Tenho uma situação na rua do portão da garagem, uma situação
que me deixa danada, danadinha, daquelas de enviar mails para a Câmara Municipal
e Junta de Freguesia, um situação que me enfurece por antecipação, estou a duas
ruas de chegar a casa e já estou a ferver de fúria, à espera de virar a esquina
e verificar, mais uma vez, que o meu carro não passa, que há carros estacionados
em cima do passeio, do lado contrário a uma obra que tem os tapumes praticamente
no meio da estrada. É certo que durante os dias de semana, com a quantidade de mails que enviei, já quase consegui
livrar a rua deste flagelo, é com riso maléfico que vejo os que se atrevem a
estacionar ali com as fitas amarelas e as rodas bloqueadas, mas ao fim da tarde
e aos fins-de-semana eles voltam, resilientes, tau, tau, tau, todos estacionadinhos
a seguir uns aos outros e eu lá tenho de
ir dar uma volta gigante, sem alternativa senão a de entrar na rua em sentido proibido
para assim aceder à garagem.
No outro dia, a
espumar fúria, dei de caras com o dono da carrinha Volkswagen Passat azul - um
habituée da situação- a estacionar sorrateiramente em cima do passeio. Parei,
abri a janela e perguntei-lhe se achava normal estacionar o carro naquele
sítio, impedindo os outros de passar. Ficou a olhar para mim durante uns
segundos com olhos de carneiro mal morto até que me respondeu “então o que é
que quer que eu faça… que leve o carro para casa?!”, caramba pessoas, não estão
bem a ver a minha fúria a transformar-se em cólera, a vontade de sair do carro
e andar à pêra com o senhor da Passat azul, e a dizer que não, que quero apenas
que não estacione o carro em local proibido impedindo os outros carros de
passar, os peões de andar no passeio, o carro de lixo de fazer a recolha à noite, uma eventual ambulância ou carro dos bombeiros de entrar na rua... mas o senhor não ficou contente e rematou a situação dizendo:
“Olhe, fique sabendo que a senhora é a única que se queixa, porque
o seu marido, sim acho que é seu marido porque também entra ali para a garagem,
nunca me disse nada…”
Moral da história: se os vossos maridos (têm carros mais pequenos
e) não se queixam, vocês, olhem, aguentem.