terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A herança


Como o assunto continuava pendente vai para sei lá quantos anos, combinei finalmente com o meu primo ir tratar da questão, tinha que ser, era hoje ou nunca, e então lá fomos os dois, metemo-nos no carro e arrancámos em direcção à herança. Era dia de tomar posse do nosso edificado! Uma vez chegados procurámos por entre as várias ruas o nosso espólio, a excelente herança que todos nós ambicionamos receber um dia: um bonito jazigo.
Acontece que as coordenadas que nos tinham dado não conferiam exactamente e não demos com o jazigo, e então começámos a andar por ali fora, num tour pelo cemitério, uma experiência bizarra que foi tomando conta de mim, transformei-me numa investigadora diplomada a espreitar por todas as janelinhas, as casinhas com os seus caixões e mesas-de-cabeceira repletas de molduras com fotografias dos defuntos que ali residem, outras, com um decor mais aprimorado, incluíam crucifixos, santinhos, flores de plástico, candelabros, mantas, sapatos de quarto e passarinhos de loiça, num mundo paralelo ao nosso onde, aposto, os mortos se encontram nos jazigos uns dos outros para conversas silenciosas à sombra dos ciprestes, imagino a rebaldaria que para ali vai a altas horas da madrugada, excepto, talvez, nos jazigos em ruínas, aqueles cujos mortos já não têm ninguém vivo, aqueles com flores de plástico espalhadas pelo chão por entre a caliça das paredes esburacadas e que melhor representam o esquecimento, nesses já não há vivalma, aí reina a deslembrança total, são jazigos onde os mortos foram assassinados por ausência de recordação. Mas bom, depois de espiar todos os jazigos e do meu primo estar aterrado com a minha propensão mórbida, acabámos por nos deslocar à secretaria do cemitério para tratarmos da papelada e nos indicarem qual era, afinal, o nosso legado. E foi então que a Célia se debruçou sobre o computador e gritou lá do fundo para a Mónica, enquanto teclava furiosa e repetitivamente a mesma tecla, um teclar capaz de fazer ressuscitar todos os mortos em redor:
- Oh Móoooonica, o Anúbis foi-se abaixo!
E eu então olhei em redor, então o Anúbis, o Deus Egípcio da morte, estava ali?! O guardião dos túmulos tinha-se ido abaixo?! Coitadinho! Pudera, com tanto trabalho é natural que se sinta mal, que isto os Deuses já não são o que eram! Mas a Célia voltou a vociferar lá de longe: 
- Oh Móoooonica, reinicia aí o Anúbis, faxavor,
E eu então pensei que aquilo era uma private joke muito sofisticada entre as meninas da secretaria, mas ao mesmo tempo aquilo foi dito com uma expressão tão vazia que tive mesmo de lhes perguntar, e não, não era uma private joke, afinal Anúbis é mesmo o nome do sistema informático dos cemitérios de Lisboa.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Momento de auto-piedade

Sábado, oito da manhã, já localizada a setenta quilómetros de Lisboa, pronta para uma situação de patinagem artística...


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Bem sei que a minha Maman está "burricada" em casa e desligou o wi-fi, para ver se safa à nossa pressão...

Mas acho que, depois DISTO, não vai ter forma de recusar a nossa exigência!

Oh pá... queria tanto, tanto, tanto ter um burro, fui agora ver à net e há imensos à venda!

Há alguém aí que perceba de burros, como é que se toma conta de um, o que é que comem, onde se compra a alimentação, se é preciso uma casinha, se se comportam como os cães, se são amigos dos seus donos, se gostam de miminhos, caramba, já me estou a imaginar sentada no sofá com o meu burro de estimação de um lado e pequena Cutxi (horrorizada) de outro ... são maravilhosos e adoráveis, o animal mais fofo do universo, e eu quero um! 

Vá, venham comigo, vamos todos pedir à minha Maman para me deixar ter um burro em casa dela!

(Já estive a ver tudo o que é preciso e acho que bastava comprar uma daquelas casinhas de madeira do Aki, até lhe podia pôr umas cortinas aos quadrados encarnadas e brancas nas janelas, e pronto. erva tem, água também, o terreno está vedado, é tudo perfeito! É só arranjar um veterinário para ir aí de vez em quando ver os cascos e dar desparasitante... oooooooh mãeeeeeeeeee, vá lá! Vais ver que também vais adorar o nosso burro!)


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Ah, o Grande Decor...

Podia ser maravilhoso, que podia. Podia ter dois filhos sem qualquer gosto, dois filhos que dissessem: mãe, faz-nos uma surpresa e decora os nossos quartos como mais gostares! Nós adoramos tudo o que tu fazes e confiamos em ti cegamente!". Mas não. E o problema é que, não só não confiam no meu gosto exquisite, como ainda me fazem exigências. Ora bem, o meu filho começou por exigir a ausência total de cor no seu quarto. Que podia ser um quarto...tcharan... preto! Como assim um quarto preto?! Nem pensar! Um quarto preto está completamente fora de questão! Temos de acordar numa cor. E depois de muita negociação chegámos então à cor mais feia que algum dia foi usada em decoração: o verde sporting. Sim, o meu filho quer um quarto verde sporting. A sério... uma pessoa pensa na casa mais bela jamais vista e depois, enfim... digam-me... quão lindo vai ser este quarto?! 


Depois, e por oposição, a  filha de uma pessoa quer um quarto com TODAS as cores do arco-íris. Todas. E podíamos estar a falar de cores suaves e tranquilas, mas não, estamos a falar de cores berrantes e vigorosas. Aliás, estamos a falar de todas as cores berrantes e vigorosas que existem à face da terra. E almofadas de emojis. Quer mesmo muito almofadas de emojis.  Decor de todas as cores + almofadas de emojis. A sério... haverá algum mood board mais inspirador que este?!



Caramba, uma pessoa a pensar que podia fazer posts de decoração maravilhosos, que se ía tornar uma guru de interiores, com as seguidoras todas loucas a dizer "que amorrrrrrrr" e "Palmier, pode dizer onde comprou esse tecido/cadeira/cama", e depois acontece-lhe uma coisa destas...






sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Temos de falar sobre isto #1: o caso das bloggers obscuras e os exércitos das bloggers-divindade





É que nós, as bloggers obscuras, também sofremos, nós as bloggers desconhecidas também temos de lidar com a situação dos hate comments (mais propriamente com os fel-comments, com os inveja-comments e os azia-comments) diariamente, repetidamente, a toda a hora, e agora que esta situação entrou na ordem do dia não mais calaremos as nossas vozes, gritaremos ao mundo em uníssono que, também nós, temos de lidar com os exércitos pavlovianos das bloggers-divindade, uma cena praticamente mística de devoção descontrolada, exércitos que têm soldados em todos os blogs, prontos a sacar da baioneta-invejosiana a despropósito de qualquer assunto, prontos a massacrar a pobre blogger obscura ao troar da aterradora palavra croc, exércitos coléricos prontos a defender a sua blogo-divindade de eleição mesmo perante a inexistência de qualquer ataque. Por isso, amigas bloggers obscuras, se também padecem com esta situação, juntem-se a mim, não calem esta realidade, juntas venceremos este flagelo!


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

E fez-se luz!

Enviadas agora mesmo da Grande Obra para o meu telefone! 



(para quê candeeiros se temos uma estante?)


Olha que pena não ter recebido este mail ontem, a tempo lá do dia dos namorados...

É que assim podia ter presenteado o meu consorte com este incrível fato de corte primoroso e requintado. Já estou a imaginar o sucesso lá no escritório...





quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Eu, se fosse eles, também não saía da obra, que aquilo é um excelente local de trabalho...

E hoje lá fui, ao meu périplo, convencida que estava que o meu apartamento já estaria pronto e fechado, foi isso que o engenheiro disse ao meu consorte na semana passada, que íam começar a fechar desde cima, ou seja, a corrigir as coisas que estavam por acabar, riscos nas paredes, últimos retoques na pintura, acabar a colocação dos electrodomésticos, colocar as torneiras da cozinha, enfim, uma miríade de detalhes que ficaram pendurados. Resultado, cheguei fresca e fofa e saí um dragão furioso a deitar labaredas pelo nariz. Está tudo na mesma, tudo por fazer, meia dúzia de gatos pingados na garagem. E os homens dos electrodomésticos? Ah, vêm na segunda, e as portas da rua? Ah, faltam os canhões que ficaram esquecidos, tiveram de os encomendar a França, devem estar a chegar, E os pintores? Ah, amanhã estão cá, e os homens da EDP?, ah, estiveram cá na semana passada e informaram que vinham esta semana, mas não me disseram mais nada... Oh Senhor Pedro, assim não dá! Vocês não me saem daqui, caramba (tem razão, tem razão, isto assim não é para si nem para nós - ando a ouvir esta frase há meses!), isto parece uma obra fantasma, não há vivalma desde lá de cima até à garagem (tem razão, tem razão, isto assim não é para si nem para nós)  há três semanas que isto não mexe, que está tudo na mesma (tem razão, tem razão, isto assim não é para si nem para nós), já tenho coisas encomendadas para virem entregar e as casas nem têm fechadura! (tem razão, tem razão, isto assim não é para si nem para nós), fica já avisado que, para a semana, venho com uma arma branca e quem ainda cá estiver vai corrido a espadeirada. 

E pronto, agora tenho uma semana para conseguir arranjar uma espada.


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Minhá nossa, estava vendo qui ninguém pércebia quau é à nóssa praia!


Graças aos céus que esta coisa dos hate blogs e dos hate comments veio à baila, é que só assim houve alguém que, finalmente, descortinou o que nós andamos aqui a fazer há anos!



Bora lá pessoal, bute aí fazer o nosso bashing diário, descarado e sem cerimónias da Stylista, que se houve uma alma que percebeu, muitas mais vão ver a luz e isto, pessoas, é sinal de que estamos a fazer um excelente trabalho! 

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Deviam estar em pânico!

Andava aqui muito angustiada, com um terrível peso na consciência, por saber que estas duas belíssimas tarântulas, dois  exemplares do mais alto nível, estavam aprisionadas neste quadro com aquela boneca absolutamente assustadora. É que não se faz! Coitadinhas!


Título: Literatura de auto-ajuda
Acrílico s/ tela
Dim: 89x116 cm

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Micro-feminismos

Recebi um mail da patinagem artística a convocar os pais das atletas para uma reunião por causa dos fatos para as competições, aqueles fatos uindos cheios de brilhos e lantejoulas. Olhei para aquilo e pensei de mim para mim, olha, vou fazer uma partida ao meu consorte e pedir-lhe para ser ele a tratar disto, convicta que estava que ele me iria dizer que de fatos de lantejoulas não percebe nada e eu depois podia queixar-me "tudo eu, tudo eu...". Rimo-nos todos imenso aqui no escritório com esta minha ideia. Reencaminhei o mail com a pergunta: trata disto? recebi agora a surpreendente resposta:

Sim.


(e agora já estou aqui a imaginar um cenário de horror, a pobre criança com um fato todo mal amanhado, tamanho XXL a arrastar pelo chão e a perder lantejoulas a cada salto...) 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

É que elas podiam perfeitamente ter escolhido mascarar-se de caixinha de palmiers!

Mas não! A minha filha e as amigas acharam por bem passar-se para o lado do inimigo e mascarar-se de pipocas! Pessoas, vamos dar as mãos e aceitar esta dura realidade: tenho um pequeno pónei no meu agregado familiar!


(E djispois déstá désfeita, é cláro que uma pessoa fica pérturbada e  logo sentxi vontadje dji fazer um blog déstilando ódjio e cheio dji gentxi encrenqueira!)