A minha empregada é uma pessoa inteligentíssima. Veio da Guiné para Portugal há cerca de vinte anos, conhecendo bem as dificuldades da vida. Casou com um guineense, muçulmano, bancário. Teve dois filhos. Não teve oportunidade de fazer grandes estudos mas sentia que tinha conseguido organizar a vida. Ganhava o seu dinheiro e não dependia do marido. Sentia-se orgulhosa pelo que tinha conseguido. Pessoa cumpridora, de sorriso franco, dentes lindos, sempre pronta a ajudar. Sempre com boa vontade, daquela de verdade. Aquela pessoa que sabemos que podemos contar. Voz doce, meiga e amiga dos meus filhos. De há uns tempos a esta parte, o sorriso foi rareando, os olhos foram ficando tristes e perdidos. O filho mais velho tem agora catorze anos e é um menino bonito e muito alto para a idade. Chumbou o ano passado e este ano não estava a correr melhor. Não queria estudar, faltava às aulas, deixavam-no sair da escola sem autorização, passava o dia sem se saber onde. Tentámos várias abordagens para tentar trazê-lo de volta. Desde prémios por boas notas que ainda teve no primeiro período do ano passado que que lhe valeram uma Play Station, conversas sobre a realidade da vida, uma ida à Guiné para se aperceber das facilidades que tinha aqui em Portugal e... nada. A minha empregada não é uma mãe relapsa. É uma mãe preocupada. É uma mãe que foi dezenas de vezes à escola pedir ajuda, que correu os centros de saúde e os hospitais tentando marcar uma consulta de psiquiatria (e foi chutada de um lado para o outro), psicólogos, comissão de protecção de jovens em risco, tentando encontrar a ajuda que sabia precisar. Viu portas a fecharem-se-lhe na cara mas não desistiu. Persistiu na busca de uma solução para um problema que sabia que não conseguia resolver sozinha. Acontece que as ajudas são demoradas neste país e, entretanto, o menino foi apanhado com um grupo de jovens maiores de idade que roubaram um telemóvel e, posteriormente, um relógio. Aparentemente, ele não terá participado no roubo, limitando-se a assistir.
Hoje, a minha empregada faltou e não avisou. Telefonou-me há pouco. A voz vinha do fundo do poço mais fundo:
- Levaram-me o meu filho... disse-me.
E eu não sei dizer se foi o melhor. Se era esta a solução. Se não havia outra. Sei que hoje foi o dia em que o filho de alguém, o filho dela, um filho, um menino de catorze anos que é amado pela mãe, foi institucionalizado. Levaram-no. Da mesma forma que os amigos roubaram um relógio, o tribunal levou um filho a uma mãe que eu sei que fez de tudo para o ajudar. E eu... eu senti a dor dela...
Uma mãe que fez sempre o melhor que pôde, e o melhorque pôde foi muito bom, o que faz dela uma boa mãe, ainda que um tribunal tenha entendido que ser uma boa mãe não basta. Poruqe, por vezes, ser boa mãe não basta mesmo.
ResponderEliminarEnorme post, Palmier!
Marta
Eu sei... mas a tristeza dela. Infinita. :(
EliminarNão posso acreditar! Retiraram a custódia à mãe?! Ou colocaram-no numa daquelas instituições para menores com perturbação da conduta, vulgo reformatório? Quase tenho medo de saber a resposta...
ResponderEliminar(um) beijo de mulata
Reformatório...
EliminarÉ uma tristeza, isto, ela tem ajuda legal?
ResponderEliminarHistórias como esta fazem-me crer que isto de educar filhos é uma autêntica roleta russa, uma pessoa transmite-lhes valores, dá-lhes amor, segurança, incute curiosidade e brio... e depois ergue as mãos para o céu e reza para que os amigos não estraguem tudo.
Isto é tão verdade... Tenho um menino de 2 anos e penso muitas vezes nisto. Por mais que nós pais nos esforcemos... Haja uma luz maior que os ilumine!
EliminarNão conseguiria dizer melhor... Hoje à tarde vou saber os detalhes...
EliminarAi Palmier que me deixaste tão triste...
ResponderEliminarQue dor a dessa mãe...
Um reformatório é o sitio ontre entram meninos e saem criminosos...
Ai Palmier e não haverá nada que se possa fazer?
Hoje à tarde, vou tentar perceber exactamente o que se passou, para ver o que é possível fazer. Ela ontem não estava capaz...
EliminarSe houver alguma coisa que se possa fazer deste lado, diz-me!
EliminarEu ia dizer que ia triste para a cama depois de ler isto, mas depois pensei na dor que essa senhora deve estar a sentir neste momento. Ela sim, hoje irá para a cama acompanhada por uma tristeza tão grande que não consigo sequer imaginar. Essas idades são problemáticas, o que aliado à fraca resposta estatal, resulta numa combinação terrível, pese embora todo o esforço feito pela mãe para mudar o rumo do filho. Se for possível ajudar em alguma coisa, avisa por favor.
ResponderEliminarÉ, realmente, uma situação infinitamente triste... hoje, vou inteirar-me dos detalhes.
EliminarRealmente que triste. Imagino a tristeza dessa mãe, quer dizer, na realidade acho que nem consigo imaginar! Espero que ainda se resolva da melhor forma possível. É injusto para essa mãe.
ResponderEliminarVamos ver o que se consegue...
EliminarPalmier, será que não podemos ajudar de alguma forma? Arranjando ajuda legal? Algo que ajude essa mãe e o menino. A mesquita de Lisboa não a poderá ajudar?
ResponderEliminarHoje vou perceber melhor que, ontem, ela não estava capaz de explicar nada...
EliminarTenho acompanhado o blog já a algum tempo e ao ler o que escreveu o meu coração ficou apertado, também eu sou filha de alguém que deixou a terra natal para dar melhores condições de vida aos filhos.
ResponderEliminarA minha mãe é enfermeira e trabalhou imenso fazendo turnos que levavam a que tivessemos que passar noites sozinhos. Felizmente mesmo com algumas escapadelas para ir a discotecas nunca me meti em sarilhos.
Contudo não posso deixar de sentir a sua tristeza e a dor dela, pois hoje sou mãe e vivenciei todos os sacrifícios que a minha mãe teve que fazer para que hoje tanto eu como o meu irmão estejamos licenciados.
O menino corre o risco de ficar revoltado e de sair pior do reformatório, mas é preciso estar lá e apoiá-lo para que não se perca de vez.
Obrigada Beriour... é realmente aflitivo. Alguma coisa seremos capazes de fazer.
EliminarInfelizmente deparo-me com situações deste género em muitos dos meus dias. Pais que procuram ajuda para os seus filhos que adoptaram comportamentos desviantes, quando tudo o que lhes foi transmitido foi uma boa educação, e valores. Não sei porque é que isto acontece, mas espero sinceramente que esta experiência no reformatório não o faça pior. 14 anos...Que a mãe tenha a força necessária para ultrapassar esta situação.
ResponderEliminarTenho a certeza que sim. Apesar de completamente destruída, é uma leoa. E vai ao fim do mundo buscar forças...
EliminarPalmier: eu fui advogada (agora até sinto uma certa "náusea" quando digo isto), nada funciona. O menino foi retirado à mãe para ser colocado num local pior, mas muito pior, terrivelmente pior. Uma "escola" onde ele vai aprender a fazer tudo o que não deve. E ninguém se interessa. Ninguém se preocupa. Ninguém quer saber. A tua funcionária deve ter andado (como TANTAS vezes me aconteceu) a MENDIGAR ajuda. A PEDIR encarecidamente. À comissão de protecção de menores. À segurança social. Ao centro de saúde. Ao Procurador. E NADA. NADA. Depois retiram as crianças do meio familiar, não ajudam a família que os quer ajudar (reabilitar- se gostares mais). Sabes o que é pior? é que quando DEVEM agir, quando as crianças estão em perigo, porque os pais ou alguma "figura" parental os ameaça e maltrata, TODOS se estão borrifando.
ResponderEliminarHoje deixaste-me triste.
Deixei de trabalhar como advogada porque não aguentava mais. A "Justiça" é uma injustiça. TUDO não serve para nada. E às vezes NADA é suficiente para TUDO.
O reformatório só o vai tornar menos. Menos tudo.E vai ser difícil, muito difícil, depois disso conseguir dar-lhe apoio, ou fazê-lo crer que vale a pena.
Catorze anos e arrancado da mãe. De que forma é que isto pode ser entendido por ele como "justo"? mesmo que tenha praticado actos que devam ser punidos. Não é assim.Não +e assim! É função do Ministério Público "defender" os menores. Onde esteve o Procurador? Onde esteve a sua preocupação?
Um abraço à tua funcionária. Ela tem de ser forte e estar "lá" para o seu menino. Tem de procurar alguém que esteja do lado dela e a ajude a lutar.
Desculpa o comentário longo. Desculpa tudo.
Não tenho nada a desculpar. Percebo tudo o que dizes. Também eu fui advogada...
EliminarSou eu outra vez.
ResponderEliminarAgora estou um pouco mais calma.
A tua empregada tem mesmo de arranjar um advogado.
Se ela não tiver condições económicas para pagar um deve dirigir-se à Segurança Social e preencher um requerimento de "APOIO JUDICIÁRIO" (diz-lhe assim - porque é o que ela tem de dizer na Segurança Social) preenche o dito requerimento e, em 30 dias a Ordem dos Advogados tem de lhe nomear um. Depois ela vai procurar esse advogado e explicar a situação. E ele saberá o que fazer. Baseando-me apenas no que escreveste há por aí algumas "falhas", que, com toda a certeza, podem ser exploradas. Diz-lhe isto. Dá-lhe esperança.
Obrigada :) hoje à tarde vou perceber melhor e tentar orientá-la...
EliminarAssim como sinto o humor e elegria em mtos outros post neste senti a agúnstia e a dor dessa mãe, e o teu bom coração que tenho a certeza vai ajudar.
ResponderEliminarSei bem o que é pedir ajudas e não a conseguir, por outras razões mas que podem declinar em situações parecidas, tb eu sou mãe de uma adolescente complicada,com o oposto, ela sempre triste, auto estima baixa, mto baixa, desinteressada de tudo, em qualquer obstáculo desiste, isola-se, o que me espera não sei, mas o que vivo, uma agústia permanente e impotencia por não conseguir ajudar, por não conseguir que ela mude.
Não conheço leis, não conheço o sistema, mas como mãe e cidadã essa não é a melhor solução, não deve ser, ainda para mais qd o adolescente não é referenciado pq foram logo para essa solução?!!!!
Do fundo do coração que se resolva pelo melhor e rápido, que sirva de lição e que esse adolescente se torne num jovem e adulto melhor.
Abraço forte nesses corações.
Esperemos que sim... que corra pelo melhor...
Eliminar(e muita força para aí também!)
ResponderEliminarQue aflição.
Ela PEDIU AJUDA e ignoraram-na! E agora optam pela hipótese mais fácil: Vamos tirá-lo da "sociedade".... enquanto está "lá dentro" não chateia! E como sairá de lá? Eu não acredito que o reformatório recupere alguém..... com 14 anos?! Quantos mais lá estarão nas mesmas condições. Meninos que precisam de ajuda e o nosso Estado Social, engaveta-os....
Isto pode acontecer a qualquer mãe cujo filho tenha comportamentos desviantes!
Ela pediu ajuda....
Estou tão triste. Só penso nos meus.... Hoje vou lhes contar esta história, para perceberem o tão injusta que pode ser a vida. Para os filhos e para os pais!
Fazes bem... o meu filho (que já tem idade para perceber), ficou muito impressionado. Fez imensas perguntas e hoje estava particularmente dócil com ela. Vamos ver como correm as coisas...
EliminarInfelizmente e a sério que me custa escrever isto, a problemática do racismo não deve ser ignorada nesta história. Infelizmente está muito presente, e cada vez mais. Há umas semanas dei comigo a fazer um telefonema para a esquadra da zona da escola onde o meu filho anda, a perguntar porque é que numa abordagem que fizeram a quatro miúdos que estavam tranquilamente à porta da escola, três deles foram convidados a entrar na escola e a seguirem para as aulas, e um ficou retido ao portão e foi revistado sob o olhar aterrado dos outros. Tudo miúdos entre os 15 e os 16. O miúdo que foi revistado sem qualquer hipótese de dizer de sua justiça é Cabo Verdiano e um dos melhores amigos do meu filho, oriundo de uma família funcional e de gente boa, que se viu completamente impotente perante a atitude claramente racista da polícia. O Senhor comandante não me soube explicar porque escolheram aquele miúdo, teve a lata de perguntar se eu preferia que tivesse sido o meu filho e claramente negou a atitude racista. E eu aconselhei-o, evitando ter uma comunidade escolar revoltada, sempre que decidirem revistar os miúdos à porta da escola, revistem todos e os de todas as cores. Não vai ser fácil a cruzada dessa mãe.
ResponderEliminarÉ absolutamente verdade. Também me fiquei a perguntar se, por acaso, ele fosse branco, se a solução teria sido a mesma...
EliminarAbsolutamente. Não deve ser posta de lado a questão de discriminação aqui. Eu também sou das leis, mas já não trabalho em contencioso e não estou por dentro deste tipo de processos. mas seguramente haverá possibilidade de recurso?
EliminarPelo que percebi, estes processos não estão fechados. As decisões são sempre passíveis de serem alteradas. Depende do comportamento dele... a ver vamos...
EliminarFiquei tão triste... Sei que vais ajuda- lá. Ela é parte da tua família. O carinho e a alegria que ela tem dado aos teus filhos, precisa ser retribuído. É altura de lhe dares tudo o que ela mais precisa.
ResponderEliminarEspero que tudo se resolva para bem do miúdo. A institucionalização não é de todo a solução, arrisco até dizer que o mais provável é piorar... Há alguma coisa que se possa fazer para ajudar?
ResponderEliminarObrigada :)
EliminarVamos ver como é que a coisa se vai desenrolar...
Começo já por pedir desculpa se este comentário ferir susceptibilidades, mas tenho este viciozinho de ver sempre o outro lado da moeda e... vou dar os meus two cents.
ResponderEliminar- vamos pensar que era um filho vosso. que era rodeado por um grupo de rapazes, e lhe levavam o telemóvel e o relógio. o que estava "a ver" e não pediu ou tirou os objectos, é inocente? no mínimo é cúmplice, e se o facto de lá estar foi necessário à intimidação da vítima, é co-autor. pensem nisso, a vítima podia ser um dos vossos, e quem é que lhe curava o trauma de saber que os meliantes tinham escapado com uma reprimenda?
- fala-se muito na impunidade, e como grassa em Portugal. ora este rapaz tomou parte num crime grave. deviam dar-lhe um ralhete e mandá-lo para casa, quando a própria mãe não controla o que ele faz e com quem anda? ou sentir que tinha escapado não contribuiria para se sentir mais afoito, e muito provavelmente reincidir nesse tipo de comportamento delinquente?
- note-se que tenho muita, muita pena dessa mãe, que, como muitas, tem vindo a ser e foi confrontada com a sua incapacidade de orientar o filho. mas, tem o Estado a obrigação de educar quando os pais falham? os professores e a escola não servem para educar, mas para ensinar; educação é o que se traz de casa.
- em vez de culpar o sistema educativo, judicial, de saúde (questão do apoio psicológico), talvez fosse mais produtivo admitir que se falhou, acontece, e daqui em diante agir de outra forma. deixar de acreditar nas balelas do menino, e ensinar-lhe que tanto é ladrão o que vai à horta como o que fica ao portão (pelo menos no ponto de vista ético). deixar de aceitar as faltas à escola, fazê-lo ver que este é o seu trabalho, e se não gosta, pois, vá trabalhar. vadio é que não, que essa mãe é uma pessoa honesta e trabalhadora, não tem obrigação de alimentar um filho parasita.
- o filho tem um advogado, um defensor que lhe foi nomeado pelo tribunal; é assim que funciona. a mãe que recorra a este, e lhe coloque todas as questões.
- atenção, isto pode ser não um fim mas um princípio, um sinal de alerta que, bem aproveitado, pode evitar que aos 16-17 anos ele ingresse no sistema prisional de adultos. porque não haja dúvidas, é esse o percurso que ele está a fazer.
- racismo? calma, muita calma antes de atirar essa pedra. muita calma.
- existem boas instituições de apoio à juventude. não sei qual a área de residência da senhora, mas na Cova da Moura, concelho da amadora, existe uma instituição fabulosa que já apoiou muita criança em risco e tirou jovens pré-delinquentes e delinquentes do mau caminho. chama-se Moinho da Juventude, tinha até um programa de apoio escolar, mentores, enfim, fazem (se os deixarem) milagres.
- para a mãe, mais que simpatia - que é precisa, pois claro - também um apoio firme, no sentido de conseguir dar um rumo ao rapaz. tough love, responsabilização, consequências para os seus actos. não falas do pai, mas até temo perguntar, que este tipo de situações ocorrem muito quando a figura paterna é ausente ou não sabe exercer devidamente a sua autoridade. que se envolvam, que o responsabilizem, e estejam sempre disponíveis para o amparar, mas com condições. estudo, trabalho, andar direito, fazer-se um homenzinho de bem.
E pronto. O sistema correccional pode ser mau, mas ele não foi lá parar por culpa de ninguém senão a sua. A falta de apoios não é desculpa, isto não é um problema de doença mental ou psicológica, é um problema estrutural de educação e delinquência, e assim foi tratado, porque ele foi longe de mais.
Estou absolutamente de acordo. É triste, muito triste (inimaginavelmente triste para todas as pessoas que aqui comentaram, incluindo eu própria) um filho ser retirado a sua mãe. Ainda mais uma mãe que, diz a Palmier e eu acredito, é gente boa, trabalhadora, esforçada e inteligente. Não há palavras para descrever a mágoa que deve estar a sentir. Mas a verdade é que o seu jovem filho TEM que ser direccionado, orientado por outra pessoa que não ela, porque claramente ele já lhe perdeu o respeito, caso contrário pensaria mil vezes antes de se envolver em roubos (não um, vários) praticados em grupo. Gente, o roubo é um crime muito grave, ainda mais praticado por um "gang", como parece ser o caso (e o facto de um pedir as coisas e os outros assistirem em nada diminui a sua culpa, já que nada fazem para o impedir, dividem os lucros e muitas vezes agarram e batem nas vítimas, que, na maioria dos casos, são crianças e jovens como elas - podiam ser os vossos filhos. Pensem bem.) gera medos, traumas e TEM de ser travado! O reformatório não será o sítio ideal, mas será certamente um sítio em que o jovem será afastado dessas más companhias e lhe ensinarão como acabam as pessoas que enveredam pelo caminho que ele estava a escolher - na prisão. Sim, porque se ele tivesse 16 anos e tivesse sido apanhado em 2 roubos, era onde estaria. Seria onde estaria de certeza daqui a dois anos, caso nada fosse feito agora, e se calhar por roubos mais graves, praticados com recurso a violência e armas. E a prisão, oh pessoas informadas sobre o sistema judicial, é bem pior que o reformatório. Em jeito de conselho de quem sabe, Palmier, diga à senhora para ir ao atendimento ao público do Ministério Público no Tribunal de Família e Menores onde corre o processo e perguntar se o jovem está em regime aberto ou semi-aberto. Nesse caso ser-lhe-ão permitidas visitas frequentes e ela poderá acompanhá-lo de perto. Certamente os meus colegas, que todos os dias se vêem a braços com este flagelo e fazem tudo o que podem para ajudar estes jovens (acreditem, a institucionalização é o último dos últimos recursos, depois de tudo se tentar), a saberão aconselhar. A melhor das sortes para a senhora e seu filho.
EliminarOlá Izzie,
EliminarFico muito contente por te saber aqui. Sigo o teu blog há já bastante tempo, apesar de o fazer quase sempre em silêncio (há blogs que me intimidam e o teu é um deles ).
Acho que tens (tal como a anónima que vem de seguida) razão em muitas coisas. É evidente que o menino em questão sabia perfeitamente o que estava a fazer e que foi longe de mais. Que é necessário pará-lo. Que um puxão de orelhas não funciona. No entanto, esta mãe admitiu a sua incapacidade de o controlar a partir do momento em que decidiu pedir ajuda. E, repara, eu também não sei bem qual é a solução (e ainda não conheço todos os factos). Sei que ele não respeita a mãe, que o pai, apesar de estar presente, não exerce, efectivamente, a sua autoridade e que os resultados, em termos de futuro, podem ser catastróficos.
Sei que a escola (que não tem, evidentemente, de o educar) o deixa sair durante o período de aulas (apesar de ter indicação expressa para o não fazer), que a mãe não aceita as suas faltas e sai de propósito do seu trabalho (minha casa) para ir verificar se ele está na escola (e não está), que alguns médicos ponderaram o internamento e que a comissão de jovens em risco os chamou para algumas entrevistas a que ele não compareceu.
Julgo que precisava, de facto, de apanhar um susto.
Mas… (sei agora) seis meses? Seis meses, para um menino de catorze anos, é uma eternidade. Para um menino de catorze anos que, julgo, se tinha como inimputável. Que, provavelmente, terá acreditado (certamente incentivado pelos mais velhos) que, como era menor, nada lhe podia acontecer.
É que, se estivéssemos a falar de um menino sem apoio, sem família, ou com uma família completamente desapegada, eu ainda percebia. Mas há, nesta equação, uma mãe que está lá, que não dorme enquanto ele não chega a casa, que vai à procura dele, que se interessa e que se preocupa. Não estou a par dos procedimentos normais neste tipo de situação (e, por isso, perguntei-me se, nestas circunstâncias, numa família branca, aconteceria o mesmo) mas, pelo que percebi, foi a primeira vez que foi a tribunal. Durante o estágio, quando andei a brincar aos advogados, lembro-me de muitos adultos que ficavam com penas suspensas depois de terem praticado crimes deste tipo. Não deveria este menino ter sido avisado?! É que, afinal, tem catorze anos…
Agradeço ao anónimo/a as indicações, que irei repassar à mãe.
Palmier, também sigo este blog há muito, e sou culpada da mesma intimidação que me faz não comentar. Não tenho razões nenhumas para isso, mas prontES... e eu não faço mal a ninguém, prometo.
EliminarQuanto ao assunto, acredita que eu acredito que a senhora é uma pessoa responsável, que quer o melhor para o filho. Mas isso às vezes não chega, os putos crescem e seguem caminhos que a gente sabe lá, que nunca tiveram aquele exemplo em casa. Não nego que escola foi irresponsável, ao deixá-lo sair. E o director, ou conselho directivo, ou lá quem manda nas escolas agora, merecia uma visita da mãe, para por os pontos nos ii. Ele estava à guarda da escola, a aí falharam.
Quanto ao resto, e porque eu sou uma optimista incorrigível. Seis meses é muito tempo, que é. Mas agora é olhar em frente e tentar transformar uma situação má numa perspectiva boa. Mostrar ao rapaz que os amigos não eram grande coisa, que não se interessam pelo seu bem estar, e a mãe sim, está lá para o que der e vier. Afecto, muito afecto, mas com mão firme. Estar sempre presente, para que ele não se sinta abandonado. Falar com os técnicos da instituição, estar sempre a par do que se passa. Deve haver lá (espero...) psicólogos e técnicos de reinserção (com a crise já nem digo nada, e os coitados, por melhores que sejam, costumam ser poucos para o que é preciso). Seguir as orientações. Apertar com a advogada que lhe foi nomeada, saber de hipóteses de encurtamento da medida de internamento se houver bom comportamento. A mãe, ao admitir que não o controla, não deve ter deixado grande margem de manobra... normalmente a medida de internamento é a última opção, mas se os adultos responsáveis admitem a sua incapacidade, é difícil dar uma medida diferente. Eu sei que a senhora não fez por mal, e não estou a culpabilizá-la, mas não deixou grandes opções. Há apoio da família, mas esse apoio pode ter sido considerado como insuficiente.
Também há muito tempo que não trabalho com esta área, e estou a falar um bocadinho de cor - apesar de, antes de ter deixado o comentário, ter ido pesquisar a lei tutelar educativa e a lido em viés. Mas há de certeza algo de bom a retirar disto tudo. Ele pode dar uma volta na sua vida, e para isso é essencial que saiba com quem pode contar, e que não são os amiguinhos bandidos. A sério, pesquisem instituições de apoio social, o tal Moinho da Juventude é só uma de que ouvi falar (http://www.moinhodajuventude.pt/index.php/pt/)
Mas há de certeza mais.
Um beijinho e toda a sorte. A sério, desejo mesmo muita sorte e força para essa mãe.
De facto, ela própria admitiu em tribunal que não conseguia ter mão nele. Vai poder vê-lo daqui a três dias. Pediu-lhe para, neste tempo, reflectir sobre o seu comportamento. A ver vamos se se consegue reduzir o tempo...
Eliminar(agora que sei que não fazes mal, passarei a ir ao teu blog com um bocadinho menos de medo :) )
Diziam-me quando era pequena :- Na casa dos outros mandamos todos nós bem..."
ResponderEliminarFalei com a empregada da minha filha.
É uma mulher fantástica! Disse-me que quando a chamaram à esquadra falou sobre o comportamento do filho e disse que nem ela nem o pai tinham autoridade sobre o miúdo. Pediu que a ajudassem, teve uma advogada e aceitou que lhe levassem o filho na esperança de ele poder ser controlado. Disse-me, ter ficdo com o coração partido, mas ter conseguido arranjar forças para dizer ao filho, quando este lhe pedia desculpa, antes de ser levado, que fosse porque ele não lhe obedecia, nem a ela nem ao pai e que durante o tempo que lá estivesse aproveitasse para pensar no que andava a fazer de mal.
Estava ansiosa para que passassem os três dias necessários para poder ir vê-lo.
Há tanta sabedoria que não se aprende nos livros...
Pois é, Maman. Ouviu isso de pequena e recordou-se.
EliminarDe grande eu acrescento. É espantosa a facilidade que temos em resolver os problemas que não nos dizem particularmente respeito.
Pois é Pássaro, a idade leva-nos a lembrar coisas tão antigas...
EliminarEu sei de bons princípios , más companhias e fraco carácter... São tantas e tantas vezes as voltas da vida que nos ajudam a crescer. Pobre mãe, pobre família e pobre dele, porque o sistema não "corrige" nada, muito pelo contrário...
ResponderEliminarNo primeiro mundo as pessoas nao tem escravos. Cada um, por muito ocupado que esteja, cozinha os seus broculos e lava as suas peugas. Tempo, arranja-se sempre. O problema dos escravos e que ficam sempre mal no album de familia - da deles. Esta aqui atras e a minha prima Catarina, e criada na casa dos Palmeiros, lava-lhes os calcoes e desinfeta-lhes o bide, eles dao-lhe o sabado a tarde e o domingo, sao muito bons para ela, acho ate que nem nunca lhe bateram. Porque no fundo sabem que ela sabe o seu lugar. A filha da Catarina, a Ines, ainda anda na escola, onde e boa aluna. Adora a mae, quando for grande quer ser criada de servir como ela. Ela tambem conhece o seu lugar, apesar do que ouve e ve no dia-a-dia global atraves dos meios de informacao. E assim o mundo perfeito, e nao se compreende como e que alguem no seu juizo perfeito pudesse querer revoltar-se. Mas os que o fizerem, que paguem por isso. Nao va ser o nosso bem-estar e o dos nossos filhos a pagar pelos pecados alheios, isso e que nao. Amen. Descansai em paz.
ResponderEliminarPZ