terça-feira, 31 de março de 2015

E então, Palmier, isso é o quê?

Algum mauzão que pensa que a estrada é só dele, não é? 


Na verdade, não... na verdade, é simplesmente a minha Maman a tirar o seu carro da garagem...


O melhor é voltar para a árvore

- Mãe, mãe, mãeeeee, oh mãe, mãe anda cá, mãe, mãe, mãe, mãe olha ele, oh mãeeeee ela está a chatear-me, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe...

- Cinco minutos! Quero cinco minutos sem ouvir a palavra "mãe"!

Depois de três segundos de silêncio oiço lá de dentro:

- Palmier...?

E então, Palmier, o que estás a fazer?


A descansar, claro! Então não é para isso que as férias servem?

sábado, 28 de março de 2015

Eu bem queria dar-vos novidades de Canis

Mas andam a pintar a casa, ele pega ao serviço muito cedo e só volta para dentro a esta hora, quando dá o trabalho por terminado.

Coisas que eu já tinha a obrigação de saber

Champô para os miúdos, só com doseador.


Este frasco foi utilizado uma vez. Para lavar "um" cabelo. De rapaz.

Olha, Cuca, já aqui está :)


E agora, Palmier, estás a comer umas amêijoas e um robalo grelhado?



Na verdade, não. Estivemos de calculadora na mão, a fazer contas ao que podemos comer. Três hamburgers simples, uma dose de batatas para os três, uma Coca-Cola para os meus filhos dividirem, uma imperial para mim e dois cornetos de sobremesa. Só tenho vinte cinco euros na carteira e o restaurante não aceita multibanco.

Vá, anda lá!


sexta-feira, 27 de março de 2015

E então, Palmier, o que estás a fazer?

Ora então, chegámos e a empregada estava a acabar de passar o chão com a esfregona, o chão estava húmido, tudo normal, sem problema. Deixámos as malas e fomos lá para fora. Uma hora depois, quando voltámos a entrar, o chão continuava húmido e eu comecei a perguntar-me se, antes da esfregona, teria sido usada uma mangueira. Resolvi então abrir todas as janelas, para arejar. Uma hora depois, com uma corrente de ar medonha, o chão continuava húmido e extremamente escorregadio. Optei então por acender os aquecedores eléctricos, caramba, tenho de me ver livre da humidade!, pensei eu de mim para mim. Mas, uma hora passada, o chão, em vez de melhorar, estava pior, parecia uma pista de patinagem artística, e nós com as pernas a fugir cada uma para seu lado, e eu aos gritos, cuidado, cuidado, não corram, podem cair, vão com cuidado, agarrem-se às paredes, e o chão cada vez pior, e os cães a derrapar, e eu a enlouquecer. Foi então que me lembrei dos aquecedores a gás, fui buscar os três, o raio da humidade não havia de levar a melhor, os dois Hotspot e o Spring It a bombar, os aquecedores das casas-de-banho no máximo, a uivar, três horas depois o chão continua na mesma e eu percebi finalmente que o problema não é humidade, o problema é o produto que foi usado (cera?), e agora que a casa está um forno absolutamente impossível, uma coisa extremamente tropical, eu estou aqui de esfregona na mão, com afrontamentos, a lavar isto tudo outra vez, a ver se chegamos a amanhã inteiros.

Às vezes basta isto

Sol, uma estrada e música.

segunda-feira, 23 de março de 2015

O Estranho caso do Engenheiro Acácio

O Engenheiro Acácio acorda todas as manhãs entusiasmadíssimo; entusiasmadíssmo é como quem diz, que o Engenheiro Acácio tem de manter a fleuma e, como tal, não é homem de se entusiasmar por aí além. Voltemos então ao início.
O engenheiro Acácio acorda todas as manhãs entusiasmado q.b., no fundo sabe que tem uma missão a cumprir e isso é o suficiente para o alegrar, uma vez que o Engenheiro Acácio é, sobretudo, um homem de missões.
Depositado nas costas da cadeira do seu quarto está, muito direitinho e preparado de véspera, o seu fatinho escuro às riscas, a sua camisa branca, a sua gravata verde garrafa e, no chão, numa linha paralela perfeita, os seus sapatinhos de sola, imediatamente ao lado da sua mochila. Em cima da mesa, enfileirados, os seus cartões verdes, amarelos e vermelhos. O Engenheiro Acácio acorda bem cedinho, porque isto de ter uma missão é coisa importante e, quem tem uma missão, tem de a cumprir em condições. Assim sendo, veste-se com aprumo, calça-se, atando os atacadores com dois lacinhos redondos e perfeitos, amarra firmemente à cabeça uma fita encarnada, à Rambo, a fita que revela ao mundo a perigosidade da sua incumbência, dedica largos minutos a polir os seus cartões coloridos, os conhecidos cartões da Moral, os cartões que lhe foram atribuídos numa linda cerimónia pela Santa Inquisição, guarda-os com todos os cuidados num porta-documentos de pele de borrego que é cuidadosamente guardado na mochila que, por sua vez, é profissionalmente colocada às costas, e, nestes preparos absolutamente assustadores, parte no seu passo aprumado e oficial para a floresta, para fazer a sua ronda Moralizadora.
E o Engenheiro Acácio lá vai, perscrutador, por entre galhos pavorosos, que insistem permanentemente em despentear-lhe as lustrosas e cuidadas melenas, folhas que insistem em cair-lhe nos ombros e que ele sacode incessantemente, de olhos bem abertos, a cumprir escrupulosamente o seu mister: caçar as terríveis, perigosas e inomináveis prevaricadoras. O Engenheiro Acácio é, no entanto, extremamente cuidadoso, que a floresta é local ermo, arriscado e traiçoeiro, e o Engenheiro, homem do mundo como gosta de se considerar, sabe muitíssimo bem que não pode pôr o pé em ramo verde, pelo que todos os seus gestos são estudados para que possa saltar de nenúfar em nenúfar sem nunca tropeçar e estatelar-se na lama. Mas se o Engenheiro Acácio é geralmente um homem cuidadoso e cortês com todos aqueles com quem se cruza na floresta, "bom dia minha Senhora, vai muito compostinha nesse coche alemão, sim senhor! Passou no exame! Aqui tem um cartão verde", "como vai o Senhor Doutor, ai essas polainas... deviam estar mais reluzentes, aqui tem um cartão amarelo", com as prevaricadoras, aquelas que saem da linha, uma linha que o Engenheiro Acácio definiu com esmero ao longo de anos e anos, consegue ser absolutamente implacável, sendo, aliás, muito pior que as próprias. Não que seja sanguinário, que o Engenheiro, como engenheiro que é, faz questão em ser sempre muito gentil, mas, de cada vez que apanha uma dessas prevaricadoras, tira do bolso o seu lenço de seda da Índia, passa-o pela testa, devolvendo-o de seguida ao bolso da sua sobrecasaca e diz, corajoso e com voz segura de quem fala em nome de um povo e da autoridade instituída, cartão vermelho na mão direita, a esquerda pousada no ombro da prevaricadora, paternalmente, "Então, então, minha Senhora, por quem é! A Senhora é muito instruída para ter ideias tão... tão anticivilizadoras! Prudência! Prudência! Os regulamentos são muito explícitos! Não os infrinjamos, não os infrinjamos! O nosso público não é afecto a cenas de sangue" e, com voz persuasiva, acrescenta "dê mais alegria ao blog, o leitor sai mais aliviado. Deixe sair o leitor mais aliviado!".

E ao fim do dia, quando o vêem regressar ao seu quartinho, missão cumprida, ouvem-se suspiros pela floresta, "que grande homem", dizem umas, "que justiceiro", dizem outras, e o Engenheiro Acácio, glacial e polido, diz-lhes "minhas senhoras, então? Mas, no fundo, é disso que está à espera, que o Engenheiro Acácio está aqui para ser visto, desejado e, já agora, para sair bem no daguerreótipo. Sim, sair bem no daguerreótipo é fundamental.



sábado, 21 de março de 2015

Sábado à tarde

Uma amiga da minha filha veio cá a casa, estiveram no veste e despe, a brincar às passagens de modelos (o estado daquele quarto, Mamma Mia!). Dos adereços faziam parte brincos autocolantes (nenhuma tem as orelhas furadas). O susto da mãe a olhar para as orelhas da filha quando a veio buscar! 

- Ah, é verdade, furei-lhe as orelhas! E também lhe tatuei uma caveira nas costas!



A congeminar


sexta-feira, 20 de março de 2015

quinta-feira, 19 de março de 2015

Tenho uma tristeza no coração

Acho que nunca poderei ser banqueira. Gesticulo demasiado. Parece-me bem que, para se ser banqueira, é necessário primeiro estudar para esfinge.

E também tenho uma excelente memória :( o que é claramente um terrível handicap.



Queria tanto estar em casa a ver o nosso Bankster...

Snif.



E quando as reuniões nunca mais acabam, o que fazes, Palmier?

Aquelas que se prolongam indefinidamente? Aquelas em que já está tudo falado e esclarecido e até parece que estão mesmo, mesmo, a terminar, aquelas em que a pessoa até já está a pegar nas suas coisinhas porque não há mais nada a dizer e, de repente, nesse exacto momento, alguém faz uma pergunta sem nexo reacendendo a reunião, e a reunião fica outra vez crepitante e cheia de labaredas bem amarelinhas? 


Eh pah... levanto-me e digo "Olhe, já estou farta! Vamos ficar por aqui, sim?"



quarta-feira, 18 de março de 2015

A Assembleia-Geral

O afã começa logo da parte da manhã, com o cuidado que o Senhor Pereira dispensa à arrumação da sala de reuniões, organização dos vários exemplares do Relatório e Contas finamente encadernados e perfeitamente alinhados em cima da mesa, garrafinhas de água acompanhadas dos respectivos copos e, para rematar, canetas e blocos de notas que ficam invariavelmente por utilizar e que passam de ano para ano como relíquias preciosas. 
Depois, aí pelas duas e meia da tarde, começam a chegar os convivas, para a Assembleia que se encontra marcada para uma hora mais tarde. No fundo trata-se de um dia especial, que não permite atrasos ou contratempos de qualquer espécie, pelo que mais vale prevenir e chegar um "bocadinho" mais cedo. 
A primeira a apresentar-se é invariavelmente a Senhora Dona Teresina, viúva de um dos sócios, leva o seu papel muito a sério e, com os seus oitenta e seis anos apresenta-se munida da sua pastinha preta de aspecto profissional, que contém apenas uma caneta, a única caneta com que consegue assinar, aquela com que consegue ludibriar o Parkinson. Pergunta sempre pela família e pelos meninos e senta-se numa cadeira, a olhar em frente, à espera. A Senhora Dona Teresina sofre muito dos nervos por causa dos senhores dos bancos, que lhe telefonam amiúde com propostas indecorosas de depósitos e aplicações que a Senhora Dona Teresina não compreende. Ultimamente tem sido fustigada por telefonemas do Novo Banco, ou “os verdes”, como lhes chama, que lhe explicam que os outros, os da Caixa Geral, têm lá muito dinheirinho e que a Senhora Dona Teresina havia de ser boazinha e havia de passar uma parte do dinheiro que tem nos "outros" aqui para nós, para ficarmos todos mais equilibrados, e a pessoa ainda lhe diz que não vale a pena ficar naquele estado de nervos, que a Senhora Dona Teresina diga lá aos senhores do Novo Banco que se lhe voltarem a falar nesse assunto tira de lá o dinheiro todo e que o deposita no Totta, mas a Senhora Dona Teresina sente medo dos senhores do banco, que é uma pessoa sozinha, e hoje em dia nunca se sabe, “ainda me fazem mal!” De qualquer forma, não adianta dizer-lhe grande coisa, que a Senhora Dona Teresina não ouve nada porque se recusa a usar o aparelho auditivo. O segundo a chegar é o Senhor Manuel, sobe a escada de bengala mas abandona-a à porta, para parecer mais jovem que os seus oitenta e nove anos. O senhor Manuel não perde tempo e fala de todos os médicos a que tem ido, e têm sido muitos, tínhamos ali conversa para vários dias, doenças, medicamentos e mezinhas, consultas, cirurgias, hospitais, anestesias e analgésicos, tratamentos e fisioterapias, o que se quiser, como na feira, tudo contado com incrível detalhe, detalhes que na verdade ninguém quer saber mas que todos ouvem acenando com fingida atenção. De seguida chegam os restantes sócios, o ROC, o TOC, e ali ficam a conversar sobre o estado das coisas, o Governo e os impostos, que já se sabe, isto está tudo muito mau e a tendência é para piorar. Por fim, às quinze e trinta em ponto, chega finalmente o Presidente da Assembleia-Geral, cargo que é ocupado pela mesma pessoa vai para cima de trinta anos. O Presidente, advogado outrora famoso, foi refinando com a idade, e agora, aos oitenta e oito anos e assumiu-se claramente como um machista arrogante e abjecto que nutre um profundo desprezo por todas as mulheres que se atrevam a ser mais do que umas simples e extremosas donas de casa, uma espécie de militante do Estado Islâmico, versão 1940, com quem, naturalmente, mantenho um sanguinário diferendo vai para cima de dez anos. Pois então o nosso Presidente entra, cumprimenta-me em primeiro lugar, e fá-lo como habitualmente, "gosto em vê-la Xôtora, ah, mas está com muito melhor aspecto!” E depois de me avaliar de cima a baixo, larga a primeira granada, "engordou aí um quilo e meio, não?" fugindo de imediato, antes que lhe possa sequer responder, apressando-se a cumprimentar todos os presentes como se nada fosse. Feitos todos os cumprimentos, sentamo-nos finalmente à mesa e, num ambiente vagamente religioso, dá-se finalmente início à Assembleia-Geral. Ao mesmo tempo que se lê o ponto um da Ordem de Trabalhos, circula o livro de presenças que vai sendo assinado à vez. É portanto enquanto se analisa o exercício de 2014, que a Senhora Dona Teresina abre a sua pasta preta de executiva, de lá retira a sua caneta mágica, respira fundo como que para ganhar coragem para aquela pesada responsabilidade anual, profere um audível “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, benze-se e então sim, guiada pela força de Deus, arremete finalmente contra o livro de presenças, para aí deixar a sua assinatura, a prova do cumprimento da sua obrigação. Nisto, e enquanto se analisam os números, o Presidente pára tudo, volta a olhar para mim - que tinha passado a manhã de um lado para o outro, à chuva- "a Xôtora tem um penteado novo?" "Não Xôtor, não tenho", "ah, estou a ver... foi então ao cabeleireiro?" "Fui sim, Xôtor, fui fazer o meu Penteado-Especial-Assembleia", e com esta terrível dúvida esclarecida passamos então à votação das contas de 2014, através do método de sentados e levantados, que reforça a ideia sacro-santa do evento - quem é a favor deixa-se ficar sentado, quem é contra deve levantar-se -, método terrível, que toda a vida impediu os sócios minoritários, já de si inibidos pela situação, de votar contra fosse o que fosse, obrigando, aliás, a que todos fiquem absolutamente imóveis, não vá dar-se o caso de um qualquer gesto ser tomado como um voto contra. Foi enquanto se analisava o ponto seguinte da ordem de trabalhos que se abriram umas garrafinhas de água para descontrair, que isto de votar contas por unanimidade é coisa cansativa, uma água para aqui, outra para ali, e a Senhora Dona Teresina, quer uma aguinha? E a Senhora Dona Teresina estica o braço, olha fixamente para o relógio (?) e, depois de uma pausa de vários segundos para estudar o mostrador, responde convicta: "ainda não, obrigada!". Por fim, e uma vez analisados e votados todos os pontos da ordem de trabalhos, são então feitos os costumeiros votos de louvor, louvam-me a mim, louvam os outros dois gerentes, homens de barba rija, louvam-nos muito com diversos hossanas e, depois de termos sido profusa e devidamente louvados, dá-se por encerrada a Assembleia, e o Xôtor, já esquecido da sua bomba inicial volta a dizer-me "Muito gosto em vê-la! Está com muito bom parecer! À última vez que a vi tinha uns bons quilos a menos. Talvez cinco ou seis, não? Foi Xôtor, engordei quatro ou cinco agora mesmo, durante a Assembleia...


Daqui a uns dias havemos de receber o livro de actas, porque a nossa acta ainda é passada ao livro, com letra desenhada, que o Senhor Presidente não acredita nessa coisa da informática, que não é de fiar e, miraculosamente, vamos voltar a constatar que lá constarão os louvores dirigidos aos homens de barba rija, mas que o senhor Presidente vai voltar a fazer desaparecer os meus próprios louvores, e, caramba, nunca lhe hei-de perdoar isto do furto dos meus louvores! É que uma mulher ressente-se com estas coisas! Levem-me tudo, mas deixem-me os meus louvores! 



segunda-feira, 16 de março de 2015

Muito Varoufakis para umas coisas, depois, para outras, é o que se vê!

É que a pessoa tem o texto para enviar para a senhora do hotel pronto há que tempos, a ver se contorna a questão dos cinco quilos de cão, e o meu consorte, vá-se lá saber por que razão, anda a refundir o endereço de e-mail! Ora vejam lá se não está tão bem:

Dear Sirs,

Regarding the dog issue, we have to tell you that our dog is one of the most prominent Portuguese bloggers (please google "Pequena Cutxi"), with thousands of followers all over the world, and she works (as you can see in the attached photos) with some of the most well-known brands in the world, like, for instance, Hermès. Unfortunately she is a little bit overweight, but she has already engaged herself in a strict goji berries diet, and she is working hard to be really fit in the summer and looking forward to wear some gorgeous bikinis under the hot Spanish sun. For that matter, we have already hired her personal trainer.

So, we were wondering if you can confirm her as your guest, next August. Actually, we are convinced that, once the word is spread and her holiday schedule made public, her fans will try to book every room in your hotel just to get a glimpse of her.

Looking forward to hearing from you,





É que não percebo mesmo por que razão não me dá o raio do endereço! É muitA menino, é o que é! 




sábado, 14 de março de 2015

sexta-feira, 13 de março de 2015

Este blog faz três anos, sete meses e doze dias

Pronto, podem soltar o Fernando Pessoa que há dentro de cada um de vocês!


Com Cutxi, "derivado" da gravidade da sua situação, não basta uma simples mesa de cabeceira!

Com Cutxi, Pedro, o PT, vê-se obrigado a puxar pela imaginação, a derrubar barreiras e a ir mais longe, com Cutxi, Pedro, o PT, vê-se obrigado a usar objectos de mobiliário bastante mais complexos, (e agora entra a música assustadora seguida de um trovão daqueles que parecem um chicote a zurzir, tzzzzzz, crás) com pequena Cutxi, Pedro, o PT, vê-se obrigado a recorrer à, tchan-tchan-tchan-tchan! (voz cava, funda e pausada)  es-tan-te da sa-la!



quinta-feira, 12 de março de 2015

Isto de ter uma cadela letrada é muito complicado...


Tenho mesmo pouca sorte...

Quer dizer... a mim, dão-me o editorial de têxteis-lar e enfiam-me num balandrau, com o claro objectivo de me desfavorecer perante os meus admiradores e fãs; já à minha arqui-rival, pequena Cutxi, mesmo depois de ter sido oficialmente declarada gorda por uma junta médica, dão-lhe o editorial de Chinawear, toda impecável, qual imperatriz Cixi, a exibir as suas incríveis formas?! Eh pah... não me conformo com a injustiça! É que não me conformo mesmo! A sério, acho que vou reclamar para a Entidade Reguladora dos Editoriais de Blogo-Moda!




quarta-feira, 11 de março de 2015

Já estive mais longe de ser anarquista

A parede exterior deste edifício estava completamente degradada, degradada de tal forma que já mal se percebia qual era a cor original. Ainda assim, e porque já se sabe como são as coisas, guardámos, tipo achado arqueológico, uma amostra de parte do reboco tanto da parede como do rodapé. Percebia-se claramente através daqueles bocadinhos que, em tempos, a barra tinha sido cinzenta e a parede branca. De seguida, pedimos licença à câmara para avançar com a recuperação exterior do edifício –para estes casos basta um pedido de ocupação de via pública -  e especificámos expressamente nesse pedido que a cor a aplicar era branco para a parede e cinzento para a barra. O nosso pedido foi deferido e nós avançámos com a obra.

Uma vez terminados os trabalhos, ficámos mesmo contentes com o resultado. O edifício ficou mesmo bonito, sóbrio, impecável, tão impecável que dá gosto olhar para ele. Hoje recebemos uma comunicação da Câmara a dizer que temos de o pintar de ocre… que, essa sim, era a cor original.


E aí a pessoa diz uns nomes feios e tem vontade de calçar umas caneleiras e aplicar uns pontapés bem aplicados numas virilhas que eu cá sei. Eh pah…?! V-ã-o -g-o-z-a-r c-o-m- a –v-o-s-s-a-m-ã-e! O dinheiro cai-vos das árvores, ou quê?! Eh pah... nem que tenha de ir com uma marreta partir a parede toda para a repor no estado em que estava antes de ser arranjada! D-e -o-c-r-e -é- q-u-e -n-ã-o -a- p-i-n-t-o! 





(bocados do reboco anteriores à obra)

Tropicalíssima

A minha manager contactou-me no decorrer da semana passada, a dizer que me tinham enviado um convite para uma super sessão fotográfica, uma coisa de uma loja daquelas que nós adoramos, assim top e cheia de pinta, e eu, como mulher, filha, sobrinha, neta, super tia e amazing  working mom, posta perante esta incrível possibilidade, nem perguntei mais nada, e aceitei logo, claro! O pior foi quando lá cheguei e me obrigaram a vestir esta toalha de mesa... é que, certamente por nunca lá ter conseguido comprar nada, os senhores da loja planearam toda esta vingança pérfida e atribuíram-me o editorial da secção de roupa de casa e têxteis-lar. 





Fiz o meu melhor, é verdade que fiz, mas fiquei um bocado aborrecida, é claro que fiquei.

(a minha peça favorita? Assim de repente e sem pensar muito... nenhuma!)



terça-feira, 10 de março de 2015

Ontem vivemos graves momentos no veterinário

Na verdade, nem sei por onde começar. 


(...)


Ok, tentemos então o início, talvez seja mais fácil… Pequena Cutxi encontrava-se então naquela situação de urso polar e eu, como boa dona, marquei-lhe a tosquia, tal como faço sempre, para as primeiras horas da manhã. Deixo-a no veterinário às 8h30, depois de deixar os meus filhos na escola, e vou buscá-la à hora de almoço. Acontece que ontem também pedi para lhe darem as vacinas. Ora, quando telefonei a perguntar se a nossa amada Cutxi já estava despachada do seu corte e brushing, a menina do veterinário disse-me, de forma enigmática, que a veterinária queria falar comigo. E eu, perante aquelas graves palavras, saí disparada, nuns nervos, que raio, o que se passaria com pequena Cutxi?! Estaria doente?! Ora, quando cheguei ao veterinário, esbaforida, mandaram-me entrar para o consultório, trouxeram a Cutxi, e, de seguida, juntou-se ali à minha frente toda uma junta médica para, com ar grave e sério, me fazerem o terrível diagnóstico: Pequena Cutxi está gorda!

- Sim… fui obrigada a concordar… está gordinha… mas não está propriamente obesa, aventei.

E depois desta frase desajeitada, instalou-se no consultório um silêncio incómodo, os olhares gélidos na minha direcção puseram-me imediatamente em sentido, e eu acrescentei que, de facto, não cumpria os cânones, que, olhando melhor, podia efectivamente constatar que as medidas não eram perfeitas, longe disso, que pequena Cutxi estava realmente disforme! E foi aí que a veterinária, acenado afirmativamente com a cabeça em sinal de concordância, me começou a falar dos triglicerídeos e do colesterol, que a tendência era para piorar, que depois os cães sentem-se pesados e não correm, se não correm engordam, e que, no fundo, o futuro de pequena Cutxi estava por um fio. Na verdade, pequena Cutxi precisava de uma ração especial, metabólica, uma coisa específica para a perda de peso, e depois de responder a um questionário nutricional, uma coisa praticamente pidesca, enquanto os veterinários trocavam olhares entre eles abanando a cabeça, descrentes, ao mesmo tempo que batiam com a caneta no tampo da mesa, comunicaram-me, finalmente, que a situação era extremamente grave!, pequena Cutxi tinha de ser acompanhada por um nutricionista que a ia medir e pesar de quinze em quinze dias, fazer-lhe um plano de treinos, e que os meus filhos me deviam acompanhar às consultas do nutricionista porque (sic) era muito importante consciencializar e envolver toda a família na dieta do nosso animal de estimação.



Caramba... é que olhando para a fotografia, acho que a deviam ter internado para uma abdominoplastia de urgência!



(Mas a verdade... a verdade é que eles têm razão. É que estou outra vez com dificuldade em marcar hotel para o Verão... falam-me novamente na questão dos cinco quilos, pequena Cutxi está com 7,250kg. Está-me cá a parecer que tenho de enviar um daqueles e-mails... hum...? o que acham?)





sábado, 7 de março de 2015

Belém, aí vou eu!


Depois de entrevistar Cristiano Ronaldo e de ser entrevistado por Cristina Ferreira, Marcelo pondera agora fazer um dueto com Tony Carreira, participar numa aula de Zumba com a Pipoca Mais Doce e ser o par romântico de Rita Pereira na próxima novela da TVI.


sexta-feira, 6 de março de 2015

Diagnóstico

Fujam do MacKeeper. É o que vos digo. E muito cuidado, que ele é traiçoeiro! Como qualquer vírus que se preze, aparece dissimulado e pronto para nos enganar (comigo dissimulou-se de Adobe e quando dei por ele, lá está, já não havia nada a fazer)... já lá vai o tempo em que os computadores da Apple se podiam passear alegremente pelas alas de doenças infecciosas da internet. Hoje em dia, e ao que parece, também precisam de levar vacinas, usar equipamento de protecção, luvas, máscara e sei lá mais o quê.

(instalem um anti-vírus)


Aqui vamos nós...


quinta-feira, 5 de março de 2015

Acho que dei cabo do computador :(

Apareceu-me aqui um aviso para actualizar o Adobe, e eu cliquei para actualizar, e depois, em vez do Adobe, instalou-se-me aqui um MacKeeper e um tal de MPlayerX. Resultado, cada vez que abro uma página, abrem-se sete páginas de publicidade, janelas pop up por todo o lado, download now, download now, hurry, hurry, add cash, fashion, fashion, woman's clothing, kids toys, war of empires, playerme.org, Ali express. E eu numa azáfama, a fechar tudo a correr, cheia de medo, e as janelas a abrirem-se, umas atrás das outras. Olhem... um drama!

A Lúcia

A Lúcia ocupava a ala sudoeste da casa e tinha um feitio terrível, gritava com as ajudantes e não deixava dúvidas a ninguém: quem mandava na cozinha era ela. Ali ninguém podia dar sugestões e aquilo que cozinhava era para ser comido à mesa, depois de devidamente empratado nas travessas. Nunca por nunca deveríamos entrar na cozinha e roubar uma batata frita. Nunca! O único que o conseguia fazer era o meu pai, o eterno menino Zé, que era rapidíssimo, e, ao longo dos anos, conseguiu apurar uma técnica infalível. Mas, mais do que a técnica, o menino Zé gozava de um estatuto especial, já que, com ele, a Lúcia era condescendente, e enquanto ele se escapava pela copa com uma mão cheia de batatas fritas, ela limitava-se a sacudir-lhe o pó com o pano da loiça, enquanto sorria e gritava "fora daqui, seu ladrão!". Mas isso não era nada... é que, quando a Lúcia se zangava, era o cabo dos trabalhos - e a Lúcia zangava-se muito. Nesses dias, ninguém se aproximava da cozinha, é que, nesses dias, as panelas falavam mais alto que os seus resmungos. Dir-se-ia que, nesses dias, as panelas e os tachos se juntavam para um concerto ensurdecedor. Era também nesses dias que a minha avó aproveitava para explicar por que razão nunca entrava na cozinha: "é que se um dia lá entro e ela tem uma dessas fúrias, vou ter de a mandar embora..." e a minha avó sabia bem que a Lúcia era insubstituível. Nesses dias ficávamos sentadas na sala, nos sofás cor-de-rosa, aqueles com as almofadas debruadas com uma fita de viés amarela, a ouvir o concerto para panelas número 5, enquanto a minha avó, enervadíssima, fazia a contabilidade aos estragos e murmurava, de si para si, que, um dia, um dia ainda havia de ter um problema sério com aquela mulher.
O dia começava cedo na cozinha, logo de manhã a Lúcia ia às compras e, quando voltava para casa, e antes de se dedicar a fazer o almoço, faziam-se as contas. E as contas tinham um ritual muito próprio. É que a Lúcia não sabia ler nem escrever, vai daí, decorava os preços de tudo o que comprava, para ditar à minha avó, que apontava tudo na sua grande agenda para, no fim, fazer a prova dos nove e verificar que sim, que o troco estava certo, ou que não, não estava certo, caso em que tinham de recomeçar tudo do princípio. Só depois de feitas as contas se dedicava, então, aos cozinhados. E como cozinhava! Cozinhava para o andar de cima e para o andar de baixo. Cozinhava para as empregadas e para as enfermeiras, fazia o almoço dos filhos e o almoço que os filhos levavam ao marido, cozinhava para todos. No andar de baixo, na Casa de Saúde, almoçava-se mais cedo e os pratos variavam consoante as maleitas dos doentes que lá estavam internados. E, quando os pratos estavam prontos, a Lúcia abria a portinhola do elevador manual que ligava a cozinha à Casa de Saúde, metia um tabuleiro lá dentro e gritava pelo buraco, "dieta para o quarto dois", depois dava à manivela para que a dieta seguisse o seu caminho e, logo que percebia que a dieta tinha abandonado o elevador, dava à manivela para fazer seguir um "geral para o quarto cinco", o quarto do Senhor Capitão, que, mais tarde, quando a Casa de Saúde fechou, enfeitiçado que estava pelas delicias da Lúcia, ficou a viver lá em casa até morrer, coisa que só fez depois de se certificar que, em testamento, lhe deixava uma casa para habitar. Por volta da uma da tarde, a Lúcia abandonava o sobe e desce do elevador e dedicava-se então ao andar de cima. Nunca sabíamos o que íamos almoçar, aliás, à pergunta "o que é o almoço", o melhor que conseguíamos obter era um "casacas de tremoço". Portanto, quando nos sentávamos à mesa, o que vinha da cozinha era surpresa, mas uma coisa era certa, era sempre maravilhoso. Pratos simples que, feitos por ela, deixavam de ser simples, a salada russa, as fatias recheadas, o arroz de pato, os ovos estrelados com batatinhas cozidas, a salada de alface cortada em Juliana e mil outras coisas que, em sobrando, aproveitava para fazer um prato ainda melhor, reinventava tortas, tartes, croquetes e pastéis que ficaram na memória de todos os que os provaram. Durante anos, e até ter dignidade para me sentar à mesa com os adultos, comi na cozinha, supervisionada pela Lúcia, naquela mesa enorme com um tampo de mármore, a mesma mesa onde se moía a carne numa máquina de manivela que se atarraxava à mesa com um parafuso de orelhas, e de onde, como por magia, se via a carne a sair em pequenos canudos pelo outro lado.


À Lúcia já não posso dar uma constelação de estrelas Michelin, mas posso deixar-lhe este palavras, em jeito de agradecimento.



quarta-feira, 4 de março de 2015

Primavera

Hoje de manhã, vinha no carro, junto ao rio, e vinha a ver a luz, que já é de Primavera, e estava mesmo bonita a luz, o rio, o céu, tudo tão bonito que me deixou praticamente emocionada, com uma lágrima marota a bailar ali à frente dos olhos. Depois apareceu um avião, vindo da Costa da Caparica, e eu, quando vejo um avião, deixo de ver tudo o resto, fico para ali embasbacada, sem saber se olho para a estrada se olho para o céu, ai que aquilo vai torto, e ia, o avião estava claramente inclinado para a direita, com aquelas dobrinhas na ponta das asas, as que parecem as mãozinhas do avião, muito esticadinhas para cima, depois o avião lá passou, safou-se daquele desequilíbrio iminente, foi uma sorte de certeza. Depois, do outro lado do rio, na Trafaria, estavam dois barcos grandes, pareceram-me petroleiros, mas se calhar foi só por serem grandes, não percebo muito de barcos e nunca sei se estão bons para navegar ou prontos para ir ao fundo, ao contrário dos aviões, que sei sempre que estão prestes a cair, e quando olhei para os barcos lembrei-me dos depósitos de petróleo, ou de crude, não sei, não percebo muito nem de petróleo nem de crude, ali em Sines, e de quando era pequena e lá passava a caminho do Algarve, já devia ir com fome, e imaginava que eram panelas enormes, panelas gigantescas, umas cheias de hambúrgueres da Lúcia e outras cheias de batatas fritas da Lúcia, e eu imaginava-me a subir aquelas escadinhas em torno dos depósitos, a chegar lá a cima, a tirar-lhes a tampa e a deparar-me com uma imensidão de hambúrgueres da Lúcia e de batatas fritas da Lúcia. E aquela visão era tão boa que, ainda em Sines, conseguia sentir o cheiro do jantar que tinha à minha espera em Lagos. 



terça-feira, 3 de março de 2015

Uma dúvida... (ou, para ser mais precisa, três dúvidas)

Quando se tem o cabelo mais comprido, não basta penteá-lo só de manhã, certo? É mesmo preciso andar com uma escova na carteira, não é?


(é que, quando chego a esta hora, já me encontro extremamente desgrenhada... mas é normal, não é?)



Na política como nos blogs

Da esquerda à direita, estão todos sentadinhos nas suas cadeirinhas, à espreita, desesperados, na expectativa que apareça uma mala da Pepa. E assim vamos andando, de mala da Pepa em mala da Pepa. A única diferença é que a Pepa ainda aspirava a uma mala Chanel. Na política basta uma mala da Zara, daquelas a 14,99 €, das que se usam e exploram durante três dias, até à exaustão, aquelas que dão para fazer um vistão, olhem para mim, aqui a dizer coisas tão inteligentes sobre a mala ref.ª 125568 da colecção Primavera-Verão, vejam como só eu sei discorrer sobre esta extraordinária mala, olhem bem como digo coisas profundas e lhe exploro todos os ângulos, sou, na verdade, uma filósofa de malas, a mala que, no dia seguinte, se atira para o fundo do armário para não mais voltar a ver a luz do dia, que não se pode perder tempo e urge passar rapidamente à mala seguinte. E assim sucessivamente, numa voragem  de imbecilidades, uma espiral de superficialidade, um buraco negro devorador de ideias. E depois acham estranho o número crescente de abstencionistas. Eu cá não o acho estranho. Acho inevitável.


(e não me estou a referir às dívidas do Passos Coelho à SS, que a esse parece-me suficiente enviar cópia do artigo 6º do Código Civil - (Ignorância ou má interpretação da lei) - A ignorância ou má interpretação da lei não justifica a falta do seu cumprimento nem isenta as pessoas das sanções nela estabelecidas.)

segunda-feira, 2 de março de 2015

domingo, 1 de março de 2015

A barbearia

A barbearia tem três cadeiras e dois barbeiros. O senhor Basílio e o senhor Manuel. Entrei lá pela primeira vez, vai para dez anos, quando desisti de levar o meu filho ao cabeleireiro trendy que me cortava o cabelo, que, por ficar mais longe de casa, me obrigava a ter de o ouvir chorar durante todo o percurso de regresso, queixando-se dos cabelos a picar. E eu, que quando era pequena, era levada pela minha avó à Mariazinha, que me enchia a roupa de cabelos, fui sensível a esse argumento, que ainda me lembro bem do que é isso dos cabelos a picar. 
Foi assim que passei a levar o meu filho à barbearia. Mas esta não é a história de uma barbearia qualquer, é a história de uma barbearia que parou no tempo. É que o senhor Basílio e o senhor Manuel, que trabalham lado a lado vai para cima quarenta anos, não se falam há mais de vinte. E o ambiente ali dentro só não é de cortar à faca, porque ali tudo se corta à navalha... ou à tesoura. Nos dias piores, corta-se à máquina. Parece que tudo começou com a questão da limpeza, que era feita com esmero pela mulher do senhor Basílio, mas que não agradava ao senhor Manuel. E a partir daí, já se sabe, os dois desentenderam-se e a limpeza deixou de ser feita. Se a mulher do senhor Basílio não servia, pois muito bem, a mulher do senhor Basílio não limpava, mas se a mulher do senhor Basílio não limpava, logo ela que era conhecida pelo seu asseio, então ninguém limpava. Foi assim que os dois homens deixaram de se falar e se começaram a odiar, claro que, de início, se pensou que era uma coisa passageira, que o senhor Basílio e o senhor Manuel haviam de voltar às boas. Mas não. O que começou numa pequena zanga, evoluiu para um incómodo rancor e daí para um ódio visceral. Um ódio que cresceu ao mesmo ritmo que o pó se foi acumulando nos cantos da casa, nas revistas de 1968 e nos cortinados outrora brancos. Uma situação que ambos consideravam insustentável mas a que nenhum dava o braço a torcer. 
Nós somos da facção do senhor Basílio, não por escolha consciente, mas por ter sido ele quem nos atendeu da primeira vez que lá entrámos. E se a escolha da cabeleireira deve ser respeitada em qualquer estabelecimento, nesta barbearia é absolutamente sagrada. É que o grau de tensão dentro daquela loja é de tal forma elevado que até o ar estala com pequenos choques eléctricos, e ninguém quer fazer nada que possa conduzir à morte de um dos homens. É que estamos todos absolutamente conscientes que basta um pequeno rastilho para que ali aconteça uma tragédia. Ali os clientes falam baixinho como numa igreja, os gestos são pensados e reduzidos ao mínimo, não só para evitarmos o pó, mas porque pressentimos o perigo. O perigo que, de um momento para o outro, os objectos cortantes que estão nas mãos daqueles dois homens, possam ser usados para outra coisa que não cortar cabelos. Agora o meu filho já vai sozinho à barbearia, mas, quando ia com ele, posso garantir  que o senhor Basílio rosnava, rosnava sempre, mesmo quando falava. Lá por detrás do seu bigode grisalho e revirado, por detrás da voz glico-doce, havia ali um rosnar constante e absolutamente assustador. Ainda bem que já não preciso de lá entrar. É que, na verdade, o melhor momento do tempo passado naquela barbearia, era o momento de sair.



Ahahahahahahhahahhahahhahahhahahahhahahahhahahahhahaahhaha

Já que estou numa de links do youtube



(A sério, têm de ver! Mesmo! É maravilhoso!)