Eu podia falar-vos...

Sobre os trajes megalómanos das mães (que incluem visons, saltos de 12 cm, penteados de cabeleireiro e jóias reluzentes), para se apresentarem na festa de Natal dos seus rebentos, do cheiro a naftalina dos casacos de astrakan das avós, das lantejoulas dos vestidos das professoras, dos cenários dignos de Hollywood, do Hino da escola que é cantado antes da festa, do facto de terem escolhido um bailado de 2h15 para cinco meninos representarem (em três actos) e 80 fazerem de figurantes (praticamente atrás das cortinas), dos bilhetes que os pais têm de pagar a, praticamente, 20€ por cabeça para ver os artistas de variedades filhos a actuar, ou sobre os fatos produzidos afanosamente pelas professoras (e que os pais têm, obviamente, de pagar), ou, ainda, sobre a camisa branca que os pais têm de mandar para a escola para ver se "serve" (camisa branca dahhhha!), ou dizer-vos que os sapatos do dia-a-dia (mesmo que engraxados) não são adequados (porque têm de ser sapatos de "festa"), ou ainda sobre o facto de, no fim da festa, vermos as caras felizes das professoras a subir ao palco, radiantes, com o rosto afogueado de orgulho e os olhinhos a brilhar de satisfação, à espera dos aplausos retumbantes dos espectadores e seguras que, mais uma vez, arrebataram o Óscar do melhor teatro (bailado?) de Natal das escolas primárias  ... eu podia falar-vos sobre tudo isto, mas, na verdade, vou só dizer -vos que foi o meu momento anual de Estado Novo, na sua versão - ramo feminino da Mocidade Portuguesa...