segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Ainda para ti, pequeno Pedro Passos Coelho

Quando, por vezes, brinco aqui sobre o meu trabalho e o meu patrão, não passa disso mesmo, de uma brincadeira. Na verdade, o meu patrão sou eu própria (por ser uma das sócias da empresa onde trabalho). Como isso não é minimamente relevante para o efeito, e porque não tenho por hábito apresentar-me como “jovem empresária” (cartão de visita que me provoca extrema agonia) nunca o tinha referido. Mas, agora, pequeno Pedro, e porque passei o fim-de-semana a pensar nas tuas palavras, vem a propósito. E vem a propósito para te dizer que eu, apesar de, pessoalmente, poder acabar por beneficiar desta diminuição da contribuição das empresas em 5,75% (no fim do ano o custo de pessoal será menor) e isso poder, eventualmente, vir a reflectir-se nos lucros (se os houver), não consigo concordar com tal medida. Eu percebo que a intenção por de trás desta tua ideia é permitir às empresas, com aquilo que poupam, contratar novos trabalhadores a custo zero (diminuindo o desemprego). No entanto, há que ter em consideração que a maioria das pequenas e médias empresas (o grosso do tecido empresarial português) produzem para o mercado interno. É o caso da minha… e sabes pequeno Pedro, apesar de passar a poupar cerca de 130.000 € por ano em contribuições para a segurança social, não vou contratar 18 novos trabalhadores com esse dinheiro. Sabes porquê, pequeno Pedro? Porque não quero produzir mais. Sabes porque não quero produzir mais, pequeno Pedro? Porque vou vender menos. E sabes porque vou vender menos, pequeno Pedro? Porque as pessoas (que terão de passar a pagar a taxa social única que estava a cargo da empresa) não vão ter dinheiro para comprar os meus produtos. E pronto, pequeno Pedro, provavelmente para o ano, em vez de ter 168 colaboradores, vou ter 132. Menos 18 do que actualmente, portanto.
E é assim, pequeno Pedro que, pela primeira (e última - blhac, já fui lavar a língua) vez na vida e contra todos os meus princípios, uso o título de jovem empresária. Para te dizer que, como jovem empresária, não consigo perceber como não enxergas o óbvio…

17 comentários:

  1. Que pena que o senhor não leia o Palmier Encoberto... talvez abrisse os olhos para a realidade real, passe o pleonasmo, porque é tal e qual o que o futuro nos reserva. Devia mandar-lhe o recado via FB... ele diz que lê todas as opiniões... BTW . se concorrer ás próximas eleições, tem o meu voto !

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  2. Caríssima Palmier, é com agrado que leio a sua dissertação. Não, não sou o pequeno Pedro. Apesar de a minha querida mãe ainda hoje, após quase quatro décadas ainda se sentir tentada. Dizia eu, que li com agrado. E o pequeno Pedro, o verdadeiro, iria ler também com agrado. E iria provavelmente comentar, justificando-se, que ele consegue ver o óbvio, agora que toda a gente o aponta, claro. O problema é que isto não é uma questão de política, é uma questão de gestão. E nenhum gestor lhe fez o favor de explicar o óbvio antes de ele se aventurar ao púlpito do discurso. Senão, teria se insurgido, diria o pequeno Pedro. O problema é que logo de imediato alguém lhe iria dizer: Xxxt, 'tá caladinho, que aqui "há" mais coisas que não te posso explicar agora...

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  3. 5 Estrelas este texto!!Devia publicá-lo no FB do coelho!! Mas como é que ele pode ver óbvio,se acabou o curso aos 30 anos (não votei no outro), e teve um emprego!!??? arranjado pelo amigo Ângelo?? É que ele conseguiu unanimidade pela negativa:trabalhadores,patrões e sindicatos!!

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  4. Vou por a malta toda que lê os meus disparates a vir aqui ler "O Pequeno Pedro" 1 e 2 ... é imperdível !!!

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  5. Exacto!!
    Ainda bem que alguém, na qualidade de empresária (do lado do patronato, portanto) concorda cmg.

    Só um atrasado é que pode achar q esta medida vai gerar emprego.

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  6. Belo texto e muitas verdades. Gostava que o pequeno Pedro lê-se isto!

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  7. Passei por acaso e adorei os seus textos, porque consegue escrever umas quantas verdades com uma espécie de ironia deliciosa, sem ofender ninguém, e em muito bom português... No contexto actual, é difícil produzir textos com esta elegâcia! Gostei!

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