segunda-feira, 26 de março de 2018

Chefs. Chefs everywhere...


Foi ontem. Fomos almoçar àquele restaurante do Guincho, aquele do peixe ao pão e ao sal, aquele com uma qualidade irrepreensível e que nunca desilude. Logo quando chegámos estranhámos a lentidão do serviço, o pão que nunca mais vinha, e depois veio o pão mas não veio a manteiga, olhe, por favor, pode trazer a manteiga? Trago já, minha senhora. E os minutos a passar e a pessoa esganada de fome. Não se esqueceu da manteiga, não? Vem já, minha senhora. Foi então que, longos minutos passados, o empregado se apresentou com um pratinho de manteiga de cebola roxa e um amuse-bouche de pato com cardamomo e outras coisas igualmente incompreensíveis. E então a pessoa começa a tremer, a dúvida a instalar-se lentamente, de forma insidiosa. Será?! Será que este restaurante também foi tomado por um Chef?! Não. Não pode ser. Este não. E então fazemos o pedido, o clássico robalo ao sal para os adultos, ok. tudo bem, tudo certo, e depois, como a minha filha está naquela fase de dizer que não gosta de peixe, deixa cá correr a lista: ora bem, para a menina pode ser este prego, mas sem ser no pão, está bem? Traga o bife no prato, por favor, com batatas fritas. Ah, não, isso não pode ser. Desculpe? As coisas têm de sair da cozinha como estão na ementa. E então a pessoa tem aquele calafrio. Não estou a perceber…? O Chef é muito rigoroso, minha senhora. O calafrio transforma-se rapidamente numa estalactite atravessada na garganta, e a pessoa então começa a soletrar:  di-ga ao che-fe que po-de fa-zer o bi-fe da ma-nei-ra que qui-ser. Só não tem de o por no pão, certo? É então que um dos empregados mais antigos se apresenta para salvar a situação e diz bichanando, como que em confidência, olhando assustado em direcção à cozinha: Não há problema, minha senhora, o prego vem no pão e nós aqui desmontamos. Não se preocupe, mas assim fica tudo resolvido e não há confusão lá dentro, com o Chef.

E assim foi, o prego veio no pão como o Chef exige e o empregado de mesa tratou de o tirar do pão para o servir aos clientes como eles efectivamente o queriam – sem pão. E pronto. Assim se perde mais um restaurante para as garras de um Chef déspota…  

36 comentários:

  1. Mas o que é que está a acontecer ao mundo? Que é isto?

    (Posso aguardar um quadro inspirado neste episódio?)

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  2. Mas, mas... o cliente não tem sempre razão?
    (Um chef (humpf!) já me apresentou uma carne queimada, apenas e só porque pedi que fosse melhor passada - lição aprendida: não contrariar "un petit chef")

    Isa

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  3. Pipocante Irrelevante Delirante26 de março de 2018 às 17:30

    A restauração e a blogosfera foram tomadas de assalto por Divas.
    Valham pequenas aldeias gaulesas...

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  4. Um amigo foi ao restaurante de sempre com a família (incluindo crianças pequenas). Ao se aperceber da demora exagerada pediu celeridade e estes responderam que não podiam apressar o chef...
    (Eu se fosse ele teria me levantado da mesa e ...chau,
    Anonima

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    1. Aahahhhahahahahahahhahahahahahah
      A sério... estão todos malucos! : DDDDDDDDDDD

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  5. Dica: a próxima vez (se lá voltares... errr) diz que a tua filha é celíaca e que não, o prego não pode vir no pão!

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    1. Hum... fiquei com a sensação que nem assim. Se não pode comer como está na carta, então passa fome! : DDDDDDDDDDD

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  6. Sorry mas em minha casa eu sou um e comporto-me como um (verdadeiro) Chef. :-) O empratamento sou eu que o faço e também não admito que ninguém questione a minha criatividade. Se não fôr assim como é que posso publicar nas redes sociais?! Eu faço pratos lindos. Aliás, deslumbrantes é a palavra que melhor os define. :-) Claro que isto só funciona quando eu cozinho só para mim mas isso agora não vem ao caso. ;-)

    Que ninguém se atreva a meter entre um Chef e a sua visão. :-) :-)

    Beijinhos.

    Maria

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    1. Nunca! Até porque é o Chef que tem o facalhão! : DDDDDDDDDDD

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  7. Imagine a Palmier que faz uma exposição das suas obras. Um Cliente pede-lhe uma pequena alteração no quadro, uma coisa sem importância, substituir uma inestética águia por um vibrante leão, por exemplo. A Palmier nega a alteração, nem pensar, faz parte da sua liberdade artística, da sua criatividade. Entretanto, o galerista chama o Cliente e segreda-lhe qualquer coisa ao ouvido, o Cliente sorri e começa a passar o cheque...

    (isto sou só eu com tempo para lhe animar a caixa de comentários, é claro...)

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    1. Lá chegará o tempo, Pipoco, em que havemos de ir a um restaurante, dão-nos a ementa, nós escolhemos mas depois não podemos comer, poderemos apenas dizer coisas inteligentes sobre a luz e a sombra que incidem obliquamente sobre o prato, a composição, o conceito que inspirou o chef, a técnica utilizada, as dimensões dos alimentos. No fundo hão-de ser pratos só para apreciar e, se pagarmos um fee extra, dão-nos licença para tirar uma fotografia para o Instagram... :D

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    2. Palmier, uma refeição pode ser uma experiência sensorial. Por trás existe uma arte, a arte de combinar ingredientes, de conjugar os vinhos, de apresentar um prato.

      Lá chegará o tempo, isso sim, em que uma refeição será um comprimido com os essenciais todos lá dentro.

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    3. Eu sou aquela pessoa que, neste momento, se encontra viciada em gelatina de banana. A pessoa que se vicia em gelatina de banana nunca poderá compreender essas tais experiências sensoriais: D

      (Pip, quanta ingenuidade... como é que se vai brilhar no Instagram com um comprimido?!...)

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    4. Peço desculpa pela intromissão mas: Palmier, onde é que se arranja gelatina de banana? É que fiquei a salivar um bocadinho. E sim, também sou pouco dada a experiências sensoriais. ;)

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    5. Ahahahhahahhahahahhahahahhahahahhahahahahha
      É uma coisa absurda, com uma consistência semi-pudim, nem sei o que raio me deu para comprar isto! :DDDDDDDDDD

      São estas:
      https://www.elcorteingles.pt/supermercado/sm2/es_ES/520140/supermarket/mercearia/sobremesas-para-preparar/gelatinas/gelatinas-preparadas/0105220606700795___?publicNav=true

      Eu compro no ECI, mas acho que há em todos os supermercados. A questão é que não estão no frio (por isso é que gosto delas) e não são tão fáceis de encontrar. No ECI estão ao pé dos preparados para fazer bolos. É questão de perguntar onde escondem as gelatinas Koala :D

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    6. Que desgosto musa Palmier, as gelatinas da Koala são terríveis, duras que até arrepiam ahahahahaha

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    7. Ahahahahahhahahhahhhahha
      Eu sei! Mas eu adoro aquela consistência de pudim! : DDDDDDDDDDD

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    8. Podem sempre fazer um sumo de banana (liquidificadora e depois passar por um peneiro), hidratar folhas de gelatina neutra e juntar a esse sumo de banana.
      É caseiro, é rápido, e controlam vocês o açúcar que lhe querem por.

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    9. Oh não!! Agora relembrei-me e já não consigo esquecer..era viciada na de côco!!! :D

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    10. Sugestão para fazer brilhar um comprimido no Instagram: colocá-lo no centro do prato, fazer um desenho minimalista à volta com um fio de azeite, colocar uma folhinha de coentro em cima do dito comprimido, fazê-lo efervescer precisamente no momento de servir ao cliente. :p

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    11. : DDDDDDDDDDD

      Dias Cães, Nãooooo! Assim temos a sensação que não podemos controlar o açúcar, porque já vem pronto na embalagem e não há nada a fazer, e depois não temos sentimento de culpa! : DDDDDDDDDDD

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    12. Ah, Maria, mas assim já era preciso a mão de um chef! : DDDDDDDDDDD

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  8. Os restaurantes existiam para alimentar comensais, agora servem para alimentar egos de chefs... Valham-nos aquelas pérolas escondidas dos radares.

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  9. Depois do episódio dos arquitectos ditadores e, agora, do chef tirano, tenho a certeza que ia adorar viver cá em casa. Eu sou arquiteta. Ele é chef :))))

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    1. Ahhahahahahahahhahahahahahhahahahahhahahahhahahahahah
      Pronto, lá se me foi uma leitora... : DDDDDDDDDDD

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  10. Também já me aconteceu algo parecido, pedi uma sopa mas para ser dividida em dois pratos (era para as crianças). A resposta foi que o chefe não dividia a sopa, podiam trazer a terrina e fazíamos nós a divisão...

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    1. Ahahahhhahahahahahahah
      Porque a sopa dividida pode ficar com uma apresentação pouco digna : DDDDDDDDDDD

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  11. Nada disso, até porque reconheço como sendo verdade o que diz em relação às duas áreas, sobretudo em relação à cozinha, claro! Que os arquitetos são uns anjos que só querem que o mundo fique mais bonito:))))
    Em relação à cozinha, digamos que uma simples canja cá em casa, nunca mais foi apenas uma simples canja... uma canseira e um enxovalho para a minha moral e - poucos - dotes culinários.

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  12. Uma vez eu só queria uma sandes. "Ah, mas só temos tostas." Eu até pagava o preço da tosta, se me dessem somente uma sandes. "Pois, mas sandes não temos". O que raio passa a tosta sem ser antes uma sandes? Cinco euros, Palmier, cinco euros por uma tosta que nunca tinha sido sandes.

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    1. Exacto! A mesma coisa vale para o raio de prego, que também foi obrigado a entrar para o pão : DDDDDDDDDDD

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  13. Aqui eles são também muito rigorosos mas nas horas. Como o normal ao almoço é comerem sandes ou saladas (mais ou menos elaboradas, há para todos os gostos) não servem pratos de comida e depois têm a hora dos petiscos (fritos e tábua de queijos) que nada do que lá está pode ser servido antes ou depois das horas estipuladas.
    Uma vez eram 18h e estávamos na praia e uma amiga queria batatas fritas mas como passava das 18h já não serviam petiscos só pratos para jantar que, apesar de virem com batatas fritas, não as podiam vender separadamente...
    Enfim... respire fundo, sorria e acene e mentalmente mande-os onde quiser hihi

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