Mas, vamos imaginar uma casa em descanso. Maman dormindo profundamente no seu quarto, moi même descontraída na caminha, filho enrolado no seu edredon, filha agarrada à sua relíquia de dormir, o ursinho de sempre, de seu nome "O Bebé", Pequena Cutxi a dormir na sua almofada na sala, Cánis, o Rústico, a dormir a sono solto no exterior. Cenário idílico este. Uma família em repouso absoluto. De repente, pum, pum, pum e uma voz desconhecida diz coisas imperceptíveis lá fora! Filho grita aterrorizado! "Que barulho é este?!". Eu, já a levantar-me, explico que estão a bater à porta. Afluímos todos à sala, onde nos cruzamos com Maman, desorientada. Cánis, lá fora, atira-se à porta da rua, ladrando. Quem é? Pergunto eu. É para entregar uma encomenda, dizem. Abro a porta da rua e Cánis expressa toda a sua alegria matinal entrando de rompante pela casa. Enquanto eu falo com os senhores da transportadora, os cães ladram em estereofonia na sala. Maman abre a porta do jardim para os cães irem gastar a excitação lá para fora. Nesse preciso instante, Cánis rouba das mãos de filha, o Bebé, o precioso ursinho de dormir que filha tem desde que nasceu e sem o qual não adormece e corre para o jardim. Eu, observando a situação, fico estática durante uma fracção de segundo e imaginando o ursinho retalhado e desfeito aos dentes de Cánis, prevejo imediatamente noites terríveis e insones com filha chorando de saudades do seu amigo. Assim sendo, grito em aflição, em frente aos senhores da transportadora que se mantinham na rua:
- O BEBÉ! O CÃO LEVOU O BEBÉ NA BOCA!
Filhos, descalços, gritam que não podem ir lá para fora de meias, Maman dispara como uma seta em perseguição de Cánis. Eu, sem conseguir controlar o pânico, grito mais uma vez:
- AGARRA-O! TIRA-LHE O BEBÉ DA BOCA!
Neste momento percebo o olhar aterrorizado dos senhores da transportadora que imaginam um bebé recém nascido a ser raptado por um animal feroz mas, sem tempo para explicações, continuo a observar, ansiosa, Maman a correr pelo jardim. Acontece que Maman, ainda estremunhada, levanta voo e aterra estendida ao comprido e de cara na relva. Filhos, habituados que estão a cair, gritam a rir: "ah ah ah.. a avó caiu!", eu, não querendo largar a porta aberta à mercê de desconhecidos, grito de volta: "Oh meninos!? Se calhar a avó magoou-se! Esqueçam o Bebé e vão já ajudar a avó!". Mas eles continuavam de meias e o cão continuava a correr com o bebé na boca e Maman estava estendida na relva... e eu resolvi, finalmente, intervir, fechando a porta na cara (branca como cal) dos senhores da transportadora...
E pronto, ficaram a saber... é assim que se acorda na mansão Palmier...