segunda-feira, 26 de março de 2012

A minha própria Lloret del Mar

Aqui há uns anos, estava eu em casa (sita num segundo andar de uma Rua de Lisboa), sentada na minha mesa junto à janela a estudar para um exame  quando, de repente, oiço um grito. Olhei para o exterior para ver o que se passava e, eis senão quando, vejo passar pela minha janela algo que o meu cérebro não foi capaz de assimilar de imediato.
Fiquei sentada durante uns segundos a estabelecer uma conversa comigo própria. A conversa era a seguinte:
eu - Era uma pessoa!
eu - Impossível, pessoas não passam pela nossa janela a alta velocidade e em sentido descendente (nem em sentido ascendente, vá). Era um tapete!
eu - Era, era... Era uma pessoa!
eu - Impossível, pessoas não passam pela nossa janela a voar naquela direcção. Eram umas calças!
eu - Mas também tinha camisola. Era uma pessoa!
eu- Impossível, as pessoas descem a escada, não saem de casa pela janela. Era um cobertor!
eu - Os cobertores não têm cabelo. Era uma pessoa!
eu - Realmente... (acabei por concordar comigo própria), acho que era uma pessoa!
Corri à varanda, debrucei-me e sim, lá estava a minha vizinha do 4º andar, estatelada no chão, imóvel. Estupefacção, horror, pânico. Corri para dentro, aos gritos. Nessa altura tinha uma empregada guineense chamada Fátima. Gritei-lhe histérica:
- Fátimaaaaaaaaaaaaa.... Chame uma ambulânciaaaaaaaaaaaaaa imediatamente! Caiu uma pessoa lá de cimaaaaaaaaaaaaa...
A Fatima apercebendo-se da situação e levada pela minha aflição, apareceu vinda lá de dentro, com as mãos na cabeça, também ela aos gritos, dizendo:
- Ai mininaaaaaa... Não sei como se chama ambulância!!!
Corri para o telefone, liguei para o 112. A senhora do 112 queria que eu explicasse em que estado estava a vizinha. Eu só me lembro de estar ao telefone, a tentar explicar que não sabia (que não tinha ido lá abaixo ver), ao mesmo tempo que Fátima continuava a correr de um lado para o outro da sala com as mãos na cabeça, guinchando descontroladamente que não sabia chamar a ambulância... 
a vizinha sobreviveu e eu... eu não precisei de ir a Lloret del Mar... Lloret del Mar veio até mim...

2 comentários:

  1. Por momentos pensei que tínhamos morado na mesma rua. Eu, quando vivi em Lisboa, tive o azar de assistir ao suicídio do meu vizinho. Estava a meio do jantar comecei a ouvir gritos e fui à varanda,na altura errada, exactamente quando o homem saltou de um quarto (ou quinto) andar. Vomitei o jantar e nunca mais apaguei essa imagem da mente :(

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  2. Também eu... não dormi bem durante uns meses... com a imagem da vizinha a passar... Ainda por cima ela era minha amiga (devia ter mais 3 ou 4 anos que eu) e, em pequenas, brincávamos juntas.... Foi um filme de terror :(

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