Era uma manhã como outra qualquer em Tanganica. As mães flamingas acordaram cedo, como sempre acordam, para tratar das coisas do lar. É preciso arejar a casa, fazer as camas de lavado, sacudir as colchas e os tapetes, determinar o que se vai fazer para o almoço e para o jantar e, uma vez despachados estes assuntos, colocar a pochete debaixo do braço e ir com passo firme e decidido a caminho do mercado para fazer as compras do dia. Umas couves de Bruxelas, uma embalagem de Cif, abrilhantador das juntas de azulejos, um raminho de salsa, enfim, aquelas coisas que só nós, mulheres, mães, pedagogas e donas de casa sabemos fazer.
E é no mercado, enquanto trocamos uma ou outra palavrinha com as nossas pares, bom dia Dona Flameuza, como vai isso lá por casa? Nem imagina Dona Elminga, o meu mais novo que é um rapaz tão inteligente, sabe lá, está levado da breca, mas na escola é o melhor, valha-nos o criador, só boas notas, tudo cincos, olhe, um orgulho para o pai! Ai não me diga, a minha Eminguita também é assim, agora, coitadita, está um bocadinho aflita com aqueles testes todos para a semana...
Foi então que se fez silêncio no mercado do Lago Tanganica. "aqueles testes todos para a semana?!" perguntaram todas as mães tanganiquianas em uníssono. E de repente percebem que já só têm dez dias para as provas globais, dez dias para estudar com os seus rebentos, que não há tempo, e há que rever a matéria de história, de fisico-química, de português, e a matemática, meu Deus, as funções que estão tão mal, como é que vamos fazer isto?!
E então, desesperadas, uma após a outra largam a correr, há que aproveitar o tempo, todos os minutos contam, todos os segundos são preciosos, agora é cada uma por si, ver quem consegue chegar primeiro a casa, afinal os nossos jovens flamingos aguardam-nos, eles precisam de nós, do nosso apoio escolar!
E então a mãe flaminga chega a casa, histérica com a falta de tempo, toda desgrenhada e em aflição, aterra já aos gritos, VÁ VAMOS LÁ, RÁPIDO! VAMOOOOOOOS PEGUEM IMEDIATAMENTE NOS LIVROS QUE JÁ SE FAZ TARDE! É PARA ESTUDAR, É PARA ESTUDAR! NÃO HÁ TEMPO A PERDER!
Mas às vezes os jovens flamingos não querem saber, só fazem disparates, sempre às lutas uns com os outros, não se concentram nos estudos.
e, claro, isso deixa qualquer mãe flaminga que se preze, desesperada
Mas mesmo assim a mãe flaminga não desiste, estuda com os petizes até altas horas da madrugada e é com esperança que, no dia seguinte, acompanha os seus jovens e irrequietos flaminguinhos à escola e, claro, sofre lá fora, sozinha, nos corredores frios e impessoais, enquanto eles se submetem à avaliação dos terríveis ogres examinadores!
E depois, se as notas não são o que a mãe flaminga ambiciona, ela não perdoa, não pode perdoar, afinal não é só o futuro dos seus rebentos como assalariados junto de Sansão, o pássaro-alfa, que está em causa, o problema é mais grave, muito mais grave, afinal como é que a mãe flaminga vai explicar à Dona Flameuza o revés? E é exactamente esse descontentamento que mostra muito calmamente ao jovem flamingo durante o jantar. Afinal qualquer mãe que se preze tem o seu flamingo-pride!