sábado, 3 de dezembro de 2011

O enigma da cueca desaparecida



Na passada terça-feira, a minha vizinha de cima tocou-me à porta, à espera de ser recebida pela minha empregada. Acontece que, quem abriu, foi o meu consorte. Ora, a minha vizinha, muito atrapalhada (muitooooo católica apostólica), disse-lhe que tinha deixado cair uma “peça de roupa” do estendal e pediu-lhe para dizer à nossa empregada para a pendurar na rede das traseiras que ela, depois, iria lá buscá-la. O meu consorte, muito solícito, prontificou-se, de imediato, a ir apanhar a dita peça de roupa, ao que a vizinha, corada atá à raiz dos cabelos, respondeu com uma recusa veemente e foi dizendo, já as arrecuas: “que não valia a pena… que não se incomodasse… que pedisse à empregada para pendurar a peça de roupa na rede das traseiras… que (muito baixinho e já a entrar no elevador) eram umas cuecas da filha”. Perante tal aflição,  o meu consorte lá fechou a porta, deixando a vizinha recolher à sua habitação sem a ambicionada e vergonhosa "peça de roupa". Ainda assim, consorte, muito prestável, foi lá fora apanhar as “cuecas”, pôs num saquinho e foi muito silenciosa e secretamente até ao 4º andar, aí deixando o saquinho pendurado numa das portas. Ontem a minha vizinha bateu de novo à porta a pedir à minha empregada as “cuecas” da filha. Ora, a minha empregada não sabia da “cueca”, empregada nunca tinha visto “cueca”! A vizinha ficou muito zangada com a minha empregada, acusando-a inclusivamente de ser uma refunde-“cueca”. A minha empregada telefonou-me, então, muito aflita, a relatar a situação e a perguntar-me pela “cueca” da senhora do 4º andar. Ora, eu não sabia do paradeiro da “cueca”da senhora do 4º andar! Aguardei, então, que consorte regressasse a casa para o inquirir sobre o paradeiro da “cueca” da vizinha, mas o meu consorte tinha perdido o rasto da "cueca" no dia anterior. Resolvemos, então, analisar todos os passos da “cueca” e percebemos que consorte pendurou o saquinho com “cueca” na porta errada. Agora, pergunto:
Como vou explicar à vizinha do quarto direito que, provavelmente, a vizinha do quarto esquerdo se apoderou da “cueca” alheia?
E como explico a vizinha do quarto esquerdo que o meu consorte lhe pendurou um saquinho com "cueca" na porta, mas que não tem más intenções?
É impressão minha ou isto parece saído da “Relíquia” de Eça de Queirós?


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