segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Palmier declara oficialmente extinta a era da decoração escandinava

Claro que agora tenho de explicar ao meu consorte que todos os meus ensinamentos dos últimos anos não passaram de um erro, que temos de esquecer aquilo dos brancos, cinzentos e nude, que aquela coisa da base neutra era afinal um logro, que o efeito "paz" não passava de uma ilusão, que a tranquilidade era uma utopia, o despojamento um devaneio e a simplicidade uma ficção, que agora temos mesmo de ser corajosos e arriscar com as cores, que o verde-garrafa não é nada escuro e que é, aliás, muito bonito...




sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Eu morri logo hoje pela manhã

O portão da garagem está avariado vai para uns quatro ou cinco dias. Alguém o fecha manualmente ao início da noite e outro alguém, o primeiro a sair do prédio, tem a incumbência do abrir. Ora acontece que sou sempre eu a primeira a sair, praticamente de madrugada e cheia de pena de mim própria, logo fui sempre eu que o abri. Nunca percebi bem como, mas dava-lhe uns abanões, havia ali uma mola que se soltava e eu então, com os meus braços ultra-musculados, conseguia empurrar o portão até meio, subia ao escadote e empurrava o resto. Ontem substituíram o motor, mas os comandos ainda estão em parte incerta, pelo que hoje lá estava eu outra vez, logo pelas oito da manhã, pronta a abanar o portão para poder sair da garagem e acelerar pela cidade para deixar os meus filhos na escola, que o teste de matemática era logo à primeira hora, e então lá vou eu, toca de abanar o portão, mas o portão nada, imóvel como uma rocha, e eu abano outra vez e nada, nem um milímetro, abano com muita força, nada, telefono à administradora, nada, ninguém atende, já desesperada, a ver os minutos preciosos a passar, vou ao café do lado e pergunto se alguém sabe abrir portões de garagem, ah, e tal, aquilo tem um fio lá em cima, ah! o fio, sim, obrigada, vou experimentar, volto para a garagem, subo ao escadote, mesmo até lá acima, ao último degrau, que o pé direito da garagem é altíssimo e o fio era curtinho, aquele último degrau em que a pessoa tem de se equilibrar com os joelhos, agarro no fio e digo cá para baixo, para o meu filho "Vá! Empurra para cima!". E ele empurrou com toda a sua força, fazendo o portão correr na calha paralela ao tecto, o dito fio a afastar-se de mim em alta velocidade preso na ponta do portão. E eu agarrada ao fio...

Não sei como é que ainda aqui estou a escrever este post...

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Estava aqui a pensar

Que alguém havia de aproveitar uma das aparições de São Marcelo para o avisar que os blogs também estão a precisar de levar uma descrispadela profunda e intensiva...


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Estereótipos

Nós, os Patrões, acordamos quando o sol vai alto, espreguiçamo-nos nos nossos lençóis rendados bem esticados nas nossas camas king size, deambulamos um pouco pelas nossas casas de luxo à Patrão, com os nosso lustres de cristal à Patrão e torneiras de oiro à Patrão, tocamos à campainha para a criada - que recebe o ordenado mínimo e a quem descontamos a alimentação e a dormida, claro está, era só o que faltava, encherem a barriga à borla; e a quem não fazemos descontos para a Segurança Social, que nós somos ricos mas não somos parvos- nos trazer o tabuleiro com o pequeno-almoço, deitamos as migalhas para o chão, para ela ter o que fazer, depois tomamos o nosso banho de espuma à Patrão, nas nossas banheiras de jacuzzi à Patrão, vestimos as nossas roupas de caxemira e calçamos os nossos sapatos à Patrão - de mil e quinhentos euros, os de quinhentos são para directores, cada macaco nos seus sapatos e respeitinho é bom e o Patrão gosta - vemo-nos ao espelho e fazemos a nossa Patrão-Face, aquela a três quartos, braços cruzados à frente do peito e o queixo levantado, sentimo-nos logo bem, poderosos, prontos para explorar funcionários, depois descemos à garagem onde temos estacionado o topo de gama à Patrão, comprado com o dinheiro da empresa, claro está, aceleramos pela cidade em excesso de velocidade, que as leis não foram feitas para nós, enquanto nos rimos daquelas criaturas paradas à chuva, nas paragens de autocarros. Quando chegamos às nossas empresas damos logo um grito à secretária, Oh Ermengarda, sua incompetente, traga-me já o meu café à patrão!, depois ligamos ao Alves da contabilidade para avisar que este ano não se paga subsídio de férias nem de Natal, que a festa lá na quinta vai ser de arromba, coisa para cima de seiscentos convidados, ligamos ao departamento de Recursos Humanos e mandamos o Mendes despedir uns sete ou oito, só por diversão, "oh homem, sei lá quais, acha que eu sei o nome dessa gente, olhe, escolha ao calhas!", e então pegamos no cartão de crédito da empresa e vamos para as nossas almoçaradas à Patrão onde trocamos técnicas de tortura de trabalhadores com Patrões amigos e mostramos uns aos outros os extractos das nossas contas bancárias ao mesmo tempo que nos rimos dos ordenados miseráveis que pagamos aos funcionários, enquanto os exploramos cada vez mais,

Então e não trabalham? Trabalhar? Oh menina, nós somos patrões!


sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Ocê tá tendo pobrema com a roupa suja?

Se acalme, tudo é uma questão de organização e vai se resolver logo, logo! Ocê separa a roupa com base na quantidade de sujeira, passa o aerosol da pré-lavagem, logo após ocê vai no tanque, dá um enxaguamento nela e depois ocê pega no sabão em barra e esfrega tudo com muita firmeza, ocê dá uma surra na roupa para remover mêsmo as manchas mais difícil, tendo cuidado com os zíper para não se machucar, no final ocê tira a umidade em excesso, coloca no varal e deixa p'rá secar. É simples, simples e ocê pode botar todo o processo no seu blogui para nós presenciar. É muito legal! 



terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Seu blogue foi invadido por energia ruins?

Ocê vê que seu blog está uma bagunça, que nada 'tá dando certo, que ocê escreve mas não sai do lugar, que as brigas são constantes e nem sabe nem o porquê, que a aura do blogue está negra p'ra xuxu, que tem pessoa discordando de ocê, deixando cada comentário que nossa, que está todo o mundo rodando a baiana? Palmier Encoberto, mãe de santo dos blogue, tem a solução! Nesses caso, ocê deve começar por passar um galhinho de arruda em seu blog, o faça com movimentos leves, circulares, imagine que ocê está dando um cafuné nele, passe a plantinha pelo cabeçalho, pelos textos e pela caixa de comentário, durante uns dez minuto, ao término jogue o galho no fogo e de seguida jogue as cinza no vaso sanitário e puxe a descarga por três vezes, por fim ocê deve colocar dois copinho com sal, um em cada lateral do seu lapitopi e acender um incensinho de anis estrelado e eucalipto para purificar o ambiente com aquela fumaça legal. Se nada disto resultar, o jeito é mesmo ficar frente ao seu blog, num final de semana de lua cheia, exactamente à meia noite e realizar uma oração de descarrego com uma cruz de madeira na mão direita. No dia seguinte ocê deve ir num centro espírita com a cruz e falar p'ró padre jogar água fluidifica nela. Para finalizar bote a cruz dependurada na página de entrada do seu blogue e em local bem visível.

Muito importante: Essa simpatia deve ser feita sempre que ocê receber uma visita em seu blogue. 


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A Pedreira

Saímos pela manhã, em direcção a Fátima, as amostras eram horrorosas daí que fosse preciso ver as chapas inteiriças e elas lá estavam, à nossa espera, blocos inteiros todos fatiados, como pão de forma, o Senhor Manuel, um homem baixo, corado e anafado, mas aquele anafado compacto e sólido, um anafado taurino, guiou-nos por ali fora de borrifador na mão, que antes de polidas as pedras ficam baças e não se percebe o resultado final, é preciso molhá-las para se ver bem os veios e as cores, mas o senhor Manuel queria mostrar-nos as pedras todas, os travertinos, os granitos, os basaltos, o não sei quê azul e o outro, amarelo, e os molianos, que os chineses, sabe lá o que eles gostam disto, são blocos e blocos que vão daqui para a China, que isto é tudo igual, nunca muda, parece que sai de uma fábrica, tal e qual os mosaicos, dizia com orgulho, e depois de nos ter mostrado todas as pedras, todas as máquinas, todas as esferas armilares e todos os torcidos e tremidos que lá são feitos, depois de nos ter mostrado os escritórios onde tudo era de pedra, de todos os tipos de pedra, um mostruário completo, desde o chão, às paredes, às casas de banho, às secretárias e à grande mesa de reuniões, um dólman megalítico gigantesco plantado para a eternidade no centro de uma sala, despedimo-nos pelo meio dia e meia, sabe, Senhor Manuel, temos de ir andando, ainda temos voltar para Lisboa, ao que o Senhor Manuel deu um salto para trás, perplexo, mais que isso, horrorizado, perguntando ao mesmo tempo que saltava: o quê, vão a esta hora, sem almoçar?! E avaliando-nos de alto a baixo e fazendo-nos as contas aos quilogramas por centímetro cúbico de corpo, vi pelos seus olhos que concluiu por uma única hipótese: só podíamos estar doentes. 


Cumprindo os mandamentos da igreja da futilidade, Palmier começa a semana a escolher pedra


domingo, 8 de janeiro de 2017

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

E agora que a Grande Obra está tão diferente, praticamente pronta

A pessoa começa a pensar no que vai fazer dela, e então a pessoa faz o que ouve dizer que se deve fazer, a pessoa vai ao Pinterest fazer o seu mood board, mas quanto mais a pessoa vê, mais a pessoa se apercebe que, por mais diferentes que sejam, aquelas casas do Pinterest são, na verdade, todas iguais, uma espécie de versões Zara/Massimo Dutti/Uterque da decoração, todas muito minimal/zen/nórdicas, as paletas de cinzentos misturadas com madeiras, as cortinas brancas esvoaçantes, sem nada fora de sítio, numa obsessão tão grande pela perfeição que não há espaço para a criatividade, para o belo imperfeito, e depois de vários dias nisto, a saltar de uma linda decoração escandinava em linda decoração escandinava, já desesperada, a pensar que estou louca, que não gosto de nada, que não quero nada daquilo para mim, consigo finalmente incluir dois elementos no meu mood board: ovelhas e um (uma?) ficus lyrata. Sim, juro que é este o meu mood board de decoração.



quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

E então o engenheiro responsável pela Grande Obra disse-me:

Esteja descansada que, entre o Natal e a passagem de ano, vamos trazer uma segunda equipa, de outra obra, e vamos dar aqui um tal avanço que, quando voltar, nem vai reconhecer isto!