sexta-feira, 31 de março de 2017

Ontem vi o amor na mesa ao lado da minha

Estava lá, na cara daquele senhor de barbas brancas e rabo-de-cavalo, um senhor já muito, muito crescido, que trazia nos olhos o amor, um amor tão grande que tinha à mulher que estava sentada à sua frente que os envolvia transbordava por ali fora, como uma manta quentinha num dia de Inverno, e depois ele estendeu os braços por cima do tampo que os separava e, com as duas mãos, uma de cada lado da cara, fez-lhe a festa mais terna e comovente que já vi, e eu estive o almoço todo a tentar ouvir o que eles se diziam mas a pessoa que estava comigo encontrava-se de tal forma embrenhada em assuntos que nem sequer reparou na magnitude do que se passava mesmo ali, ao nosso lado.


quinta-feira, 30 de março de 2017

E então essa obra?

Lá vai, devagarinho, de acordo com as previsões do arquitecto temos coisa para mais quatro meses, já eu, criatura bastante mais realista, aponto para seis. O prazo da empreitada, já com mais quatro meses de prorrogação graciosa, acaba no final de Abril...


(este é o meu escritório, o tal cujas paredes terão de albergar toda a minha arte)


quarta-feira, 29 de março de 2017

Eu juro que um dia destes páro com isto!

É verdade que ainda tenho que corrigir, que a minha Maman, numa tentativa desesperada de controlar o meu ego Leonardo da Vinci, pôs-se-me a dizer que eu tinha escurecido demais o topo do polegar, que parecia enxertado, que o ângulo do pulso até ao osso do polegar é menos acentuado e que as falanginhas estavam demasiado compridas, mas eu, de tão deslumbrada que estou com a minha própria pintura, não fiquei lá muito crente, que isto podia perfeitamente tratar-se de uma pessoa dotada de enormes falanginhas, que isto hoje em dia, sabe-se lá, mas, dizia eu, que estou de tal forma espantada com com o meu feito, que queria que alguém me explicasse, como... COMO É QUE EU CONSEGUI FAZER ISTO?!


A sério, estou em estado de choque e maravilhada comigo própria!

E para este post não se limitar a este estupendo auto-elogio, venho aqui agradecer ao Pipoco. É verdade. É que o Pipoco, com aquelas provocações irritantes, às vezes - só às vezes, ok!, não é sempre!- consegue ter um efeito inesperado. Tudo começou quando publiquei uma pintura semi-geométrica em verde e preto, e o Pipoco veio aqui escarnecer da situação e perguntar-me se eu tinha mesmo passado uma tarde a fazer "aquilo", "aquilo" foi o que ele baptizou de quadro-ETAR, uma coisa aparentemente tão básica que não podia tomar mais de dez minutos a uma qualquer alma e, raios, eu até achava que o meu quadro ETAR não estava mau, mas pronto, é verdade que eram só umas manchas de cor e então para demonstrar ao mundo que era uma boa artista, uma excelente artista, e que não me limitava a fazer só "aquilo", pus-me a pensar que havia de de fazer bonecos, porque fiquei cá com a ideia que, nestas coisas da arte, o Pipoco só valorizava bonecos, até pensei, com uma elevada dose de sobranceria, diga-se de passagem, que, se ele se cruzasse com uma daquelas pinturas azuis monocromáticas do Klein, havia de proferir a mítica frase proibida: "oh, isto também eu fazia". Mas o problema é que eu não sabia fazer bonecos, nunca tinha feito bonecos, parecia-me mesmo que bonecos estavam fora do meu alcance, que o desenho, enfim, não é o meu forte, e para além disso eu era uma artista moderno-contemporânea-praticamente-conceptual, uma pessoa do abstracto - até desdenhei um grande bocadinho daquela opinião, cheguei mesmo a pensar, do alto do meu pedestal "oh, ele claramente não percebe nada de arte contemporânea"-, mas aquilo ficou cá dentro a corroer-me o espírito, numa espécie de "espera lá que eu já te mostro", e então vá de me dedicar aos bonecos, e de repente os bonecos começaram a aparecer, e cada vez fico mais espantada e entusiasmada com os meus próprios bonecos e pronto, adoro fazer bonecos e a culpa de eu já não ser uma artista-moderno-contemporânea-praticamente-conceptual e de me ter transformado nesta simples-artista-bonequeira é unicamente do Pipoco. E pronto, agora, se já estiverem completamente fartos dos meus posts de pinturas, têm bom remédio: vão lá para o blog dele apresentar as vossas queixas.


segunda-feira, 27 de março de 2017

Na verdade agora só me interessa pintar

Mas tenho de esperar pelo próximo fim-de-semana, que para me pôr a pintar é preciso ir buscar a parafernália toda, dispor as tintas, fazer as cores, e não faz sentido ter este trabalho todo para depois pintar um hora em contra-relógio, mas estou mesmo ansiosa por lhe pôr aquele braço esquerdo (dela) - que está curtinho, coitadinho - cá para baixo, com uma mão crispada em forma de aranha sobre o tampo de uma mesa que ainda há-de aparecer ali no canto inferior direito, a malinha ainda ainda está em branco porque não sei se fica ou sai, mas estava eu a dizer que só me interessa pintar porque fico mesmo espantada com a forma com que as coisas aparecem na tela, parece mesmo magia, esta boneca louquíssima, por exemplo, de onde é que ela apareceu, Deus do céu, ela e os seus papagaios coloridos?! Se eu fosse uma crítica de arte de renome diria que esta pintura se enquadra na série "acabou-se-ma o corrector" e o tema da criação, de grande intensidade emotiva e abundante cromatismo, versa sobre uma tentativa frustrada de transposição camuflada da fronteira que dá acesso ao Graal simbólico dos blogs, ou seja, ao Lago Tanganica.


quinta-feira, 23 de março de 2017

Agora a sério, preciso mesmo de vos perguntar isto

Vocês gostam mesmo daqueles menus degustação/surpresa dos restaurantes das estrelas, aquelas viagens gastronómicas com tremoços explosivos que não são tremoços, ou azeitonas que não são azeitonas, que são apenas esferas de consistência estranha com uma água lá dentro, ou de um cubo branco que nós, lançados na onda do parece que é mas não é, levamos sem medo à boca para descobrir que afinal aquele cubo a fingir que é fat de oinc é mesmo fat de oinc, ou de reduções de todas as carnes e enchidos a um caldinho, ou de procurar os cones de sushi dentro de vasos de flores, ou de espuma de tangerina fumada nas cinzas da última erupção do do vulcão Etna, ou, o que eu realmente suspeito: têm vergonha de dizer que não gostam?


terça-feira, 21 de março de 2017

Para que não digam que nunca vos dei uma receita...


Se precisarem de preparar um reboco ou uma batonilha, já sabem.

Palmier dá início à aguardada - e científica - rubrica "O que diz o teu fémur?"



Esqueçamos a Calacatta ou... vai dar (quase) ao mesmo #versãoconstruçãocivil

Não só o preço é proibitivo, como demora um mês a chegar (com sorte, claro), como teríamos de pagar os desperdícios, que já que, como é uma pedra pouco utilizada, o excedente fica inutilizado. Posto isto, parece que não terei outro remédio que não o de adorar loucamente este Carrara, que até é riscadinho e tudo, assim vagamente a fugir para a Calacatta.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Atentemos, então, no meu problema

É este o exacto momento em que a cara não está acabada mas, se lhe toco, a transformo num desenho animado. Quid iuris?


(a minha adorável família continua a perguntar-me se este também é para pendurar no meu escritório e eu acho que eles são um bocadinho maus e não têm qualquer consideração pela artista) 

(o próximo já hei-de fazer sem ter como base outra pintura)

(alguém também havia de me dizer como é que se tiram fotografias às telas sem que a imagem fique a reflectir por todo o lado..)


sexta-feira, 17 de março de 2017

Fim da tarde

À sexta-feira costumo sair um bocadinho mais cedo para, antes de apanhar os miúdos, ir ao supermercado comprar coisas boas, waffers de baunilha e assim, e apesar de, desde a fatídica sexta-feira do acidente, esta ideia de sair mais cedo, de parar no mesmo cruzamento e de ir ao supermercado comprar coisas boas, não me proporcionar a mesma alegria que proporcionava, tenho insistido, se bem que, quando vêm carros atrás, não consigo parar ali para virar e vou dar uma volta gigantesca, mas, dizia eu, hoje consegui virar, que não vinha lá ninguém, virei muito depressa e com o coração a bater com muita força naquela reentrância entre as clavículas, e lá fui ao supermercado fazer as minhas compras, mas depois distraí-me logo na garagem com aquele casal que saiu com alguma dificuldade dum Ferrari cinzento todo racing, ela nos quarenta e muitos, loira, alta, magríssima, batom encarnado, saltos altíssimos, calças justíssimas, praticamente a cortar a circulação, camisa branca aberta até ao quarto botão com o sutiã todo maroto a dizer olá ao mundo, ele bem entrado nos setenta, as costas curvadas, a empurrar o carrinho das compras atrás dela, naquele passo parecido com o das crianças atrás das mães, que vai variando entre uma corridinha e uns passos rápidos, a dar o tudo por tudo para a conseguir acompanhar, ela desembaraçadíssima, a escolher os alimentos mais fit e saudáveis, a pô-los no carrinho, ele a tentar tirar um pacote de bolachas de chocolate à socapa, com os olhinhos a brilhar, ela a arrancar-lhe o pacote de bolachas das mãos com ferocidade e a voltar a pô-lo na prateleira, a dizer-lhe altíssimo enquanto revirava os olhos "Oh Manel, vá ver-se ao espelho, não vê que está gordíssimo", ela a ir por ali fora com a sua carteira caríssima a tiracolo, sem vacilar em cima daqueles saltos, a dar-lhe um grito irado lá do fundo do corredor, apontando para o carrinho "Oh Manel, empurre!,  mexa-se!, está aí a criar raízes, é?", ele a dizer que podiam levar um peixinho para o jantar e ela a dizer-lhe que levasse, que ela de qualquer forma ia jantar fora, e depois tive de me ir embora, que já parecia mal estar ali especada, não sem antes pensar que isto de ser casado com uma mulher-troféu, a partir de determinada altura, pode ser mesmo uma profissão de alto risco.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Graças a Deus - literalmente - pelo empreendedorismo!

Que aquilo dos santinhos para despachar ou também conhecidos como santinhos ready-to-go é uma excelente ideia, uma ideia que veio preencher uma enorme lacuna no mercado, uma ideia com um potencial de tal forma grandioso que eu até propunha que se fosse um pouco mais longe, que se criasse uma espécie de drive-in de santos para que uma pessoa não se visse obrigada a perder um único minuto do seu precioso tempo, em que não fosse preciso estacionar, bastava abrir  a janela, fazer o pedido e seguir em frente já na posse de um queridíssimo Menu McSaint (São José - pacote c/ 100 santinhos de papel + vela perfumada com oração), ou de um amoroso Happy-Prayer (50 mini-terços para lembrança em azul ou rosa + oferta de 1 miniatura da Basílica de São Pedro para brincar) ou até de um sublime AllSaints-Deluxe (Rosário Electrónico Divino Pai Eterno SS17 - importado directamente de Itália), kits pensados para facilitar a nossa vida religiosa e melhorar a protecção divina. Caramba, isto sim, isto era serviço público! 


quarta-feira, 8 de março de 2017

A minha vida é um enorme problema! E a culpa é vossa!

Instigada que fui pela vossa resposta positiva aos meus anseios, numa opinião quase unânime, mandei uma mensagem ao arquitecto a dizer que prefiro o Carrara. E mandei uma fotografia para exemplificar, dizendo que gosto mesmo é deste Carrara, o que tem os veios muito definidos, que parecem partidos/rachados, por oposição ao outro Carrara que tem o aspecto de teia de aranha. Que é mesmo este que quero, mande-se vir as amostras que a escolha está feita, que já não consigo visualizar qualquer outra opção.


Ele acabou de me responder a dizer que esta pedra não é Carrara, que é Calacatta e que é mais cara. Agora estou aqui desesperada, sem conseguir imaginar outra hipótese que não a Calacatta e à espera de saber o que é que isso do "mais cara" significa em euros.

A questão é a seguinte:

Havia dúvidas na escolha da pedra. Então resolvemos fazer as casas de banho de um dos apartamentos de baixo nesta pedra pele de tigre para, depois de as vermos montadas, decidirmos se, no nosso apartamento, também usávamos esta ou se optávamos pelo carrara (que era a pedra inicialmente orçamentada). Acontece que agora toda a gente adora esta pele de tigre, os arquitectos, o meu consorte, o fiscal da obra, os visitantes, sei lá eu, foi uma coisa que se lhes deu com esta pedra, uma grande estima, um avultado amor, uma benquerença ilimitada, uma paixão incontrolável.

E depois, do outro lado, estou eu sozinha: a única que prefere o carrara.






terça-feira, 7 de março de 2017

Percebi agora mesmo que isto é uma coisa de família!

Reparem como ela subrepticiamente irrompe pelas nossas criações artísticas, como pulula os nossos sonhos e, sem darmos conta, nos aparece aos dois, a mim, no quadro de ontem e ao meu pai: AQUI.

A Manuela Ferreira Leite é, sem qualquer espécie de dúvida, uma musa inspiradora de família!


segunda-feira, 6 de março de 2017

Alguém pode vir aqui num instante dar-me um incentivo, antes que o Pipoco se apresente para arrasar definitivamente a minha autoestima artística?

Depois de quatro fins-de-semana a pintar este quadro. Quatro. A minha adorada família apresenta-se junto a mim, à vez e cada um por si, e perguntam: onde é que vais pendurar isso. Sim, a minha adorada família refere-se à minha arte como "isso". E depois concluem: No teu escritório, não? O que se pode traduzir por: tira-nos isso da frente. O pior é que, tendo em conta as minhas dificuldades com o figurativo, eu achava que até que nem estava nada mau -foi pintado com base noutras pinturas, mas, ainda assim, achei que nunca iria conseguir - e agora preciso que alguém me diga isso mesmo, que não está nada mau. Pessoas? Alguém? Mãe? Tu que gostas de tudo o que eu faço, importas-te de vir aqui dizer bem? Por favor! És a minha última esperança!



quarta-feira, 1 de março de 2017

E então a pessoa pergunta à sua Maman:

Já viste a minha planta nova, não é maravilhosa?


E a minha Maman responde muito convicta: 
- Oh, vê-se logo que é falsa!