sexta-feira, 1 de março de 2013

A pulseira e o arpão

Ofereceram-me uma pulseira. Uma daquelas rígidas que não passam na mão, que têm de se abrir e, depois, clac, fecham-se no pulso como uma algema. Ontem fui buscar a pulseira, clac no pulso e, depois de constatar quão desconfortável era aquilo, vá de tentar abri-la para a tirar. A tarefa revelou-se infrutífera. Puxa para aqui, puxa para ali e a pulseira nada. O sentimento de claustrofobia a subir-me pelo corpo. O pulso preso, a mão presa, o braço preso, o corpo todo dentro da pulseira. Deixou de ser um pulso com uma pulseira, para passar a ser uma pulseira com uma pessoa lá dentro. Como, como, como é que uma pessoa sai desta armadilha? Depois, lembrei-me do senhor do arpão. O senhor apresentou-se no consultório do meu avô com um arpão que lhe entrava por um lado da perna e lhe saia pelo outro. O amigo com quem tinha ido fazer pesca submarina tinha má pontaria e, em vez de pescar o peixe, pescou-o a ele. O pescado vinha pelo seu pé, a arrastar o arpão, como se de um robalo fresquinho se tratasse. O amigo vinha atrás e via-se que sentia, até, algum orgulho naquela pescaria. Afinal, aquele era o seu primeiro exemplar com oitenta quilos. Só faltou o retrato do homem e do seu peixe. Mas, adiante. O meu avô olhou para aquilo e vá de tentar puxar o arpão. No entanto, rapidamente constatou que, tendo em conta as extremidades do mesmo, teria de retalhar a perna do senhor em postas para o conseguir extrair. Assim sendo, e depois de aturada discussão, o meu avô mandou o senhor ao ferreiro para que cortasse uma das extremidades do arpão para que, então, o pudesse puxar, evitando assim uma intervenção cirúrgica mais profunda. E, se o senhor doutor assim dizia, que sim senhor, que assim se faria. Foi assim que o senhor voltou a sair para a rua, atravessando a cidade arrastando um arpão atrás de si. Chegados ao ferreiro, explicou-se a situação: Que o senhor doutor, assim, não tinha condições para trabalhar e, como tal, era necessário cortar o arpão. E o ferreiro, se o senhor doutor assim receitara, disse, de imediato, que assim se faria. Esqueceram-se todos que, para cortar o metal, era necessário aquecê-lo e que o metal é um excelente condutor de calor...
E pronto. Se nem ao ferreiro posso ir com a minha pulseira, resta-me aceitar o destino: Eu Palmier Maria, sou a mais recente refém de uma pulseira-algema. Serei, para todo o sempre, uma fashionista-super-estilosa!

9 comentários:

  1. Constato com alguma satisfação que o nonsense já vem de trás :)

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  2. Sabes aquela sensação de arrepio que te põem tensa e com dores musculares desde a nuca até à ponta dos pés? Pois... É como me estou agora a sentir só de me imaginar com um harpão enfiado numa perna a falar com um ferreiro que obviamente vai ter que o aquecer... Obrigadinha oh palmier!... :p Bom dia também para ti! ;)

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  3. Ah ah ah ! Essa história está um máximo.
    Quanto à pulseira, menos mau que ao menos é gira.

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  4. Espero que pelo menos não seja muito pesada.

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  5. Vá lá que não é uma gargantilha !!!!

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  6. É a 1ª vez que comento e deixa-me dizer que tens um belo blog =)
    Já me fartei de rir com as coisas que escreves e as cenas que fazes com o teu cão, deliciosas =P

    Os meus parabéns =)

    Beijocas

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  7. Creme. Camadões de creme e puxa - em último caso, podes sempre partir (ou deslocar) o polegar.
    Fora de brincadeiras, grande galo. mas ali acima a Maria D Roque tem toda a razão...
    E hás-de dar a volta à questão.
    (e porque é que a trilogia dos '50 tons de cinzento' me veio à ideia?)

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  8. Mau. Assim se começa.

    Agora uma pulseira, depois uma grilheta, depois...pois.

    Bem me parecia que literatura a mais algum efeito pernicioso faria.

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  9. Palmier isso é só uma questão de pressão certa. Tenho um relógio (não posso dizer a marca;)com uma bracelete assim.


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