terça-feira, 9 de outubro de 2012

Visita nocturna

Ontem, estava eu muito bem em casa, quando, de repente, me entra este senhor pela porta dentro: 
Ora eu fiquei muito assustada e disse:
- Muito boa noite! Em que posso ajudá-lo?
O senhor respondeu-me:
- Passe... para cá... o... seu... dinheiro... todo!
E eu, desconfiada, perguntei:
- Vítor?! És tu?!
E ele, então, replicou:
- Agradeço... desde já... a... pergunta. Mas... neste momento... não... presto... quaisquer... declarações.
Ao que respondi:
- Ah! Com certeza! É só um momentinho que ainda tenho ali umas moedas do meu filho dentro de um porquinho mealheiro, mas vou já buscá-las.
O senhor, então, disse:
- Agradeço... desde... já... a solicitude... é... sem dúvida... a melhor... assaltada... do... mundo.
- Eu (como qualquer mulher) fiquei imediatamente rendida perante tamanho elogio e corri para ir buscar as moedas, que trouxe o mais rapidamente que me foi possível.
Aí, o senhor voltou a insistir:
- Quero... mais moedas. Quero... ainda... esclarecê-la... que este... não é... um... assalto... qualquer. Este... é... mesmo... um... enorme assalto.
Eu, triste por desiludir um senhor tão simpático, vi-me obrigada a responder:
- Mas, meu senhor, eu não tenho mais. Tive de pagar muitos impostos e só nos sobraram estas moedas para o resto do ano...
Então o senhor acrescentou:
- Se... não tem... mais dinheiro... e como... eu sou... um... ultra-liberal... qualquer coisa… me serve. Pode pagar-me em... bifes do lombo.
Enquanto corria para a cozinha, para ir buscar os dois bifes que ainda me sobravam, ouvi o cúmplice do senhor, que até tinha um aspecto simpático (com umas orelhinhas brancas, compridas e fofinhas), que se tinha mantido à porta, de vigia, a gritar-lhe das escadas:
- Olha lá! Acho mal que lhe estejas a levar tudo! Se eu pudesse, preferia levar-lhe só… enfim… menos coisas!
O senhor, então, respondeu, de forma brusca mas extremamente pausada, ao seu cúmplice:
- Tu está… mas é… calado… Sabes bem… que temos de… lhe levar tudi e tudi e tudi!
O cúmplice, então, baixou a cabeça e, ao vislumbrar o seu Rolex de ouro cravejado a diamantes, exclamou:
- Oh Gaspar! Bora lá pah! Temos de passar ao 2º esquerdo… caso contrário, não conseguimos dominar o Défice...
 Depois, foram-se embora. Eu, claro, fechei imediatamente a porta à chave e tratei de colocar a corrente de segurança porque, se o Défice estava nas escadas e aqueles dois homens não o conseguiam dominar, então era melhor eu ser mais cuidadosa, caso contrário (e ainda por cima com o cheiro a bifes nas mãos) ainda levava uma dentada do Défice, que aquilo, para ser tão indomável, deve ser um cão perigoso, um cão para aleijar... um pitt bull ou qualquer coisa parecida...



19 comentários:

  1. Que post fantástico. O humor que retrata a desgraça é absolutamente brilhante. Os bifes do lombo então...:D :D :D :D

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  2. Tens de inaugurar aqui uma rubrica "uma rábula todas as manhãs nem sabe o bem que lhe fazia".

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  3. EHEHEHEHEHEHEHEH... brilhante!!

    A forma de falar do Vítor... brutal!

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  4. Levou os bifes do lombo... Mas não levou a Palmier como sobremesa? Assim não há défice que amanse! ;) (Uma salva de palmas a este brilhante post!)

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  5. ahahahah! Ainda bem que o meu nome ainda tem "c", senão, corria o risco de ver o mru nome ser amaldiçoado para sempre, por toda uma nação,

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  6. Ó pázinha, eu sei que já chateia estar sempre a dizer-te isto, mas tenho mesmo que me repetir; BRILHAAAAANTE!

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  7. O FMI veio, mais uma vez, reconhecer que as medidas de austeridade adotadas na Europa nos últimos dois anos, não só não tiveram os resultados previstos, como até tiveram resultados indesejados. Basicamente os senhores vieram dizer que a coisa não está a resultar. Então porque insistem senhores, porquê?

    E ainda pergunto, se houver alguém que me souber elucidar, fico muito agradecida:
    Economistas, professores doutores, fiscalistas, coiso... que agora criticam as políticas passadas e avançam com soluções milagrosas, onde estavam nesses anos de políticas nefastas? Não me recordo de vos ter ouvido criticar essas políticas, não me lembro de vos ouvir dizer que iriam dar maus resultados. Sumidades de tal calibre deveriam ter previsto, não? Não viram o que aí vinha? Viram e não nos avisaram, para travarmos a tempo? Assim sendo, quem me garante que as soluções agora propostas estão correctas? Se calhar não são as sumidades que se pensa. Se calhar estas soluções são um disparate. Disparate em cima de disparate? Lembra-me uma pescadinha de rabo na boca, em que a pescada vai comendo o rabinho, comendo, comendo...

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    1. Acho que ninguém sabe nada de nada... e isso é que é grave... :(

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  8. ahahahahah! Bolas, os bifes é que não!! :D

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