quinta-feira, 15 de março de 2012

Manhã dos infernos

Acabada de me sentar no meu local de trabalho, oiço o telefone. Olho para o visor e vejo “escola”. A temperatura corporal altera-se de imediato. Atendo à espera de ouvir, como de costume, um “não se preocupe mãe, não é nada!”. Não é isso que oiço. Oiço a professora a dizer: “Olá mãe. Tenho aqui a sua filha um bocadinho lesionada.” Temperatura corporal entra em terrenos negativos. Filha bateu com a boca e tem um dente que precisa de ser visto. Temperatura corporal sobe repentinamente, transformando-se em suores frios. Para espanto geral (e confirmação dos meus poderes mágicos) quatro minutos depois estou na escola. Filha não está a chorar. Filha está calma com gelo na boca. Filha é forte. Filha é surpreendente. Peço-lhe que me mostre os dentes. Verifico que um dos dentes da frente está, de facto, a abanar. Ligo para o dentista. Recepcionista diz que vai confirmar se o dentista nos pode receber. Digo-lhe que não vale a pena. Que estou a caminho e que o dentista não tem outro remédio senão receber-nos. Desligo sem dar hipótese que me responda. Abalamos para o dentista. Dentista é no Chiado. Faço (novamente) magia e encontro lugar para o carro sem ter de penetrar nas entranhas da terra (uma das minhas fobias a que, um dia, aludirei). Levo filha ao colo (que queria mimo) até ao dentista. Arruíno as minhas costas no percurso. Dentista (certamente avisado pela recepcionista do meu estado tresloucado) atende-nos de imediato. Diz que está feio, mas que não há nada a fazer no momento. Para comer tudo cortado, não forçar o dente e para ir comer um… gelado (por causa do inchaço)! Abandonámos o dentista em busca do único gelado apreciado por filha: Calipo de Coca-Cola. Subimos em direcção ao Chiado, entrando em todos os locais para perguntar se tinham “O” gelado. Nada. Chegámos ao Largo do Camões. Nada. Avisto ao longe uma loja da Olá (quem sobe a Rua da Misericórdia, vindo do Largo do Camões, é logo ao princípio do lado esquerdo). Avançamos energicamente nessa direcção. Entro na loja e peço à senhora que se encontrava atrás do balcão “O” gelado. A senhora responde-me com maus modos. Diz que a loja só abre ao meio dia. Explico-lhe que filha bateu com a boca (filha encontrava-se ao meu lado com a boca feita num oito)e que o gelado ajudaria. Repete, novamente com maus modos, que a loja só abre ao meio dia (eram 11h45). Sou possuída pelo espírito de uma varina, tapo os ouvidos a filha e chamo-lhe tão alto quanto possível: SUA CABRA ESTÚPIDA! (sem desprimor para as cabras, é claro). Abandono a loja para não mais lá voltar.
Vamos para o carro e filha quer voltar para a escola (?) mas pretende fazer uma entrada em grande com “O” gelado. Vamos parando em todos os locais com placard Olá. Nada. Quase a chegar à escola e já desesperadas, encontramos, finalmente, o aguardado Calipo de Coca-Cola. Gritamos felizes. Transeuntes olham-nos desconfiados, sem perceber a alegria de uma mãe com um gelado de água, corantes e açúcar.
Filha ficou agora na escola e eu, eu estou a descomprimir das emoções desta manhã tenebrosa…
    

6 comentários:

  1. Cuidado que os miúdos são tramados. Amanhã ou depois, é bem capaz de mandar outra dentada num degrau da escada, só pelo prazer de comer um gelado de água e borras de café. loool

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    1. Nãããããooooooooo.... o meu coração não aguenta mais emoções destas... ;)))

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  2. ..tadinha da filha!! :(
    ...bem, fiquei descansado, por dedução, que a causa do acidente não tenha sido um colega mais rebiteso ou uma daquelas amiguinhas da onça que elas, de uma forma inexplicável, tanto cultivam nessas idades, senão, pela forma como a mal educada da empregada foi tratada, não sei o que teria acontecido na escola...

    compreendo perfeitamente os momentos de ansiedade antes de chegarmos junto deles, já passei por alguns, são momentos tramados com a cabeça a mil e a imaginar sempre as piores consequências..

    enfim, as melhoras para a gaiata

    :))

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    1. Obrigada! Acho que o dente vai recuperar. Para a semana vai fazer uma radiografia. A minha Giselle Bundchen sem dente é que não dá! Ainda vou tirar satisfações do sucedido, na escola... Para ver se o espírito da Varina volta a baixar em mim :DDD

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