quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O Lobo Mau e os três camaradas - antevisão de um Governo

Os três camaradas, irmãos de ideologia, saíram um dia da casa do seu pai Karl e foram, cada um por si, construir a sua própria casinha. O Irmão ecologista resolveu construir uma casa de bambus com telhado de colmo, uma coisa muito verde e zen, rodeada de belos girassóis, depósitos de compostagem e painéis solares; a irmã Catarina, mais prudente, resolveu construir uma casinha de ripas de madeira, uma coisa de verdade para gente de verdade, que pintou de encarnado, e que, no fim, ficou muito bonita e a Catarina gostou muito, aquele encarnado fazia, de facto, toda a diferença, era um orgulho aquela sua obra. Por fim, o irmão Jerónimo, raposa velha, enquanto os seus irmãos, com o trabalho já despachado, descansavam nos respectivos alpendres falando para as televisões, envidou todos os esforços e construiu uma casa de tijolo sem janelas, uma coisa robusta e inexpugnável, um bunker antiquado que ninguém percebia lá muito bem. Ainda assim, e apesar das diferenças, todos viviam felizes nas suas casinhas. 
Mas um dia tudo mudou, o Lobo Costa apareceu sorridente nas redondezas, a princípio ninguém lhe ligou muito importância, aliás, os três irmãos nem gostavam lá muito dele, “lá vai o fanfarrão”, comentavam eles com olhar crítico, “dizem as más-línguas que nos quer comer”... mas, apesar da má vontade dos manos, o Lobo Costa não desistiu, foi-se aproximando pé ante pé e acabou por abordar o Eco-Mano, afinal a casinha era um amor, construída certamente com muito carinho, e o Lobo Costa era um lobo muito ecológico que se interessava muito por aquelas coisas, e o Eco-Mano, baixando a guarda deixou-o entrar. O Lobo Costa não precisou de mais nada, uma vez lá dentro, desculpando-se com a alergia à aragem que vinha da janela da esquerda, deu um grande espirro que, num segundo, despedaçou a estrutura da casa como se de um terramoto se tratasse. O Eco-Mano, tremente e de olhos esbugalhados, fugiu aterrorizado e foi pedir guarida à mana Catarina. Nem imaginas, disse o Eco-Mano, o Lobo Costa deu-me cabo dos bambus, mas mal acabou a primeira frase, o lobo, astuto, bateu-lhes na vidraça. Catarina, segura da qualidade da sua construção, descansou o seu Eco-Mano, “estamos aqui bem protegidos, não te preocupes”, disse ela,” a minha casa não foi feita às três pancadas, é de madeira e o Lobo Costa não consegue aqui entrar”. Mas o Lobo Costa não descansou, lá de fora, sedutor, dizia palavras doces e conciliatórias, “venham meus amigos, vamos negociar! Estas paredes não fazem sentido nenhum, os tempos são agora de derrubar muros!” e abrindo a sua grande boca de dentes muito brilhantes e afiados, soprou com muita força para mostrar como se fazia, deitando assim, sem dificuldade, a casa da Catarina por terra. Perante aquela hecatombe, Catarina e o Eco-Mano fugiram apavorados e foram pedir abrigo a casa do mano Jerónimo, que, como é óbvio, não lhes abriu a porta, tendo sido devorados ali mesmo, na soleira, pelo Lobo Costa que, não tendo ficado saciado, vá de tocar à campainha da casa do mano Jerónimo de forma desabrida, que parecia impossível terem construído ali aqueles muros, que aquilo já não se usava há um ror de tempo, que exigia negociar a situação. E passou horas naquilo, e depois dias e por fim meses, até que o mano Jerónimo, cansado da situação, muito prático e diligente pôs as suas mãozinhas por baixo da porta e, através da frincha, num gesto firme e seguro, lhe puxou o tapete de um só golpe.



29 comentários:

  1. Que fábula bonita!
    O Lá Fontaine ficaria orgulhoso!
    E muito realista, também!

    :)

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  2. Também lê a sina nas borras do café? Quanto leva?

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  3. Eu vinha aqui dizer que o porquinho Jerónimo é que vai comer o lobo. E vai ser épico.

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  4. Desconhecia está tua faceta.
    Está fantástica!!!

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  5. Esta fábula faz-me lembrar qualquer coisa ...
    Também gosto muito quando eles falam de fazer coisas de verdade para gente de verdade!

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  6. Se toda a política fosse explicada, assim, em miúdos e para miúdos, o nível de interesse geral sobre o tema escalava que só visto! Palmier a comentadora, em horário nobre, já!

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  7. Nem pensar em contar ao meu filho, esta versão dos 3 porquinhos e o lobo mau. Coitadinho ficava traumatizado para o resto da vida :D :D :D

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  8. Mas o que é que a Palmier faz atrás deste blogue??
    Que talento...

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  9. Perfeito! Brilhante!
    Palmier ao Poder!!!!

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  10. Palmier, quanta biolência! Não sabes que as fábulas têm de ser actualizadas para versões zen??

    Plamordedeus, daqui a nada estás a atirar o pau ao gato! Assim não há condições pedagógicas.

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    1. Isso vai ser o segundo acto... depois da "puxadela" do tapete, vêm os familiares com o pau! :DDDDDDDDDDD

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  11. Ahhhhhhhhhhhhh está justificado o cabelo sinistro e os sobretudos exóticos!!! Você é uma artista! :) muito bem escrito, adorei ler.

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  12. A fábula perfeita, Palmier!!!

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  13. Então Palmier? Não acreditas que o Lobo e os três manos possam viver juntinhos e felizes? Puxar tapetes? Onde é que isso já se viu? Que descrente!

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  14. Ui... Palmier... Ahahahahahahahah ahahahahahahahah tu já viste o meu post?? :DDDDD pensamos exactamente a mesma coisa...

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    1. Tal e qual! :D haviam de pôr o cartaz à porta da AR! :DDDDDDDDDDDDDD

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  15. E isto está tão bom miúda.... :)))))))

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  16. Palmier a primeira-ministra! É só o que tenho a dizer.

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  17. e o que acontece ao Capuchinho Laranja e ao seu amigo lenhador?

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  18. É pah mas tu ainda não tás no Pentagno because??
    Fantástica historia, um dia vou conta-la aos meus netos.. a versão do capuchinho vermelho seculo 21 :)

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  19. Que linda história... agora conte a da tia alcoólica no parlamento, conte, conte!!!!

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  20. Ahahahah
    Mas vá lá, não sejam maus. Sabem q estamos a assumir o pior do Jerónimo, n sabem? Desgraçado do homem, já n lhe bastava a fama de comer criancinhas ;)

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