quarta-feira, 21 de junho de 2017

Está tudo bem

Só que, com a enormidade do que se passou no fim-de-semana, a vontade de escrever foi-se. Escrever sobre o quê afinal? Sobre o tom de cinzento da pintura da fachada, sobre pequena Cutxi, que nem com este calor dispensa um serão passado ao meu colo, sobre o quê? Tudo parece tão estúpido... É que nestas alturas uma pessoa fica de braços caídos, sem acreditar muito bem no que se esta a passar, a olhar para a televisão e a pensar como e que deixamos arder um pais tão pequeno, as suas gentes. As nossas gentes. Como é que os governantes vão para a televisão dizer que, por mais que tenham feito ou estejam a fazer, estão de consciência tranquila?! Eu, que não tomo decisões, que não percebo nada de botânica, nem de florestas, nem de fogos, não estou de consciência tranquila, ninguém de bem pode estar de consciência tranquila quando famílias inteiras foram esturricadas numa estrada.

E pronto, foi por isto que não escrevi, por pudor, porque sou sempre forte, porque não cedo aos sentimentos, porque em 2003, tinha o meu filho meia dúzia de meses, vi o fogo mesmo ali,  a subir o vale, e fui virar o carro para o portão, para estar pronta para fugir por uma qualquer estrada...

28 comentários:

  1. Já dei mil voltas à cabeça a pensar o que posso fazer, eu, para que esta porcaria nunca mais aconteça.
    É tão revoltante.
    Em 2003 tiveste sorte, tivemos todos.

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    1. É isso que é preocupante. Aparentemente estamos todos dependentes da sorte...

      (também não sei, Susana, é uma total sensação de impotência...)

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    2. Olha, mas vou aproveitar para te dizer uma coisa: isto que tu fazes aqui, no blogue, com um sentido de humor brilhante, inteligente, sem nunca diminuir alguém mas por vezes levantando problemas pertinentes, refletindo e fazendo refletir neles, depois acolhendo algumas alfinetadas provenientes de quem terá pouco que fazer, e é com uma elegância que, sabes, no cômputo geral, tudo isto, este blogue, constitui um bom exemplo de cidadania, para dizer o mínimo. Um exemplo que se repercute, se propaga. Ou seja, querida Palmier, é de muito valor.

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    3. A Susana colocou em palavras o que eu sinto.

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    4. A Susana disse exactamente o que penso, Palmier.
      (Não podemos todas ver mal ;) )

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    5. São muito boas para mim, é o que é! :D

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    6. Eu também concordo com tudo o que a Susana disse.

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  2. caraças, miúda, estavas a deixar-me/nos preocupada.


    flor

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    1. Estava/estou tomada pela angústia. Acho que estamos todos :/

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  3. Sabes que penso exactamente o mesmo , eu , na minha insignificância custa me a dormir , continuo sem perceber como ficaram presos na estrada , como foram lá parar . E depois vejo na TV quem realmente decide que foi tudo feito , que estão todos tranquilos , de consciência tranquila .

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  4. Querida Palmier, somos muitos que tivemos sorte em 2003...que o fogo estava longe, a uns bons quilómetros e nisto ja tinha chamas ao pé de mim. Em escassos minutos...

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  5. É isso mesmo, é pensar tanta vez no que eu poderia ter feito e no que posso ainda fazer... É não conseguir aceitar aquelas mortes, é ter lágrimas nos olhos cada vez que ouço as notícias. Dói tanto.

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  6. Palmier, pelos vistos não é exagerado eu ter pensado que poderia ter-se passado algo contigo, não fui a única. Ainda bem que nada de grave aconteceu, de certa forma fico aliviada, o que é estranho. Afinal isto não são só blogs.
    Cada vez que vejo fotos de famílias que ficaram nessas estradas é uma angústia imensa e, eu nem sequer tenho filhos, imagino quem tenha.
    Um beijinho

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  7. Estive uns dias em Londres e andei sempre angustiada com as notícias do incêndio na torre de apartamentos que dizimou famílias inteiras. Regressei a Portugal e não vejo outra coisa senão notícias sobre as famílias que perderam a vida no incêndio. Nos dois casos a mesma pergunta: como foi possível?
    Percebo perfeitamente o teu silêncio,

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  8. Carambas, Palmier! Este silêncio foi horrível. Já pensava no pior.

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  9. A Flor tem razão. Precisamos de uma batalha.

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  10. Moro num quarto andar, sem elevador, num prédio dos anos 70. Ontem não conseguia adormecer a pensar se deflagrasse aqui um fogo o que eu deveria fazer com os meus dois filhos. Imaginava-me a molhá-los, a embrulhá-los em cobertores molhados, em tapar a boca com pano molhado... mas como, os três, rápido e para sair... e se o fogo já tivesse nas escadas de tal modo que tivéssemos de passar pelas labaredas... e ir para a varanda!?!? Não conseguia adormecer. Notei que os meus ombros estavam tensos, e começou a aparecer uma dor de cabeça. É verdade, estar dependente da sorte é aterrador.

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  11. Creio que o que aconteceu nos afligiu, magoou, entristeceu-nos a todos. Independentemente dos erros e das culpas, foi e é uma coisa horrível.
    Lembro-me de em Setembro de 2001, no dia do baptizado da minha filha, bébé de 3 meses, num dia de calor horrível, ver o fogo lavrar a serra perto da casa e implorar ao meu marido para irmos embora. Felizmente foi só o susto, o fogo não se aproximou das casas, mas o medo é enorme.
    Ainda bem que está tudo bem contigo. Não são simplesmente só blogs...

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  12. Horrível! Tudo isto!
    Também me lembrei de 2003, pois também o meu tinha meses! Foi um ano terrível! Na Madeira, onde estávamos de férias e em Monchique, para onde sempre íamos de férias!
    Mas desta vez é muito pior! A dimensão humana, os que foram, os que ficaram, nós que assistimos... quando conhecemos algumas pessoas...
    Até quando vamos andar nisto?
    Eu juraria que todos os anos, pelo menos desde 2003, os governantes têm falado da mesma maneira e que o SIRESP, que é um enorme escândalo, nunca funcionou... talvez apenas no pagamento de comissões!

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    1. Yap. Em 2003 também vivi o incêndio no Algarve, mais à distância, que estava em Lagos, mas havia cinza e fumo por todo o lado. E depois, em Setembro, perto de Mafra...

      Não sei mesmo,a sensação que tenho é que qualquer medida que se tome agora, a correr, é mesmo e só para inglês ver, para aparecer na televisão, a ver se nos esquecemos do que se passou...

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  13. Raramente assisto a noticiários. Todos os dias existem tantas e tantas desgraças, que não há coração que aguente sequer tomar percepção de uma pequena fracção destas.
    Mas esta, caramba! Tenho-me sentido numa espiral de comoção, de empatia pela dor alheia que não há escala para quantificar, acima de tudo tanta, mas tanta frustração pelas desgraças que se repetem, pelas falhas...

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  14. Hoje no mercado de Alvalade entre as 18h30 e as 22h00 recolha de bens para serem entregues ainda esta noite directamente no quartel dos Bombeiros de Pampilhosa da Serra que fizeram um apelo na net. Iniciativa de Joana Adão voluntária que apesar de não conhecer a vila se vai fazer à estrada esta noite.
    "Hoje, dia 21, após contacto com os Bombeiros Voluntários de Pampilhosa da Serra, e dado o agravamento da situação, será feita amanhã uma recolha de bens junto ao Mercado de Alvalade entre as 18h30 e as 22h. Será feita a entrega no quartel de bombeiros de Pampilhosa da Serra ainda durante a noite de amanhã.
    Verificam-se as seguintes necessidades urgentes:
    - ⚠Fruta;
    - ⚠Carne fresca, peixe, batatas, ovos e outros alimentos (para efetuar as refeições quentes aos bombeiros);
    - Pratos, copos e tacinhas de sobremesa c/ tampa descartáveis;
    - Papel higiénico e guardanapos;
    - Sumos (pequenos preferencialmente)
    - Águas (pequenas preferencialmente)
    - Águas com gás (pequenas preferencialmente)"
    https://www.facebook.com/profile.php?id=100003775160548&fref=nf

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