Ontem voltámos a reunir em Assembleia-Geral. As garrafinhas estavam sobre a mesa, tal como os livros de contas encadernados com lombadas em espiral, os convivas eram os do costume, todos chegados antes da hora e arrumadinhos nas suas cadeiras, sem conseguirem conter o nervosismo, excepto o Senhor Presidente, que chegou às quinze e trinta, sharp, nem um minuto a mais, nem um a menos, levando a que a Senhora Dona Teresina, de noventa anos, se levantasse de imediato da sua cadeira, com uma reverência digna da entrada do senhor padre na igreja da paróquia, para receber sua excelência, o Presidente, um garboso rapaz de oitenta e nove anos, que saudou todos os presentes com um aceno, enquanto pousava a sua bengala, o seu saco plástico da Almedina e o seu chapéu de feltro com um xadrez miúdinho em tons de castanho (até pensei em furtá-lo, que aquilo era bem Sherlock Holmes e acho que ainda vamos precisar da indumentária de detective para irmos à procura do Pipoco...). Ora, uma vez arrumados os seus objectos, o Senhor Presidente ocupou então a sua cadeira à cabeceira da mesa, dando a sua direita à Senhora Dona Teresina, toda ela sorrisos, poderia até dizer, se fosse maldosa, quando a vi segurar-lhe no saquinho plástico da Almedina, para o ajudar a dali retirar a papelada, que havia ali um clima...
O livro de presenças começou então a passar de mão em mão, até chegar à Senhora Dona Teresina que, horror dos horrores, enquanto vasculhava a sua pastinha de executivo para o transporte da sua singela caneta, a única que lhe permite fazer a mais bela assinatura algum dia vista, verificou que, minha Nossa Senhora dos Aflitos!, se tinha esquecido dela em casa. Foram então experimentadas várias canetas até se encontrar uma que agradasse à Senhora Dona Teresina, que, com o nervoso, até se esqueceu de se benzer, originando assim, para sua grande tristeza, uma assinatura tremida, muito inferior em termos de beleza, às dos anos anteriores. Para ultrapassar tamanho infortúnio fez-se então um intervalo para saborear umas amêndoas de chocolate, que permitiram inclusivamente à Senhora Dona Teresina mostrar os seus dentes de verdade ao Senhor Presidente, puxando-os com os seus dedinhos para provar que não se tratava de uma dentadura, realçando assim assim sua beleza natural. Ora, uma vez acalmadas as hostes, a ordem de trabalhos foi então sussurrada, que já se sabe que o Senhor Presidente já não tem o fôlego de antigamente, e todos votámos a favor por unanimidade, através da regra dos sentados e levantados, sem percebermos bem o que estávamos a votar, já que era praticamente impossível ouvir o murmurejar do Senhor Presidente, valia-nos a convocatória, onde podíamos seguir os vários pontos da ordem de trabalho, sem ficarmos completamente perdidos. A voz do Senhor Presidente voltou então a ouvir-se quando perguntou quem era o voluntário deste ano para fazer o voto de louvor e, escolhido então um voluntário à força, o Senhor Presidente ditou ele próprio para a acta o louvor pelos bons resultados da empresa, na pessoa do Gerente mais velho, afastando-me assim, mais uma vez, do meu ambicionado louvor. Depois, sem tenha percebido exactamente porquê, foi necessário fazer novo louvor, para louvar foi então escolhida a Senhora Dona Teresina e, mais uma vez, o Senhor Presidente se propunha louvar a actuação do referido Gerente, que estando a par do terrível caso do furto de louvores, interrompeu o Senhor Presidente dizendo que o trabalho era de equipa e que, desta feita, seria bom louvar, por exemplo, a Doutora Palmier...
Ah, o meu louvor, finalmente ali, tão próximo...!
E o Senhor Presidente, contrariado, olhou-me então com os seus olhinhos maldosos e já que eu ia finalmente açambarcar à traição o meu próprio louvor, disse-me, fixando-me, que era realmente incrível, que eu estava remoçada, parecia ter menos dez anos, e eu, antes que ele avançasse, retorqui de imediato que tinha sido por causa da plástica, que as cirurgias estéticas hoje em dia faziam milagres, e ele, desapossado da sua deixa, disse então que era pena não aproveitar este rejuvenescimento, que os óculos não me ficavam nada bem, que parecia o Professor Tornassol, disse-me mesmo isto, que parecia o Professor Tornassol, que com certeza era uma moda francesa - e eu imaginei-me de imediato com o cabelo armado a folhear uma revista daquelas dos anos sessenta, a escolher o modelo para levar à modista para copiar -, e que ele próprio, acrescentou enquanto tirava os seus óculos Gucci, também tinha uns óculos de uma casa de moda muito conhecida. Eram Guqui, e disse mesmo assim: "Guqui", mas os dele, ao contrário dos meus, eram muito mais leves.
Mas está claro que perante o louvor à minha pessoa, essa vitória retumbante que arrecadei, a minha medalha de oiro das reuniões de sócios, a Assembleia ficou logo estragada e o Senhor Presidente começou a arrumar as suas coisas com os préstimos da Senhora Dona Teresina, que transfigurada numa eficientíssima secretária, lhe endireitava a papelada e a acondicionava no saquinho para, logo de seguida, se levantar, ágil nos seus noventa anos, rápida como uma flecha e arreganhando os seus dentes verdadeiros num novo sorriso esplendoroso e antevendo a dificuldade do Senhor Presidente em pôr-se de pé, toca de o puxar pelos braços, praticamente deslocando-os para, assim que ele finalmente se conseguiu levantar, aproveitar o momento de periclitante equilíbrio para lhe espetar duas grandes beijocas nas bochechas. Eu bem dizia que havia ali um clima. E escaldante!
O livro de presenças começou então a passar de mão em mão, até chegar à Senhora Dona Teresina que, horror dos horrores, enquanto vasculhava a sua pastinha de executivo para o transporte da sua singela caneta, a única que lhe permite fazer a mais bela assinatura algum dia vista, verificou que, minha Nossa Senhora dos Aflitos!, se tinha esquecido dela em casa. Foram então experimentadas várias canetas até se encontrar uma que agradasse à Senhora Dona Teresina, que, com o nervoso, até se esqueceu de se benzer, originando assim, para sua grande tristeza, uma assinatura tremida, muito inferior em termos de beleza, às dos anos anteriores. Para ultrapassar tamanho infortúnio fez-se então um intervalo para saborear umas amêndoas de chocolate, que permitiram inclusivamente à Senhora Dona Teresina mostrar os seus dentes de verdade ao Senhor Presidente, puxando-os com os seus dedinhos para provar que não se tratava de uma dentadura, realçando assim assim sua beleza natural. Ora, uma vez acalmadas as hostes, a ordem de trabalhos foi então sussurrada, que já se sabe que o Senhor Presidente já não tem o fôlego de antigamente, e todos votámos a favor por unanimidade, através da regra dos sentados e levantados, sem percebermos bem o que estávamos a votar, já que era praticamente impossível ouvir o murmurejar do Senhor Presidente, valia-nos a convocatória, onde podíamos seguir os vários pontos da ordem de trabalho, sem ficarmos completamente perdidos. A voz do Senhor Presidente voltou então a ouvir-se quando perguntou quem era o voluntário deste ano para fazer o voto de louvor e, escolhido então um voluntário à força, o Senhor Presidente ditou ele próprio para a acta o louvor pelos bons resultados da empresa, na pessoa do Gerente mais velho, afastando-me assim, mais uma vez, do meu ambicionado louvor. Depois, sem tenha percebido exactamente porquê, foi necessário fazer novo louvor, para louvar foi então escolhida a Senhora Dona Teresina e, mais uma vez, o Senhor Presidente se propunha louvar a actuação do referido Gerente, que estando a par do terrível caso do furto de louvores, interrompeu o Senhor Presidente dizendo que o trabalho era de equipa e que, desta feita, seria bom louvar, por exemplo, a Doutora Palmier...
Ah, o meu louvor, finalmente ali, tão próximo...!
E o Senhor Presidente, contrariado, olhou-me então com os seus olhinhos maldosos e já que eu ia finalmente açambarcar à traição o meu próprio louvor, disse-me, fixando-me, que era realmente incrível, que eu estava remoçada, parecia ter menos dez anos, e eu, antes que ele avançasse, retorqui de imediato que tinha sido por causa da plástica, que as cirurgias estéticas hoje em dia faziam milagres, e ele, desapossado da sua deixa, disse então que era pena não aproveitar este rejuvenescimento, que os óculos não me ficavam nada bem, que parecia o Professor Tornassol, disse-me mesmo isto, que parecia o Professor Tornassol, que com certeza era uma moda francesa - e eu imaginei-me de imediato com o cabelo armado a folhear uma revista daquelas dos anos sessenta, a escolher o modelo para levar à modista para copiar -, e que ele próprio, acrescentou enquanto tirava os seus óculos Gucci, também tinha uns óculos de uma casa de moda muito conhecida. Eram Guqui, e disse mesmo assim: "Guqui", mas os dele, ao contrário dos meus, eram muito mais leves.
Mas está claro que perante o louvor à minha pessoa, essa vitória retumbante que arrecadei, a minha medalha de oiro das reuniões de sócios, a Assembleia ficou logo estragada e o Senhor Presidente começou a arrumar as suas coisas com os préstimos da Senhora Dona Teresina, que transfigurada numa eficientíssima secretária, lhe endireitava a papelada e a acondicionava no saquinho para, logo de seguida, se levantar, ágil nos seus noventa anos, rápida como uma flecha e arreganhando os seus dentes verdadeiros num novo sorriso esplendoroso e antevendo a dificuldade do Senhor Presidente em pôr-se de pé, toca de o puxar pelos braços, praticamente deslocando-os para, assim que ele finalmente se conseguiu levantar, aproveitar o momento de periclitante equilíbrio para lhe espetar duas grandes beijocas nas bochechas. Eu bem dizia que havia ali um clima. E escaldante!
Agora é esperar pela acta. Para ver se desta feita está lá, preto no branco, o meu louvor.
Esse 'amor' do Sr.Presidente deve-se a quê Palmier?
ResponderEliminarSempre foi assim, é pelo facto de ser mulher, instruída e ocupar um cargo que não de secretária?
Conte lá histórias dessas que a malta adora!!
Beijinho e parabéns pelo louvor!
Sim ,é por ser mulher :D
EliminarFiz a busca Palmier Encoberto + Assembleia-Geral e está aqui toda a saga :D
http://palmierencoberto.blogspot.pt/search?q=Assembleia+geral
Graças ao Todo Poderoso Altíssimo Misericordioso, o dpisódio dos Sonhos Quentes não entrou nestas contas, senão ainda não era desta que sacavas o louvor. Para o ano arranja quem te represente na Assembleia, escusas de lá ir, assim como assim o louvor está completamente fora de costume.
ResponderEliminar(Achas que é o cabelo que te torna mais remoçada?)
Ahahahahahahahahahahahahhahahahahahahahahahhahaha
EliminarFogo! Vade retro! se ele imagina a situação dos sonhos quentes é a minha ruína?!
(Tudo na minha assembleia está fora do costume! E não, não é o cabelo... nem nada! Era só mesmo a vontade de dizer que tinha feito uma plástica... para me humilhar! :DDDDDDDDDD)
Era questão em vez de costume, não sei o que se passou. Costume é a adoração do senhor presidente pela tua pessoa.
EliminarRealmente não imagino o que se terá passado... São super raras estas tuas trocas de palavras... :DDDDDDDDDD
EliminarRaríssimas!
Eliminar:DDDD
Ahahahaah
ResponderEliminarGuqui é muito bom!
Confessa Palmy, vais ficar feliz que o senhor bater a bota não vais? :DD
Luciana
Não. Coitado! E depois quem me fazia rir?
EliminarParabéns!!
ResponderEliminarPróximo objectivo: uma Ordem Honorifica ,Ordem do Infante D. Henrique ou semelhante ...
Caramba... a ver se agora com o Marcelo me dão uma condecoração como deve ser! :DDDDDDDDDD
EliminarParabéns! Finalmente... O Louvor!
ResponderEliminarProfessor Tornassol? ahaahahahaha mas são assim pequeninos e redondinhos ou era o homem a deitá-la abaixo por conta do louvor?
São redondos e grandes... mas mesmo que fossem quadrados, triangulares... ele tem sempre de me aspergir com o seu veneno! :D
EliminarBravo, Palmi! Bravo! (clap clap clap clap)
ResponderEliminarMas acha mesmo que o seu louvor vai aparecer nesta acta? A gozar à descarada com o Sr.Presidente??? Plástica Palmi????
Aposto que não, I. Tenho a certeza que vai desaparecer pelo caminho :DDDDDDDDDD
EliminarO elogio do louvado Gerente é coisa de valor, conste ou não o louvor.
ResponderEliminarAqui há tempos, elogiei uma senhora dizendo os óculos lhe ficavam bem. Respondeu-me que eram de uma marca italiana "muuito boaa: Cavalhi", assim, com o dígrafo muito pronunciado e prolongado, quase fazendo adivinhar o ier com que, apesar de tudo, não finalizou. Mas guqui, guqui é muito bom.
Parabéns,
Outro Ente.
Já percebi que temos de ser deveras cuidadosos com esta questão da marca dos óculos. Nunca se sabe o que nos espera! :DDDDDDDDDD
EliminarAi, rapariga, louvada sejas...
ResponderEliminar:)
Louvem-me! Louvem--me! :DDDDDDDDDDDDDDD
EliminarMuito bom! Adorei!
ResponderEliminarVai ver que o tal Sr. Presidente, aquele que gosta tanto, mas tanto de Palmier, em vez do almejado louvor, ainda lhe dá um lavor por ter sido uma menina prendada... ou o Professor Tornassol do ponto cruz, quem sabe...
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