terça-feira, 31 de outubro de 2017

Vocês que sabem coisas, digam-me:

Uma cidadã que é apanhada duas vezes num espaço de um ano e meio a setenta e poucos quilómetros hora naquelas vias dentro da cidade que apelam a altas velocidades, as tais que têm radares em vez de lombas/semáforos ou outra coisa qualquer que faça os carros andar mais devagar, aquelas vias onde quem vai a cumprir o limite de velocidade é alvo de apitadelas e de olhares raivosos dos restantes condutores, uma cidadã que por acaso até é bastante cuidadosa e que nalguns cem anos de carta de condução (tirando uma ou outra multa de estacionamento) nunca praticou qualquer infracção grave, corre o risco de ficar sem carta de condução?  

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Temos mesmo de conversar sobre esta situação das viagens...

Desta coisa das pessoas falarem sobre as suas viagens, falarem muito, e, reparem, as pessoas não conversam sobre as viagens, as pessoas relatam as suas viagens. À vez. Na verdade nem sequer se ouvem umas às outras, estão sempre muito ansiosas à espera que uma acabe para a outra começar, estou até desconfiada que há quem vá viajar só para ter assunto para os almoços de fim-de-semana com os amigos que também eles foram fazer as suas viagens, todos em trânsito, com as suas malas, os seus bilhetes e as suas fotografias, praticamente uns Vascos da Gama, Vascos da Gama everywhere, Vasco da Gama em Miami, Vasco da Gama vai a um quatro estrelas Michelin em Sidney, Vasco da Gama engana-se e em vez de fazer uma vénia dá dois beijinhos à guia japonesa, que isto de viajar rende horas e horas de monólogo, vários monólogos paralelos que só se cruzam quando há referências a restaurantes de Chefs famosos, ah, aí todos sacam do telemóvel, googlam o local, fecham os olhos e e revivem o momento em que a trufa com gelado de feijão e crumble de pimenta aterrou na toalha branca com uns sticks de fogo de artifício resplandecentes, e então a pessoa revira os olhos interiormente sete vezes e quando julga que podemos passar ao próximo tópico, os viajantes descrevem o hotel, o colchão e o edredon, como se tudo aquilo fosse inédito, como se estivessem a descrever hipopótamos e girafas a um europeu do século XV, e depois, bem, depois chegamos sempre (sempre!) àquele momento em que os convivas, que já relataram os seus dois últimos anos de andanças pelo globo terrestre, querem curar a minha aero-fobia, que há cursos, não sei se sabes, uns cursos muito bons, há até casos de pessoas que dali saíram doidonas para se enfiar num voo de longo curso de dezassete horas para a Malásia, sei, sei, mas eu não quero mesmo andar de avião, e então os convivas chegam-se para trás na cadeira, levam as mãos à cabeça, transtornados, olham-me com olhos trespassados de horror, como se eu tivesse uma perigosa doença contagiosa e perguntam aflitos: mas como podes viver sem viajar, sem conhecer o mundo, sem ver nada, sem saber nada?! E a pessoa lá saca da sua pequeníssima chave de pechisbeque enfeitada com missangas, e…, bem…, na verdade não me sinto assim particularmente ignorante e não me faz muita diferença não ir a lado nenhum, eu cá podia estar sempre em casa que estava muito feliz, quem me dera ter mais tempo para pintar, para ler... mas eles já não me estão a ouvir, estão só a olhar-me com muita pena e à espera da primeira oportunidade para se virarem para o outro lado, desconfortáveis, e continuarem com os seus relatos superficiais, numa grande azáfama com as suas múltiplas romarias, as comezainas, os aeroportos e os destinos com voos directos, fingindo que aquela pessoa constrangedora (que está a dar graças aos Deuses por não ter de andar naquelas manadas turísticas para trás e para a frente), não está efectivamente ali.


Oh pá... agora a sério... digam-me a verdade... vocês gostam mesmo de ouvir os relatos de viagens uns dos outros?!

domingo, 29 de outubro de 2017

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

E então, Palmier, ficaste apaziguada pela demissão da Ministra?

Não.

Quem nos falhou foi o Estado, o Estado que, momentaneamente, foi corporizado na pessoa da Ministra. Foi o Estado que deixou que morrêssemos, o mesmo Estado liderado por um chefe de Governo aparentemente tão insensível e indiferente que parece não compreender a indignação dos seus cidadãos, um chefe de Governo que aceita a demissão de uma Ministra (empurrada porta fora por pressão de outrem), não por uma questão de princípio, de moral, de rectidão de carácter, por se guiar por uma qualquer ética, mas apenas e só por uma questão de táctica. Táctica política. Nada mais do que isto. Deixemos a indignação crescer que, no momento certo, atiramos-lhes o osso. E é esse o sabor ácido que me fica desta demissão: o de um osso atirado para nos distrair a nós, os cães.


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Depois a pessoa tenta entrar no site da Protecção Civil e a resposta é paradigmática...



Tenho estas perguntas entaladas desde Junho:

Quem foram as pessoas nomeadas para a Autoridade Nacional de Protecção Civil?
Por que razão foram essas as pessoas escolhidas?
Quem as nomeou?


É que qualquer um gere - melhor ou pior -em condições normais. O que eu gostaria mesmo de saber é quem é que o Estado escolheu para nos gerir a nós, à nossa vida, em caso de catástrofe.


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Caramba, afinal a solução era tão óbvia...


Título: A Senhora num estado de nervos

Acrílico s/ tela
Dim: 120x123 cm



O que vês da tua janela, Palmier?

Primeiro não via  nada, que estava aqui no computador, com uma série de coisas para fazer, mas, de repente, ouvi um grito enorme, assustador, um grito de harakiri: aiahhhaaaaaaaa que me fez dar um salto na cadeira e meia volta instantânea para ver o que se passava lá fora. E lá fora estava um oriental agarrado ao braço da sua oriental, abanando-a com um ar desesperado. Caramba, pus-me em pé, abri a janela e quando ía dar um assobio daqueles quadrados, que ensurdecem qualquer um num raio de cem  metros, mete-se um autocarro pelo meio, que fica ali parado sem me deixar ver nada, eu com os dedos prontos mas sem poder assobiar, que ninguém havia de perceber o que raio estava eu a fazer, e a pensar que aquilo devia ser uma cena para o "e se fosse consigo", e lá ía aparecer à minha janela, extremamente passiva e sem fazer nada, e depois o autocarro passou e ele estava só em modo leão enfurecido, a andar de um lado para o outro, já não havia perigo iminente, mas eu mantive-me ali, firme e hirta, para ele ver que eu o estava a ver, depois ele foi-se embora muito depressa, aplicando a conhecida técnica das crianças no centro comercial, mas ela não foi atrás, e então ele voltou, falaram um com o outro mas ela não arredava dali, e ele então foi dar cabeçadas contra a montra de um banco, não contente despejou uma garrafa de água pela cabeça abaixo, e nisto estavam ali dois polícias, e eu a fazer sinal aos polícias e os polícias sem quererem saber, depois ele desapareceu outra vez, e depois voltou, agora estão ali os dois, já passaram várias fases, ele de pé a olhar fixamente para ela, ela sentada a olhar noutra direcção, ela de braços cruzados desafiadora a falar-lhe de cima para baixo, os dois a conversar de pé, os dois a conversar sentados, agora os dois sentados lado a lado, a chorar. 

E eu com tantas coisas para fazer, presa há mais de uma hora nesta novela da vida real.

* e depois, quando voltei a olhar, ela estava sozinha, olhos presos no infinito, e eu pensei, pronto, desta é que ele se foi de vez, e passaram-se mais uns minutos e nada, e quando eu estava quase a desistir da minha vigia, eis que ele regressa, armado com dois pastéis de nata, ela ainda se faz difícil, mas o poder do pastel de nata é muito grande, ela não resiste, pega no seu, dá uma dentadinha, ele dá-lhe um beijinho na cara, ela faz-lhe uma festinha e, quando acabam o seu docinho tipicamente português, vão-se embora os dois, abraçados.

E se isto não é um verdadeiro conto de fadas turístico, a épica história da "chinesinha carrancuda e o pastel de nata mágico", uma história digna de constar em todos os Lisbon City Guides, eat a pastel and feel the power of the magical bell, schnell, schnell, eat the pastel or your girlfriend will send you to hell, então não percebo nada disto.


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Muito lindo, muito lindo, mas das coisas que eu estava histérica para ver... nada!

Até parece que me podia mudar já amanhã, não era? Pois...



O meu atelier, onde vou ser uma bué grande artista:


O lavatório... no chão, à espera que uma boa alma se decida a pô-lo no sítio...


E a cozinha! Eu julgava mesmo que hoje ía estar montada, até estava com aquelas dores de barriga de ansiedade enquanto subia as escadas...


E pronto. A cozinha estava de facto na obra... só que assim:


E lá fora, que continua em estado caos.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Palmier, a artista interactiva, vem pedir a opinião do leitor

O leitor prefere a versão : uma simples fúria totalmente enfurecida com nada em particular e com tudo em geral...


Ou uma fúria... absurdamente direccionada?





quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Olha, então o Nobel da literatura saiu hoje, no feriado?!

Raios... é sempre um dia tão Blogo-divertido, em que podemos passar a manhã a fazer a apostas e a dizer coisas, e a Academia faz-nos uma desfeita destas?! 

(mantém-se a minha cruel realidade: nunca li um Nobel antes de o ser)

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A Grande Obra - fim de Outubro dizem eles...

Agora andamos nas pinturas - aquela coisa que não muda nada, porque na realidade já estava tudo branquinho - para, depois, voltarem a entrar os carpinteiros. E então lá estive a falar com o engenheiro responsável sobre uma série de detalhes, e depois juntou-se o carpinteiro para definir uma série de outras coisas, ah, e tal, a cozinha vem para a semana, diz ele, já vem toda feita, é só montar. As estantes nem quero pensar nelas, que aquilo vai ter de ser tudo feito à mão... o quê, pára tudo!, as estantes ainda nem estão começadas?!, hiperventilo eu. Ah, não, as estantes são a última coisa, e ainda devem demorar umas duas semanas a ser feitas, Paulo, está a ouvir isto?! ainda nem estão começadas e este senhor está a dizer que demoram duas semanas, portanto vamos fazer contas a três...alô, hoje é dia quatro de Outubro! Dlim, dlim, dlim, não sei se está a ver o mesmo que eu! E ele olha para mim cabisbaixo e diz-me muito infeliz, com os braços estendidos e as palmas das mãos viradas para fora, que anda ao contrário do país inteiro, que enquanto todas as outras pessoas desejam permanentemente que chegue o fim do mês, ele é o único português que os teme . É impossível não gostar dele.



Bem, uma vez que nunca mais fica pronta, ao menos que haja quem vá dando uso às instalações...


terça-feira, 3 de outubro de 2017

Brincar em (in)segurança

Às oito da manhã já estava a stressar no carro, que não sei o que raio se passa com o transito caótico desta cidade, que no último mês começo sempre a manhã a rugir aos deuses para conseguir passar aquele pacato quarteirão que, de um momento para o outro, se tornou demoníaco, depois lá passei o sinal in extremis, mas já com os minutos à justa para o resto do percurso até à escola, um percurso que me demorava menos de dez minutos e que agora passou para meia hora, mas lá tive sorte e conseguimos chegar a tempo, e no minuto que deixo os meus filhos respiro fundo e entro em modo zen, faço reset e recomeço a manhã do zero naquele bocadinho em que vejo o rio lá de cima, e hoje o rio estava chão, devia estar na mudança de maré e, sem vento, era uma massa de água gigante e totalmente imóvel, a reflectir a o céu, e fiquei a pensar como é que se podia descrever aquele rio que estava tão bonito, e então lembrei-me do mercúrio dos termómetros e de como era bom partir um termómetro quando era pequena, para poder brincar com as bolinhas de mercúrio que guardava religiosamente dentro de uma caixinha de plástico das ourivesarias, separava as bolinhas com um pauzinho e depois ficava a vê-las a correr por ali fora, para se juntarem todas numa bola grande e gorda de metal líquido. Parece que o mercúrio não é nada bom para brincar, mas era assim que, em tempos remotos, nós, os idosos, brincávamos. Também brincava com detector de mentiras do meu pai, uma coisa super idade média, com uns dínamos de metal e uns fios eléctricos que se colavam aos dedos e que davam uns choques eléctricos medonhos, e depois lembrei-me daquele dia em que a minha tia Lili me mostrou um revólver miniatura que tinha lá perdido numa gaveta, um revólver mesmo pequenino, que era tão giro e apetitoso, mas a minha mãe, muito avançada, disse logo que não gostava nada de armas, mesmo que fossem de brincar, e a minha tia Lili, sempre muito teimosa, quis mostrar à força que aquilo não fazia mal nenhum e vá de dar um tiro no seu próprio dedo. Vou abster-me de descrever o que aconteceu a seguir porque, afinal, o brinquedo não era de brincar. Tudo coisas super seguras, homologadas pelo Ministério do Divertimento do Século Passado. Depois o rio de mercúrio desapareceu e cheguei ao meu trabalho.