Eu também fui à loja chinesa, foi em Agosto, logo no primeiro
dia de férias, depois de uma manhã de praia, fui a correr com os meus filhos e
a minha Maman comprar duas telas, das grandes, que já se sabe que o meu estilo
artístico é o megalómano, podia ser uma artista impressionista, conceptual ou surrealista,
mas logo me calhou este estilo tudo em grande e agora tenho de carregar esta
cruz. E assim foi, munida com duas telas baratíssimas, menos de vinte euros, de
metro e vinte por metro e vinte, saímos da loja e começámos a nossa luta.
Enfiar as telas no carro. Foi bonito de ver, quatro almas a tentar todos os ângulos
possíveis e imaginários e as telas baratíssimas, mas teimosas como tudo, a
recusarem-se a entrar. Nem no porta-bagagem, nem no banco de trás, nem em lado
nenhum. E nisto já havia um ajuntamento de populares, cada um dava o seu
palpite, desconhecidos introduziram-se no carro e desmontaram-lhe o interior, retiraram uma barra que eu nem sabia que saía, rebateram os bancos, que aquilo já parecia uma camioneta de caixa aberta, e
depois, finalmente, lá houve um jeitoso que encontrou o ângulo certo, o único
ângulo possível para as telas entrarem, e entraram mesmo, e a seguir pôs-se um
novo problema: com as telas lá dentro só cabiam duas pessoas e calhava nós
sermos quatro, então tive de deixar a minha mãe e a minha filha na loja chinesa
e fui com o meu filho levar as telas a casa, para só então voltar e resgatar as
duas familiares abandonadas, e tudo podia ter corrido bem e esta ser uma
história de sucesso, mas depois acabaram as férias e com os meus filhos e as
malas, a segunda tela, ainda a meio, não cabia no carro, e apesar de ainda ter
posto a hipótese de deixar os meus filhos para trás para me poder fazer
acompanhar da minha arte macro, lá optei por fazer seguir a dita numa
transportadora, afinal o transporte só custava outros vinte euros, ainda estava
a ganhar face ao preço de uma tela das portuguesas, comprei cinco rolos de papel
de bolhinhas na loja do mesmo chinês, enrolei a tela muito bem enroladinha, vim para Lisboa e aguardei.
A tela chegou uns dias depois, com a grade toda partida, que já se sabe que as
telas dos chineses têm uma grade tão leve, tão leve que mais parece de cartão, por
alguma razão são tão baratas, e então liguei para a loja portuguesa a com o meu
drama, e eles, tão prestáveis, foram-me buscar a tela a casa, para a engradar
novamente, agora em madeira também ela portuguesa, daquela que não se parte com
um suspiro mais forte, e enviaram-me o orçamento: cem euros para engradar a
tela, porque afinal as medidas não são standart, não é um metro e vinte por um
metro e vinte, é um metro e vinte por um metro e vinte e três, e, claro, as travessas têm de ser feita à medida. E pronto, resumindo e concluindo, feitas todas as contas, vou pagar
pela minha tela baratíssima do chinês o preço de duas boas telas portuguesas.