão que remédio tinha ele de ir praticar desporto com os outros meninos. Eu acho que hoje em dia já não acontecem destas coisas, espero eu.

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    1. Espero que não! è bom que os ensinem... pelo menos comigo não contam para coser botões... :DDDDDDDDD

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  10. Há um erro tremendo na construção frásica inicial. Creio ser apenas uma distração, certo Palmier? Ou serei eu simplório almeida (profissional da limpeza) que não saberei falar e escrever português?

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    1. Presumo que o anónimo se refere a "passado uns tempos" deveria ser passado algum tempo.

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    2. Acho que não. Diz que é na frase inicial... logo, deve ser na primeira...

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    3. "Quando era pequena, para aí com sete ou oito anos, aprendemos na escola, meninos e meninas, a coser botões."

      Quando era pequena, para aí com sete ou oito anos, - aprendíamos - ....

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    4. Hum... não sei...
      "Aprendíamos" sugere que era uma acção continuada, quando na verdade aprendemos a coser botões numa aula e não voltámos ao assunto.

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    5. Está correcto como escreveu, Palmier.
      Nós aprendemos. “Presente do indicativo”
      Nós aprendemos. “Pretérito Perfeito do indicativo”

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    6. O verbo está correcto mas não está em consonância com o tempo verbal do resto da frase, daí a construção frásica perder o sentido, ou ao lê-la não faz sentido imediato! Não é grave até porque a Palmier escreve muito bem mas é uma chamada de atenção apenas para que quem escreve bem não perca o sentido do texto que escreve.

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  11. "Touché" Palmier.
    (Cá em casa o meu homem nem coser, nem cozer. Mas não há melhor a arrumar as compras do supermercado, principalmente os iogurtes no frigorífico).
    Beijinho e bom fim-de-semana.

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    1. Mas isso também é um estereótipo... não sei por que razão gostarão eles de arrumar um determinado grupo de coisas...
      Loiça na máquina, malas no porta-bagagem, iogurtes de acordo com o FIFO... um enigma... :D

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  12. Muito bem, Palmier, esse pelo menos já levou a lição para a vida!

    Uma vez (já agora conto isto, está bem?), estava eu a começar a mudar o pneu do meu carro que levava um furo bem feito, as minhas duas filhas bem pequenas estavam comigo, chovia ligeiramente, eu atrasada para o trabalho e a sentir-me um bocado infeliz. Apareceu um cavalheiro saído não sei de onde que se ofereceu para ajudar. E eu até hesitei... sei mudar pneus a carros ...mas aceitei. (fiquei, portanto, a dever uma "cosedura" de botão a esse cavalheiro, não fiquei?)

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    1. Parece-me bem que sim! :DDDDDDDDD

      (já eu, aqui há uns anos, tive um furo com o meu marido... e tive de ser eu a explicar todos os procedimentos necessários à mudança do pneu. Claro que fiquei apenas a dar instruções e que ele é que o mudou. Mas sem os meus conhecimentos (antes do macaco desapertam-se as porcas!) acho que ainda lá estávamos... parece-me bem que ele me deve um botão! :DDDDDDDDDDDDDD

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  13. Quando eu tinha para aí 11 anos ( e hoje tenho 33) na aula de trabalho manuais, os professores dividiram a turma entre madeiras e têxteis, assumindo que as meninas fariam todas textêis e os meninos madeiras. Foi preciso quase uma revolução para que eu e mais três amigas pudessemos fazer madeiras. Mas conseguimos :)

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