À direita dos sofás havia uma vitrine fechada à chave com leques antigos, leques enormes, de todas as cores, com penas, brilhos e paisagens várias, às vezes e depois de muita insistência, a minha avó pegava no seu enorme chaveiro, escolhia a chave certa entre mil, abria as grandes portas de vidro em ogiva e eu podia pegar com muito jeitinho nos leques, abri-los e fechá-los muito devagarinho, para não os estragar, depois a minha avó mandava-me arrumar os leques tal qual eles estavam antes de lhes ter mexido, voltava a pegar na chave, dava a volta a fechadura, e os leques lá ficavam, quietinhos, à espera de uma próxima oportunidade. À frente dos sofás havia um candeeiro de pé alto com um abat-jour cor-de-rosa velho que iluminava a mesa de jogo que estava à direita. Em cima da mesa estava uma jarra que tinha normalmente umas flores cor-de-rosa, daquelas que têm muitas pétalas desordenadas, uma agenda manuscrita já sem capa, com o papel muito velho e amarelo, os números corrigidos porque foram crescendo em indicativos com o correr do tempo e, ao lado, um telefone preto, daqueles com um disco, o telefone que a minha avó atendia e dizia "está lá?", e era quase sempre um doente para falar com o Senhor Doutor, ao que a minha avó respondia perguntando, com uma ponta de orgulho dissimulado: "com o pai ou com o filho?". Hoje fui à procura do colar de pérolas para usar no casamento, quando abri a caixa o colar cheirava ao perfume da minha avó. Talvez as pérolas sejam pérolas por isso mesmo, por aprisionarem os cheiros e trazerem-nos de volta as pessoas muitos anos depois de elas terem morrido.
Depois de ler este post fui buscar a caixa com o colar de pérolas que era da minha avó... que saudades eu tenho dela!!
ResponderEliminar:)
EliminarPerolas sao as tuas palavras palmier... Que saudades da minha avozinha, mesmo nao me tendo deixado perolas, deixou-me palavras q nunca vou esquecer
ResponderEliminarTão bonito, este post.
ResponderEliminarQuem me dera ter pérolas e que ao cheira las me soltasse cheiros dos que também já partiram e me deixam tanta saudade.
ResponderEliminarLindo texto Palmi.
Boa noite.
Obrigada Palmier <3
ResponderEliminarUma viagem emotiva pelas tuas memórias. O mais bonito que li hoje, de todos os pontos de vista. Gostei muito. Beijinhos
ResponderEliminarTenho um anel e uns brincos que eram da minha avó .Dados pelo meu avô, que sempre adorou a minha avó, quando ainda eram solteiros.
ResponderEliminarÉ uma recordação dos dois.
Ohhhh Palmier, já nem quero saber do vestido. Esse colar merecia uma foto, não por serem pérolas, mas pela história. Fiquei emocionada, é impossível não nos recordarmos de quem nos é querido. Obrigada Palmi.
ResponderEliminar:) adoro estas histórias.
ResponderEliminarparece que estamos lá!
mais, por favor!
:´)
ResponderEliminarTão bom. ..:-)
ResponderEliminarÉs linda!
ResponderEliminarTão bonito. :'-)
ResponderEliminarLindo, lindo Palmy :)
ResponderEliminarPost lindo, sinto exactamente o mesmo, mas cada vez que mexo em documentos do meu pai ou abro a pasta cada vez mais gasta mas que teimo em usar, sai de lá sempre um cheirinho a pai que me consola as muitas saudades.
ResponderEliminar<3
ResponderEliminarOhhhh!! Adorei Palmier, esta história deliciosa faz mesmo recordar os nossos mais queridos que já partiram... Obrigada!
ResponderEliminar....
...
..
(... e o vestido? Já tens vestido, rapariga???)
Ai o meu pai e o meu avô são médicos...................
ResponderEliminarPois são (no caso do meu avô: era). Algum problema, Anónima?
Eliminar(já falei várias vezes sobre isso aqui no blog. Julgo que não é propriamente uma novidade bombástica para grande parte das pessoas)
(ainda se tivesse dito que eram banqueiros...)
EliminarA questão que se impõe: e o teu bisavô? Não respondes. Pois, não era médico! Foste apanhada!
Eliminar:DDDDDDDD
Por acaso era. Aliás, o meu mais antigo ascendente, ainda na época das cavernas, era conhecido como Homo-Medicus. :DDDDDDDDDD
EliminarGabarolas! Que horror!
EliminarOh palmier que é isso contra termos antepassados banqueiros?? hummm! Há mais banca para além dos Espírito Santo e marteleiros de nome Roque, queres ver que tenho que me auto punir.
EliminarNinguém trabalha mais e com tanto afinco como um banqueiro sério. Para a srª Mirone os meus antepassados eram banqueiros, eu já não o sou e o meu pai deixou de o ser a 26-04-1975 e não não fui para o Brasil ou para a Suiça porque o meu pai apesar das famosas listas, aqui ficou a enfrentar tudo de cabeça levantada e sem medos.( Existem Espírito Santo que são pessoas de bem e trabalhadoras, não é por algumas maçãs estarem pobres que o cesto está todo podre)
E o Hipocrates também era teu primo, não era?
Eliminar(Adoro estes teus posts com histórias de família. O cheiro das pérolas quase se sentiu aqui)
Sim, era sobrinho do meu tetra-avô! :DDDDDDDDDD
EliminarMaria do Rosário, nada contra (excepto quando temos de lhes pagar as contas). O comentário veio apenas no seguimento do da anónima que se referiu ao facto do meu pai e avô serem médicos, como se isso fosse o supra-sumo da batata.
EliminarEntão Palmier, para descomprimir um "cadito" do «sangue azul» de que te acusam de te gabares, deixa-me contar-te a impressão que tive no início da leitura, quando mencionas os preciosos leques trancados à chave seguido do candeeiro de abat jour cor-de-rosa "pró" carmim. Pensei que ias descrever as memórias de uma antiga «cortesã», Kkkkkk! Portuguesa, pois claro. Neste caso a curiosidade nem seria saber quem foram os homens da família, tanto quanto quem foram as mulheres :)
EliminarSó quis partilhar esta primeira sensação, sem má intenção pretendida.
Olha que não seria de todo uma má história familiar para se contar, é o novo "sangue azul" Kkkk.
Será que me enganei no blogue?! haha
ResponderEliminarBom ler-te neste registo menos maluco. :)
Uso neste momento no pulso o relógio do meu avô. :)
ResponderEliminarÉ por isto que você é a Rainha dos Blogs. Cm alguém já disse: isto é que são pérolas. Parabéns, Palmier.
ResponderEliminarQue lindo! Obrigada.
ResponderEliminarO poder da lembrança olfactiva!
ResponderEliminarTão bom.
Da ternura.
ResponderEliminarO meu bisavô e depois o meu avô, a seguir o meu pai e agora eu é que podemos considerar gerações de status porque fomos todos por sucessão hierárquica, os donos da banca.
ResponderEliminarFrente à casa da sorte onde tudo que lá entra é rico e têm vergonha se não engraxam os sapatos.