Há muitos, muitos anos, antes mesmo do nascimento da minha brilhante pessoa, papai, tendo acabado a sua licenciatura, dava consultas no famigerado hospital Júlio de Matos (conforme já referi aqui, papai é psiquiatra - razão pela qual ainda hoje sofro as consequências da sua predisposição mental, tendo em conta o nome que me foi atribuído ao nascer, conforme também já tive oportunidade de referir aqui).
Continuando... Papai, depois tratar um seu paciente com sucesso (ou não... tendo em conta o que se segue) foi ofertado com um garboso, magnífico e sedutor animal. Uma galinha. Acontece, que a maravilhosa galinha se encontrava num estado muito particular. Ou seja, a elegante galinha encontrava-se VIVA. Ora papai, que nunca foi um rapaz dado às artes da avicultura, recebeu tal oferenda algo contrariado. Fez variadíssimas tentativas de recusar a ave mas, o paciente, pessoa muito pouco equilibrada (vá-se lá saber porquê), mostrou-lhe, de forma bastante veemente (ameaçando o seu médico com o suicídio) que ele teria, efectivamente, de receber aquela dádiva.
Assim sendo, papai, recebeu a galinha (VIVA) que se apresentava exemplarmente acondicionada numa cesta de verga, com a cabeça de fora para poder observar convenientemente o mundo hospitalar. Papai passou o resto do seu dia de trabalho com um galináceo a seu lado (imagino os pacientes que, dados a alucinações, presenciaram tal cena no consultório do seu médico...).
Finda a labuta, papai dirigiu-se ao carro e colocou a cesta com galinha VIVA no porta bagagem. Papai acelerou, feliz, em direcção ao seu lar. Aí chegado, papai abandonou a cesta com galinha (VIVA) no porta bagagem e subiu as escadas para comunicar a boa nova a Maman.
Conta-se por aí que Maman ficou deveras perturbada. Maman recusou-se de imediato a proceder ao assassinato de galinha VIVA. Maman mandou papai oferecer a galinha a outrem. Acontece que papai já se tinha afeiçoado à sua galinha (depois de todo um dia de convivência e partilha) e não estava apto a passá-la para mãos de desconhecidos. Papai queria agora (mais do que nunca) saborear a sua galinha.
Papai e Maman sentaram-se na sala com o objectivo de debater tal tema. Papai não cedeu. Papai elaborou um plano de acção. Papai enredou Maman na sua teia e premeditaram o assassinato até ao mais ínfimo pormenor. A coisa desenrolar-se-ia assim:
No dia seguinte, papai deslocar-se-ia ao seu carro, traria a galinha VIVA para casa e, em conjunto (papai e Maman), amarrariam as patas e as asas da querida ave de papai e, de seguida, (tal qual Miguel de Vasconcelos) defenestrariam a criatura (em português vernáculo, atiravam-na pela janela). Fizeram um Hi-Five (esta gesto é já fruto da minha imaginação) e foram-se deitar, ansiosos pela chegada da manhã seguinte.
Mal acordaram e de acordo com o plano, papai dirigiu-se ao carro para proceder ao resgate de galinha VIVA. Papai desceu as escadas ruborizado, na expectativa de rever o seu galináceo. Acontece que, ao abrir o porta-bagagem, papai deparou-se com a sua galinha VIVA num estado ligeiramente diferente. A sua sedutora galinha VIVA encontrava-se ligeiramente morta. A sua galinha VIVA havia falecido durante a noite. Depois de analisar a situação, papai verificou que a sua galinha VIVA havia sucumbido por asfixia.
Papai, dividido entre o choque e o alívio, levou a sua galinha VIVA, já morta, para casa e tentou convencer Maman que tinha sido melhor assim. Que, nestas circunstâncias, podiam saltar a parte da defenestração e passar directamente para a fase da panela.
Desta feita, foi maman não cedeu e, tal como no caso das enguias (aqui referido), o animal vivo que entrou em nossa casa para ser transformado num repasto de haute cuisine, acabou, miseravelmente e sem qualquer tipo de glória, no caixote do lixo.
A galinha deve ter morrido de sede (se foi no Verão, tanto pior), porque a mala de um carro tem, só por si, ar suficiente para uma galinha, sem contar com os respiradores e com todos os orifícios que de algum modo comunicam com o habitáculo, reservatório com mais uma provisão de ar suficiente para um galinheiro completo ahahah.
ResponderEliminarChiça, animais aí em casa é melhor não ahah.
Se calhar foi isso... faltou a autópsia. Não que fizesse diferença. Mamãe recusou cozinhar animal morto por causas desconhecidas!
EliminarCoitada, acabou por morrer sem ser "comida" eheheh
ResponderEliminarFoi-se em jejum... :DDD
Eliminar..segundo consta, não que perceba alguma coisa disto mas por ouvir dizer, os animais de sangue quente têm de ser sangrados, alguns ainda e também capados (caso dos porcos) e outros até "desglândulados" (caso dos borregos) antes de serem cozinhados, senão o resultado final em termos de paladar pode não ser o esperado. isto de transformar animais vivos em refeições tem muito que se lhe diga.
ResponderEliminarmas agora também te digo uma coisa, matar uma galinha, atirando-a pela janela, de patas e asas atadas, de um carro em andamento, para depois a ir cozinhar, é no mínimo surreal... :))
estou só a imaginar o quadro: um carro a descer a rua e da janela do pendura sair disparada uma galinha toda atada; o carro parar mais à frente, uma senhora toda distinta a sair da viatura, analisar o animal e dizer para o marido: "ó querido a bicha ainda está viva, vamos repetir e vê lá se aumentas um bocado a velocidade.."
tenho cá para mim que o animal se apercebeu que algo não estava a correr bem, porque os animais têm instintos que muitas das vezes nos fogem à compreensão, e não morreu nem asfixiado nem de sede, suicidou-se..
:|
:))
Oh pááá... a tua versão é melhor do que a realidade! ahahahhahahahha a ideia era defenestrar o galináceo através da janela da cozinha. Se a ideia fosse atirá-la pela janela do o carro com o dito em andamento, tinha sido muito MELHOR! O que já me ri com este upgrade...
EliminarAAHHHH!! da janela da cozinha.. que parvo que sou.. claro, assim já faz todo o sentido (só falta dizeres-me que os teus pais moram num 1º andar) :)))
Eliminar..mas continuo a achar que a natureza cumpriu o seu sábio papel de selecção natural em relação à esperança de vida do animal, porque de certeza que o teu pai tinha ganho umas valentes batatas nas barrigas das pernas de tanto subir e descer as escadas, e a tua mãe alguma depressão pelo acumular, por parte do animal, de inúmeros e infrutíferos traumatismos nessa saga defenestradora...
:)
Era um primeiro andar!!!! :DDDDDDDDD
EliminarEu acho Penélope um nome lindo!
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