quinta-feira, 1 de março de 2012

Momento Gelatina

Acabei de ter uma reunião com um fornecedor que percebeu, há uns dias atrás, que tinha sido ultrapassado pela concorrência.
Vinha nervoso e afogueado. Deu-me um aperto de mão de tal forma violento que, por pouco, não me estilhaçou o carpo e o metacarpo. Fornecedor esse que será, doravante, referido como “Estilhaça-Ossos”. O Estilhaça-Ossos percebeu o meu esgar de dor e mais nervoso ficou.
Sentou-se à minha frente, do outro lado da mesa e começou a discorrer sobre as maravilhas dos seus produtos. Eu, de repente, sinto o chão a tremer e olho, de esguelha, pela janela para ver se está a passar algum autocarro ou eléctrico (provocam normalmente esse efeito nos prédios de tabique). Constato que não… Concentro-me no tremor. Constato que o tremor se mantém. Começo a olhar em volta à espera de ver os outros reagir. Fixo os olhos (já de pânico) no Estilhaça-Ossos. Estilhaça-Ossos continua a discorrer calmamente sobre os vários prémios que atribuíram aos seus produtos (produto do ano 2009, prémio produto Magnético – WTF is a produto magnético? - and so on). O tremor mantinha-se. O meu corpo começou a reagir meneando-se para a esquerda e para a direita. A minha voz (ainda turvada pela enfermidade e em modo promoção Vodafone) pergunta ao Estilhaça-Ossos se não sente nada. Estilhaça-Ossos olha-me intrigado. As minhas mãos agarram-se com força à mesa. O meu cérebro pondera uma saída em estilo pela janela do primeiro andar (talvez se saltar para o toldo do rés do chão consiga aterrar na rua em segurança…). A minha voz (novamente com vida própria) pergunta, para ninguém em especial, se não é um tremor de terra. O meu cérebro respondeu-me, de imediato, com um 6 na escala de Richter, seguido de um “salve-se quem puder”. Levanto-me sem destino traçado. Olho em redor esgazeada enquanto Estilhaça-Ossos pára o seu interessante discurso e me informa, calmamente, que tem um tique e que se encontrava a abanar secreta e também violentamente (como é, aparentemente, o seu apanágio) a perninha debaixo da mesa, provocando, assim, um terramoto virtual…
Voltei a sentar-me à mesa para discutir preços.
Sim… Estou ciente que o meu poder negocial perdeu, naquele momento, todo o seu brilhantismo…

2 comentários:

  1. ...ainda bem que não seguiste as recomendações da proteção civil e não te enfiaste debaixo da mesa, já imaginaste a cena?

    :))

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