Fui deixar a minha filha a uma festa daquelas que não vale a pena voltar para casa, que quando se chega tem de se voltar a sair para ir buscar, e então pensei que podia aproveitar para ir ao Ikea buscar aquelas molas de fechar os pacotes de bolachas e ver as almofadas, que os enchimentos de penas do Ikea são de longe os melhores enchimentos de todos, os mais confortáveis e fofinhos, e então lá fui eu, estacionei o carro, subi por ali acima, o bafo de calor, Deuses!, comecei o percurso em passo rápido, sofás, mesas, cadeiras, estantes, cozinhas, a fila de pessoas para imaginar a cozinha perfeita na companhia dos diligentes funcionários devia ter algumas cem pessoas, todas encostadas por ali fora com um ar desesperado, a derreter, pior que numa repartição de finanças, depois a secção de camas e colchões, pessoas deitadas por todo o lado, as camas desfeitas, os lençóis amarrotados, os edredons virados ao contrário, um caos completo, e o calor?, minha nossa senhora dos trópicos..., depois quase corri, a secção de crianças, os brinquedos inúteis, as escadas, os pratos, os talheres, os copos, as panelas, depois as almofadas, parei nas almofadas, mas logo fui abalroada por um casal, ela agarrou numa almofada e mostrou-a ao namorado como quem acabou de caçar um coelho no meio da floresta, mas o namorado respondeu-lhe de imediato que não, oh môr, essa é bué clichê, toda a gente tem uma almofada dessas!, e então ela largou o seu coelho entristecida e avançaram com o mesmo entusiasmo para as almofadas seguintes e eu ali fiquei, a observar de soslaio a almofada clichê até que fui interrompida por um casal já entradote, a senhora tocava nas almofadas todas e dizia que ela, percebi depois que era a nora, não tinha paciência para procurar mas que ela, a mãe, ia encontrar a almofada perfeita para o seu filho, e então o marido pegava nas almofadas todas e trazia-as à sua mulher como se fossem um santo no andor, para que a senhora se pronunciasse sobre a qualidade, mas a senhora afastava-o irritada e com desprezo, era evidente que ela é que ia encontrar a almofada do seu menino, e então eu desisti das almofadas, passei pelos tapetes, pelas coisas de casa de banho, onde ainda tive oportunidade de ouvir uma senhora gabar a inegável qualidade de uns toalheiros azul turquesa, enquanto o marido respondia em tom estridente, porra, eu já te disse que não quero comprar nada!, depois passei pelos cabides, pelas caixas, pelos candeeiros, pelas molduras, pelas plantas e... caramba... as molas?! Esqueci-me das molas! Felizmente havia molas junto às caixas. Trouxe logo quatro pacotes, cento e vinte molas, para não ter de voltar tão cedo. Agora estou à porta da festa. Já escrevi este post e ainda faltam quinze minutos para acabar.