quinta-feira, 28 de junho de 2012

O post das 23 horas... e coiso...

A porteira do meu prédio tem sérias dificuldades em dominar a língua portuguesa. Ela bem tenta subjugá-la mas, a língua, esquiva como tudo, escapa-se-lhe pela boca fora. 
Como tal, é preciso muita concentração (diria mesmo uma atenção extrema) quando entabulamos um qualquer diálogo com ela. Mesmo os mais simples. Há que fazer uma tradução em simultâneo, ao mesmo tempo que preenchemos os espaços em branco, que ela teima em substituir com a expressão "e coiso". Qualquer frase, termina em "e coiso". Por exemplo:
- Fui às compras, comprei umas cerejas... e coiso...; Os cães do 2º andar deixaram imensos pêlos na passadeira que eu tive de ir aspirar... e coiso... (a história dos pêlos dos cães já deu direito a sessões de tortura tão prolongadas que eu lhe ofereci um aspirador para ver se o assunto se desvanecia. Saiu-me caro, porque continuo a ouvir relatos intermináveis sobre os pêlos dos cães. Quantidade, cor e consistência)...
Hoje, quando cheguei a casa e, apanhada totalmente desprevenida nas escadas, tive de ouvir o relato da doença de uma senhora que, aparentemente, mora aqui no bairro (mas que eu não conheço, nem sei quem é) e que está muito doente. A senhora, relatou-me a porteira, está com ÂNGULOS. Sim... sofre de ÂNGULOS! Claro que eu, que já tirei um mestrado neste tipo de linguagem (diria até um doutoramento... fui até agraciada com um honoris causa...) percebi, de imediato, que a senhora tem gânglios. Assim sendo, disse-lhe: Ah... uns gânglios! E ela respondeu-me: Isso! Uns ÂNGULOS! E lá continuou a discorrer sobre os perigos dos ÂNGULOS na vida de uma pessoa.
Nisto, filhos ouviram-me na escada e vieram abrir a porta. Claro que pequena Cutxi (de seu nome de baptismo Pandora) veio imediatamente a correr, com o seu body cor-de-rosa. Porteira (fingindo gostar muito de pequena Cutxi) disse, de imediato:
- Olha a PANTERA (em vez de Pandora)... agora é que é mesmo uma Pantera! Com um BODE (em vez de body) cor-de-rosa... e coiso!
Ora filhos, que não estão assim tão à vontade com este tipo de linguagem, corrigiram de imediato o nome de pequena Cutxi, ao mesmo tempo que diziam que ela não tinha nenhum BODE.
Porteira, confusa com as palavras de filhos, olhava de mim para o body e do body para mim, à espera que eu confirmasse aquela realidade tão evidente, ao mesmo tempo que dizia:
- ATÃO não tem um BODE!? Um BODE Cor-de-rosa... e coiso!
Filhos insistiam no seu ponto de vista e diziam:
- O BODE é um animal com chifres! Ela não é nenhum BODE! Nem temos nenhum BODE cá em casa!
Porteira, baralhada com tudo aquilo, preparava-se para insistir, quando eu invoquei a clássica  panela ao lume e me precipitei, em voo, para o interior da habitação, trancando, de imediato, a porta a sete chaves.
Presumo que, amanhã, haja mais desenvolvimentos... e coiso...




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