sábado, 31 de outubro de 2015

Raios...

Uma pessoa põe-se a ler blogs de cosmética e, de repente, sem dar por isso, sente a falta de todos aqueles produtos de que nunca tinha ouvido falar e que nem sabe bem para que servem e, qual autómato, é empurrada para superfícies comerciais, levada por uma voragem consumista incontrolada e vertiginosa, na esperança de ser, finalmente, a mais bela blogger à face da terra. 


E que fique aqui resgistado para a posteridade: se amanhã, quando sair à rua, ninguém me gabar o ar intrinsecamente natural e saudável e a pele luminosa e resplandecente, aviso já que processo este blog!

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

António Costa, esse fofinho

Recebi agora mesmo a nota de liquidação de uma nova, tcharan!, taxa - a Taxa Municipal de Protecção Civil - por isso, amiguinhos que vivem em Lisboa e que são proprietários de um qualquer prédio ou fracção, preparem-se... vai tocar a todos.




(e sim, estou bué zangada com as taxas da CML que resolveu agravar a taxa de esgotos do prédio da Grande Obra nalguns 500%, por o ter considerado um prédio devoluto. Bem sei que é verdade, que está devoluto, mas a verdade é que não tenho visto por aí muitos prédios em reconstrução com uma taxa de ocupação muito elevada. Até porque aquilo no Inverno se torna um bocado desconfortável) 



quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A minha Maman fica sempre muito emocionada com aquelas histórias dos cães que salvam os donos

Daí que me tenha telefonado a contar a situação da sua queda aparatosa, aquela que deu no corredor que liga o seu quarto à casa de banho, a queda em que rodopiou sobre si própria, praticando o contorcionismo e transformando-se num nó tal que nem o marinheiro mais experiente seria capaz de desatar, tendo ficado depois, e perante o olhar consternado de Canis, caída no chão, entalada entre as duas paredes e impedindo assim o acesso a qualquer dos lados. Foi então que Canis a observou atentamente com olhos inquietos e Maman lhe devolveu um olhar suplicante, como quem diz "meu bom cão, salva a tua dona, ajuda-me, dá-me a tua pata que esta nossa história ainda há-de ser viral nas redes sociais!". E então Canis, que, com o seu apurado instinto, se deu conta de que a minha Maman, com as suas parcas forças dali não sairia tão depressa, saltou como a mais ágil das corsas, voou sobre o corpo caído da sua adorada dona e resolveu aproveitar aqueles minutos preciosos, aquela oportunidade rara, para fazer aquilo que, sabe bem, está terminantemente proibido de fazer: espojar-se no fofo edredon da cama da minha Maman... aí aguardando pacientemente que ela desimpedisse a passagem.



terça-feira, 27 de outubro de 2015

It’s a bird, it’s a plane. No, it’s António Costa!

Depois olho para o televisor e vejo-os a todos, àqueles que andavam de braços moles e caídos, ombros curvados, pezinhos arrastados e olhinhos baços e chorosos pela derrota nas urnas, a entrarem-me pela casa dentro de queixo erguido e costas direitas, sorrisos de escárnio nos lábios desdenhosos, sentados nas cadeiras dos estúdios de televisão com o à vontade de quem ganhou a guerra, resplandecentes com o brilho da superioridade da vitória, da arrogância do triunfo e da soberba da glória, noto-lhes as borboletas a esvoaçar em volta do estômago,  de quem vê o poder mesmo ali, à mão de semear, como na antecipação da degustação de um prato gourmet, e imagino-os a todos juntinhos, acocorados dentro de um tronco oco de árvore, quais hárpias-de-penacho-real, a contemplar lá de cima a máquina do Estado, convictos que estão que todos nós partilhamos das suas artimanhas, que há um país gritando em uníssono pelos seus nomes, exigindo a salvação, e assim se convencem uns aos outros que são invencíveis, que basta pôr a capa de super-homem aos ombros que logo, logo, sairão a voar pelos céus de Portugal. 

O pior vai ser a queda.


E depois de deixar os miúdos na escola

A pessoa entra no carro, vira-se para fazer marcha-atrás e... 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Pessoas,

O assunto que aqui me traz é deveras melindroso, e não sei bem se vou ter coragem de o expor. Mas vou tentar. Apesar de não ter a certeza de conseguir. Mas vou ser forte e vou avançar com a minha narrativa, nem que para isso precise de morder uma mão e fechar os olhos com muita força. Afinal preciso do vosso apoio e não me posso fazer de esquisita. Ora, a situação é a seguinte: O meu pai é pessoa que tem um interesse automobilístico deveras desenvolvido. É pessoa que faz gráficos de todas as corridas de F1 desde que a F1 existe, é pessoa que compra o Auto-Sport, o Auto-Hoje e sei lá mais que Autos, é pessoa que sabe de binários, cavalos, aceleração dos zero aos cem, é pessoa que me pergunta se eu já dei a velocidade máxima do meu carro e que fica indignado quando eu lhe digo que nunca lá cheguei perto. O meu pai é pessoa racing, que obriga a minha pobre mãe a deslocar-se num carro tuning todo kitado apesar do sonho da vida de minha mãe ser o de ter uma carrinha de caixa aberta para poder transportar os seus volumosos gadjets, que a minha mãe é pessoa dada aos gadjets, Ora, voltando ao assunto de que quero fugir mas não tenho para onde... bem... lá vai: telefonei à minha mãe, ela atendeu e, à minha pergunta, "então, tudo bem? Onde estás?" Ela responde-me com voz robótica e desprovida de sentimentos:

- Estou a sair de um stand de automóveis e o teu pai acabou de encomendar um carro amarelo.

Depois de uns segundos de estupefacção e ausência de reacção, os longos segundos que o meu cérebro levou a processar aquela informação, esmiucei o assunto nervosamente para ficar a saber que o meu pai encomendou um carro racing AMARELO! E não, não é um amarelinho suave, um tom de areia, tipo táxi. Não é um amarelo bebé, uma cor repousante e delicada. Não é um amarelo outonal de folha de árvore caída na estrada. Não. Nada disso. Trata-se, qual castigo divino, do verdadeiro AMARELO NEUZA! Um carro racing AMARELO NEUZA. E o que eu queria, já que ele parece não me dar ouvidos, diz que eu sou uma bota de elástico e que ele uma vez teve um VW Carocha amarelo e gostou muito, é que tirassem um bocadinho do vosso tempo para dirigir umas palavras sérias, ajuizadas e sensatas ao meu pai, a ver se ainda vamos a tempo de reverter este flagelo que está prestes a abater-se sobre a minha família! Venham, falem ao coração de meu pai, ajudem a vossa Palmier!



terça-feira, 20 de outubro de 2015

Este blog está um pouco ao abandono...

Mas não se preocupem, dentro em breve terei aqui grandes novidades.






(Mentiraaaaaaa! Não tenho novidades rigorosamente nenhumas!... tenho só bué dA trabalho!)



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Léxico das obras:

Estereotomia.

Estereotomia: palavra que me acompanha de obra em obra e à qual tenho um especial carinho. Desta feita trata-se de uma coisa mais avançada: a estereotomia das cofragens. Aquando das obras de remodelação na minha actual casa, obras muito mais pequenas e que não permitiam tantos brilharetes de linguagem, à falta de melhor, lembro-me bem das incríveis dissertações do empreiteiro sobre a estereotomia da gaveta que ele designou como "a gaveta dos peúgos" (sic), e que, em sua honra e apesar de conter t-shirts, assim ficou baptizada para toda a eternidade.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Confirma-se


O meu filho recebeu hoje o teste de Fisico-Química. Teve 20. 


Caramba, estou bué orgulhosa!

E pronto. É assim a vida de uma pessoa.

A pessoa sai de casa bastante satisfeita, afinal é sexta-feira, o fim-de-semana está à porta, o sol brilha e a pessoa sente-se bem com o seu outfit, acha-se deveras gira e até ligeiramente moderna. Depois a pessoa entra no carro e, à medida que vai avançando pelo trânsito, um estranho sentimento vai-se apoderando da mente de uma pessoa. Então a pessoa deita um olhar de esguelha ao seu modelito e tenta afastar os estranhos pensamentos que espontaneamente lhe afloram à mente. Depois a pessoa deixa os seus filhos na escola e a sensação que teve antes intensifica-se. A pessoa já não consegue afastar as intrincadas reflexões a que se dedicou minutos antes e começa a vacilar. Quando chega ao local de trabalho, a pessoa já deixou todas as dúvidas para trás e já só tem certezas: é que, ao contrário do que pensava ao sair de casa, a pessoa não tem uma écharpe ao pescoço, a verdade é que, ao pescoço da pessoa jaz, apenas e só, um daqueles tapetes de zebra que hoje em dia se vendem em todas as lojas de decoração.


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Alguém havia de pedir uma indemnização a esta gente que escreve estas coisas nas contracapas

Romance do ano e do século?! Epá.. é uma anedota, não é? Eu cá vou na página quinhentos e sessenta (em sofrimento e irritada) e isto não é, sequer, o romance da semana... (ou serei eu que estou a ver mal?)




terça-feira, 13 de outubro de 2015

Café com açúcar

Ainda tenho lá em casa o tabuleiro do café de casa da minha avó, o tabuleiro que ia para a sala depois do jantar e que se pousava em cima da mesa mais alta de um grupo de três mesas que se encaixavam umas por baixo das outras, eram umas mesas de madeira com os tampos cobertos com uma folha metálica dourada, com uns pregos de cabeça redonda a fazer uma espécie de capitoné, e o tabuleiro era um daqueles tabuleiros com a base em espelho desenhado, com umas flores e umas folhinhas brancas, as asas de osso e rebordo de madeira. Por cima, um pano bordado para esconder o espelho que estava rachado. E depois a minha avó servia as xícaras que entregava a cada um dos adultos e eu ali estava, sentada ao lado dela, nas senhorinhas cor-de-rosa velho, "cuidado que o café está muito quente", dizia ela, e eu ali ficava, muito quieta, a sentir o cheiro do café, que era tão bom, à espera que a minha avó pusesse o açúcar, e eram duas colheres cheias de açúcar que ela punha no café, e aquilo ficava mesmo docinho, quase um caramelo. E depois de mexer com as colheres perfeitas, que ainda tenho duas e que são as minhas colheres de café favoritas de todos os tempos, perfeitas também para comer iogurtes, tamanho perfeito, cabo lisinho a terminar em linha recta, daquelas que quando se levam à boca não sabem a metal, mas dizia eu, que estava ali à espera que ela mexesse o café, tlinc. tlinc. tlinc, para, antes de o beber, me dar uma colherzinha. Café só bebo com açúcar. Aprendi com a minha avó.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Quéláisto?!

Então já estou a ver sobretudos pelos blogs e eu ainda não tratei do meu - decerto mítico - sobretudo 2015/2016?! Vocês vejam lá isso!, não se ponham para aí a investir em casacos sem saberem qual é a tendência que eu, a vossa fashion blogger de eleição, vou ditar este ano! Muito cuidadinho com essas compras!


domingo, 11 de outubro de 2015

São brócolos, Senhor, são brócolos!

E depois a pessoa fica espantada a olhar para a televisão, a ver o ar impante de António Costa, que aparece altivo e orgulhoso, e a pessoa fica a pensar se ele estará a ver bem a coisa, é que o PS está numa posição impossível, a chamada lose-lose situacion, que dê lá por onde der está tramado nas próximas eleições, que se coligar com a esquerda perde os eleitores todos que tem ao centro para o PSD, e que se viabilizar o OE da coligação perde os eleitores que tem à esquerda para o Bloco. E por isso não percebo o ar de felicidade do António que, convencido que é o dono do jogo e que leva a bola na mão, ainda não reparou que o que leva nos braços, é, afinal, apenas e só um molho de brócolos.


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Habemus ferro :)



E apesar de estarmos loooooooonge da última fase, a anos luz, mesmo, posso já começar a sonhar com os acabamentos. É que, depois de anos a sofrer com os armários-despensa, em que fica tudo amontoado nas profundezas das prateleiras, vi esta ideia genialmente simples que... oh pá... quero! 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

I ❤ contabilistas

Tenho de aceitar: a minha vida já não é o que era.

Desde que o senhor que, desde sempre, nos trata da contabilidade, aquela pessoa que sabe tudo na ponta da língua, que apresenta tudo para pagamento no dia certo, que está sempre ali, pronto para ajudar, nos foi parar ao hospital, que o caos se instalou. Estes últimos dias têm sido um stress como não me lembro, todos no escritório de mãos na cabeça, a cada hora que passa lembramo-nos de uma obrigação cujo prazo para cumprimento se está -tic-tac, tic-tac- a esgotar. E depois levantamo-nos a gritar, corremos sem rumo em volta das nossas próprias mesas, bracinhos no ar: O IVA! Como raio se apura o IVA, como se paga o IVA, paga-se por transferência ou por cheque e à ordem de quem se passa o cheque?! E a sobretaxa de IVA?! Ou a sobretaxa é de IRC? O que raio é a sobretaxa? Há lugar a pagamento da sobretaxa ou não? E tem de ser paga  num cheque à parte, ou paga-se tudo junto? E o pagamento por conta do IRC do terceiro trimestre, já está pago?! E a retenção do IRS, como se entrega ao Estado, a quem e até quando?! E a segurança social, como raio se envia o ficheiro para a segurança social? E os ficheiros mensais para a seguradora, de onde se tiram? E para onde se mandam? Ahhhhhhhhhhhhh, mais gritos, cabelos em pé, mãos a tremer, corridas desesperadas em volta das mesas, e as penhoras dos salários para os solicitadores (um dia, quando estiver mais calma, ainda hei-de falar sobre as penhoras de salários das empresas de telecomunicações...)?!, e as penhoras de salários para as finanças?!, e os descontos para o fundo de compensação?! E como se entregam as quotizações das pessoas sindicalizadas aos sindicatos?, e fechar o mês no programa informático para se poder começar a lançar as facturas de Outubro? E a comunicação à autoridade tributária das facturas emitidas? E as facturas a acumularem-se e os fornecedores, que não estão habituados a esperar um dia que seja, a telefonar, e mais gritos no escritório, mais corridas em volta das mesas, mais braços no ar, lágrimas, muitas lágrimas, choques anafiláticos a cada cinco minutos, a entrada de artigos em sistema parada porque o mês de Setembro ainda não está fechado, e a password das Finanças, da Segurança Social, as passwords de todo o lado? O código da certidão on-line? E os agendamentos dos pagamentos no banco? E os vencimentos do final deste mês que têm de começar a ser preparados?, tudo aquilo que num segundo nos era respondido tranquilamente pelo nosso senhor da contabilidade que deixou de estar ali sentado, à distância de uma simples pergunta.

E depois de uns dias neste registo, sinto-me compelida a declarar publicamente o meu mais recente amor: Os contabilistas. Os contabilistas são os meus amores! Contabilistas, I love you all!

(Oh pah, a sério, alguém me tire do mundo maléfico da contabilidade!)



terça-feira, 6 de outubro de 2015

Esta noite sonhei com Ferraris cor-de-rosa

Lá dentro, encostados ao balcão corrido do café da Dona Aldina, mexendo vagarosamente o açúcar dos seus cafés, encontravam-se de pé e em conversa sussurrada, Pipoco mais Salgado e o Senhor Pereira, os seus semblantes esforçados e as sobrancelhas amontoadas em cima dos olhos deixavam adivinhar que a conversa girava em torno dos problemas das mulheres, entendiam-se bem Pipoco e Pereira, e parecia mesmo que estavam finalmente a chegar à tão ambicionada conclusão, mas todos os dias tínhamos essa mesma sensação sem que, no entanto, algum dia as dúvidas se transformassem em certezas. Enquanto isso e interrompendo a quietude cabalística do momento, ouviram-se na cozinha vozes alteradas, a Susana discutia a ementa da semana com Andriminhir, o cozinheiro pirata, e, indignada, dizia que estava fora de questão, que aqueles pratos em nada se coadunavam com os títulos dos posts que tinha pensados, que precisava de sopas mais coloridas para condizerem com os seus sobretudos, dando o tudo por tudo por tirar o protagonismo nessa matéria a Palmier Encoberto, esse ícone blogosférico dos sobretudos. Lá fora, no passeio da frente, o Xilre passeava pequena Cutxi que ladrava, com o ladrar esganiçado próprio de um cão de pequeno porte, a Ruben Patrik, que, por sua vez, assistia entusiasmado, assobiando e encorajando o confronto que se adivinhava, enquanto o gang das bloggers de esquerda radical se aproximava com as suas botas pretas da tropa do grupo das bloggers de direita que rodavam as suas carteiras Chanel. E foi quando a coisa se descontrolou e os dois grupos rivais se envolveram numa luta sangrenta, quando as bloggers de esquerda de um lado lançavam inúmeros exemplares d"O Capital" de Karl Marx às de direita e estas retaliavam aspergindo-lhes os olhos com o Obsession, da Calvin Klein, que Pipoco e Pereira, P&P, olhos vidrados, nó das gravatas já de lado, saíram esbaforidos do café da Dona Aldina, e nesse momento todos aplaudiram, convictos que estavam que, com uma experiência acumulada de anos, iriam, com uma simples palavra, pôr cobro à grave situação. Mas Pipoco e Pereira, que se dirigiram efectivamente aos grupos rivais, acabaram por passar apressadamente por entre a turba descontrolada com o único objectivo de salvar as suas viaturas alemãs ali estacionadas e cujos pára-brisas já se encontravam repletos de batons esborrachados, desaparecendo de cena em simultâneo, acelerando pelas brumas e deixando para trás um rasto de destruição. Mas nem tudo ficou perdido já que, a Dona Aldina, em troca de bicas para acalmar os ânimos, conseguiu parcerias publicitárias com inúmeros bloggers, tornando-se assim, de um momento para o outro, um dos cafés mais bem sucedidos do mundo e uma referência mundial do capitalismo desenfreado e selvagem que, com os impostos cobrados sobre os seus lucros, acabou por salvar a frágil economia da Blogosfera.



sábado, 3 de outubro de 2015

Quando entro numa livraria depois de algum tempo sem entrar em nenhuma

Acontece-me ter aquela sensação de urgência, de ter de me apoderar muito depressa dos livros, não vá alguém roubar-mos dos escaparates à traição.


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

E então essa obra?

Olha, já me está a dar nervos, agora tenho medo de lá entrar que aquilo está um escombro total, e cá de fora não vejo diferença nenhuma, só um monte de entulho que varia todos os dias, como uma instalação artística, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, mas, de facto,  nada se perde, que o resto da construção existente ainda não se esfumou na atmosfera. E quando passo lá ao fim da tarde o senhor José Carlos desce logo por ali abaixo, com o seu colete amarelo fluorescente, para me contar as novidades, parece que a coisa está a passar-se toda no interior:
- Estamos a escavar lá dentro, para pôr as micro-estacas para a sapata da caixa das escadas, que depois vai agarrar a fachada... E eu, que tive de escrever as cartas para os proprietários dos prédios vizinhos com essa informação, não perdi a oportunidade de reforçar o meu estatuto de engenheira especialista:
- Sim, sim... para fazer a ancoragem com os cabos de aço pré-esforçados...e depois, mudando rapidamente de assunto para não ser apanhada na minha ignorância, perguntei-lhe:
- Mas senhor José Carlos, diga-me lá a verdade: estão a escavar à pá, ou quê? É que isto parece que não anda... 
- Não, agora com a pá... estamos a escavar com a máquina!
- Então mas eu vejo o Bobcat sempre ali parado...
- Pois com'certeza! Atão se eu 'tou aqui a falar com a senhora não posso estar ali a manobrar, não é verdade?!

E pronto, foi assim que fiquei a saber que o senhor José Carlos não possui o dom da ubiquidade.




E aqui podemos finalmente observar a Engenheira Especialista no seu habitat natural, confraternizando com a maquinaria:



(Pensando bem , acho que o melhor é ir ver casas nuns sites de imobiliário muito bons que agora há, que parece que aquilo é uma perdição!)