O dono do restaurante da praia lá estava, camisa de manga curta aos quadrados, com os pêlos do peito a espreitar, curiosos, barba por fazer, com pequenas pérolas de transpiração na testa, braços curtos e rechonchudos, mãos sapudas e barriga proeminente, com as calças que, apertadas por baixo da barriga, teimam em descair e têm de ser puxadas para cima de quando em vez, olhar atento, emoldurado pelos novos óculos Armani, sempre agarrado ao touch screen para tirar as contas e receber os pagamentos, a dominar, do seu ponto de vigia, os empregados de mesa, todos eles fardados de camisa branca e calças pretas, mesmo durante o dia, quando o sol está a pique; a menina vem com um cestinho para escolhermos o pão mas lá dentro só há carcaças. Pela moderna abertura horizontal na parede do fundo vê-se a cozinheira, baixa, gorda e entradota, atarefada por entre os tachos e o grelhador, com uma inusitada bóina preta à Che Guevara virada para trás, a prender os cabelos rebeldes que teimam em desobedecer às especificações da ASAE, as ajudantes, mais novas, acrescentaram à boina uma flor encarnada e sentem-se assim mais belas e modernas a descascar batatas, os pratos são servidos cheios de nove horas, com uma disposição a puxar ao finório, mas depois o bife vem acompanhado de batatas fritas e arroz, este enfeitado com a estimada folhinha de salsa, porque quem lhes tira a salsa tira-lhes tudo. Os cocktails de camarão continuam a passar equilibrados nas bandejas da Gazela, com aquela tigela de água cor-de-rosa por baixo (alguém me explica a razão de ser daquela água cor-de-rosa?). No final vêm com umas garrafas absurdamente grandes, uma delas é uma réplica tamanho real de uma espingarda, mas em vidro, e servem um copinho de aguardente de medronho p'rá viagem, tudo isto enquanto olhamos a esplanada, toda branca, arquitectura cuidada, deck de madeira, música ambiente e uma zona de lounge aconchegada por uns chapéus-de-sol da Olá atados uns aos outros por umas inestéticas cordas, para resistirem ao vento, que os arquitectos já cá não estão para ver e um chapéu-de-sol é um chapéu-de-sol e estes até são à borla.
É que aquelas pessoas que sempre ali estiveram, que tinham umas barracas na praia onde trabalhavam e eram felizes, de um momento para o outro foram obrigados a fazer um upgrade para uma realidade que se lhes escapa e que os transformou num grupo de pinguins perdidos nos trópicos. Mas pronto, dizem que esta artificialidade é que é o futuro e se assim é...
É verdade Palmier, estes "cookie cutter lounges" já irritam e ficam no ridículo... mas o povo gosta é disto. Chamam "arquitectura moderna" (sem saber que o modernismo já tem um camadão de anos em cima, logo no pós-guerra) e fiquemos assim, em suspiros a ver e indentidade ser pintada a spray branco... quando somos um povo tão colorido.
ResponderEliminarAlgumas Câmaras são muito rigorosas nos projectos que aprovam para a renovação dos apoios de praia e concessões.
ResponderEliminarMas e quando é o próprio "girente" que quer sair do seu habitat e acha que se contratar um arquitecto e fizer um espaço todo "modernaço" para ter o melhor restaurante/bar do mundo?
Depois é vê-los com 50 anos, com T-shirts justas e decote em v (A barriga e o pelúcia a espreitar no decote mantém-se), jeans rasgados ou cheios de bolsos, óculos da moda e relógio vistoso, a controlar o movimento da sala e da esplanada e a pensar que aquilo do gin e da fruta e hortaliça "foi uma grande ideia sim senhores".
:DDDDD
ResponderEliminarAh, cara Palmier, ocasionalmente assalta-me a inquietante ideia de Consorte poder ser O Tio!
;)
Deviam dar-se muito bem! :DDDDD
EliminarNão bate mesmo a bota com a perdigota.
ResponderEliminarNada bate com nada! :DDDDDD
EliminarPara mim ou é chique a valer ou é tasca (e não tenho nada contra tascas).
ResponderEliminarExactamente! É que isto nào é carne nem peixe... o que, num restaurante.... enfim :DDDDDDD
EliminarE perguntar nesse restaurante pelo fraldário, uma vez que o símbolo está bem visível em dois ou três sítios? Só o QUARTO empregado soube dizer que estava guardado na arrecadação porque a parede não aguentava...
ResponderEliminarTambém fui a esse estabelecimento. Não gostei! Bom bom é o da praia seguinte com umas espetadas de camarão de ir às lágrimas e muito mais despretensioso! ;)
ResponderEliminarO S. Roque?
EliminarNão...esse é óptimo no peixe grelhado. Estou a falar no da praia seguinte, o S.Roque fica na praia anterior.
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