Que não sei ler poesia, que vou por ali fora, parece que engoli um foguete, que não páro para respirar, que não faço as pausas nos sítios certos, que parece que estou a correr os 100 metros barreiras, que chego ao fim cansada, tal é a voragem da leitura... logo eu, como ia dizendo, me havia de emocionar com o rascunho destas rimas que encontrei entre velhos papéis e que a minha avó terá escrito ao meu avô quando fizeram cinquenta anos de casados.
No fim da nossa vida
Quem me havia de dizer
que as mesmas rosas eu tinha
para voltar a te oferecer.
São velhinhas, sem valor,
só para mim podem ser,
recordação de um Amor
que te jurei a valer.
Aceita-as com carinho,
e não as deixes perder,
têm de seguir caminho
Com o primeiro que morrer.
Em campa de saudade,
quando um o outro for ver,
há-de encontrar em verdade
uma roseira a nascer.
E se for eu a primeira
esta terra a abandonar,
hás de ver nessa roseira
uma coisa de pasmar.
Suas rosas sem secar
de orvalho sempre a verter,
serão meus olhos a chorar
com pena de te não ver.
Mas se fores tu o primeiro,
nas noites escuras de luar,
a brisa que a roseira despertar
serei eu, Amor, a te beijar.
maravilhoso...
ResponderEliminarAchas bem? Pores-me com água na vista?
ResponderEliminar:)
Eliminarmuito bonito!
ResponderEliminarA tua avó tinha muitos talentos, mais ainda do que os versos, é a capacidade de guardar durante 50 anos um ramo de rosas,como guardava tudo... Como era capaz de guardar calada , uma vida inteira, aquilo que achava importante que os outros não soubessem...
ResponderEliminarMaman, que sorte ter sido testemunha e fruto de um amor assim...
EliminarSabes Sexinho, estes amores, no dia a dia, são feitos de muita resmunguice, ao que o avô da Palmier respondia invariavelmente com _"... e não chove nem nada..."
EliminarNunca percebi o que ele queria dizer com isto?...
Oh! Vai-te catar bolas! Eu hoje estou mariquinhas, não posso ver estas coisas.
ResponderEliminarTão ternurento!!!
ResponderEliminarOh caramba, fiquei com um sorriso parvo e com a lágrima no canto do olho.
E lembrei-me dos meus avós paternos que viveram uma história linda.
Sim, para ler de um único fôlego, a beleza singela do Afecto em Palavra. Obrigado Palmier. As cartas de amor são pérolas perdidas, ou reencontradas, de uma era menos insípida, menos apressada...
ResponderEliminar:'). Tanta beleza, tanta ternura... Disto, já não há, só manifestos desajeitados e incoerentes. O romance a sério perdeu-se por aí. Belíssimo.
ResponderEliminarPalmier, isto é maravilhoso!
ResponderEliminarUm amor assim é o mais precioso dos bens!
Um carta/testemunho assim é uma responsabilidade e pêras!
Responsabilidade para o seu fiel guardador!
ResponderEliminaroh...tao bonito.
ResponderEliminarFiquei curiosa. Quem foi o primeiro a morrer? Sempre plantaram uma roseira?
ResponderEliminarFoi o meu avô o primeiro a morrer...
EliminarNa verdade, não sei... nunca reparei (e nunca vou ao cemitério...), só agora é que me deparei com estes versos e, portanto, só agora é que fiquei desperta para o assunto... vamos imaginar que sim :)
Absolutamente lindo...
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