domingo, 14 de outubro de 2012

Querido Anibal,

Ontem, depois de ver no telejornal que nos tinhas deixado mais uma mensagem no Facebook, também eu te quis dizer qualquer coisa. No entanto e como não sabia bem o que era, deixei-te aqui um recado que hoje apaguei. E, fi-lo, seguindo a linha governamental. Ou seja, eu tinha qualquer coisa para dizer e, como não sabia bem o que era, em vez de pensar (que isso é uma coisa um bocado extenuante), atirei assim qualquer coisa para o ar. No entanto, hoje, percebi que não era aquilo que te queria dizer e, portanto, e sem sentir qualquer pingo de vergonha volto atrás e começo de novo. Como se de uma simples TSU se tratasse.

Ora vejamos, querido Aníbal, eu não percebo porque é que tu, quando me queres dizer alguma coisa, usas assim uns meios um bocado estranhos... Era natural que aproveitasses a televisão pública (até porque era bom que lhe desses algum uso antes do Relvas a vender) e te dirigisses a mim de maneira mais formal. Mas não... A realidade é que, quando tens alguma coisa a dizer, preferes ir para Itália discursar numa universidade, ou ir a Espanha dar uma entrevista a um jornial espanhiol ou, então, usar o Facebook. E a verdade é que estamos perante um padrão. Um estranho padrão, diga-se de passagem... Caso não te tenhas dado conta, eu vou-te explicar:
Tanto no caso de Itália ou Espanha tu falas porque te sentes lá longe, no estrangeiro... assim numa de "aqui ninguém me conhece e, portanto, posso articular palavras à minha vontade e dizer tudo o que vem à cabeça". É um bocadinho como aquela vez em que eu fui a Roma e bebi um bocado de chianti a mais e depois entrei para dentro da fonte da Piazza Navona e cantei para quem passava. Percebes? Não fazia mal... ninguém me conhecia... eu estava à vontade para fazer e dizer o que me desse na mona...
Quanto ao Jornial espanhiol, também te percebo... eu, quando, no meu trabalho, tenho de dar entrevistas a televisões estrangeiras, também não me importo nada... se ficar vesga, com olheiras e disser coisas parvas em inglês, é-me indiferente... na verdade, quem me vir, não me conhece e, portanto, não sinto qualquer pressão. Se, no entanto, estivermos a falar de uma televisão ou jornal português... bem... já não me sinto assim tão à vontade e, portanto, evito. 
Por último, temos o Facebook e essa forma de comunicação é, simplesmente... enfim... abaixo da crítica. É que, todos nós sabemos que, no Facebook, nós não somos verdadeiramente nós... todos parecemos muitA giros, muitA porreiros e dizemos coisas muitA corajosas E, lá está, parece-me estranho que seja esse o meio que tu elejas para falar comigo (sobretudo quando eu não sou tua amiga no Facebook. Nem em qualquer outro lugar, diga-se em abono da verdade). É que, depois, uma pessoa vai ler as tuas mensagens (entaladas entre uma fotografia de um ursinho com um coração e outra de uma amiga com os copos) e tem a sensação que entrou na twilight zone. Que ligaste o computador e pensaste: "Coitadinhos deles... que estão para ali com dificuldades... Embora lá criar uma "cause". E, então, crias a a tua "cause" e até te sentes enternecido. "Join my cause and help to end violence against the portuguese people". Sentes que fizeste algo por nós... Mas, querido Aníbal, detesto desiludir-te, mas não... sabes, apesar das diversas "causes" que pululam pelo FB, continuam a existir cães abandonados, baleias chacinadas e mulheres agredidas e... portugueses espoliados... 

Estás agora a ver o padrão? Ainda não? Então eu explico melhor... Em todas estas intervenções há um denominador comum. Tu não tens de nos enfrentar, não tens de dar a cara e não tens de ser corajoso. Há assim uma espécie de filtro para te ajudar. Um filtro que te separa da realidade. Numas vezes porque estás com desconhecidos que não sentem na pele as consequências dos teus actos (e, portanto, é indiferente o que eles pensam), noutras porque basta fazer "publicar" e sentes que o trabalhinho já está feito e até suspiras de satisfação...
Mas, repara, tiveste o discurso do 5 de outubro em que, em vez de içares a bandeira ao contrário e falares da educação em geral, poderias ter aproveitado para dizer coisas importantes para TODOS nós. Ora imagina lá... TU,  A PROFERIRES PALAVRAS ENCADEADAS UMAS NAS OUTRAS E A OLHAR PARA PESSOAS DE VERDADE QUE GOSTARIAM DE SABER O QUE TU PENSAS E QUE QUEREM SABER SE EXISTEM ALTERNATIVAS PARA O NOSSO PAÍS... hã?! Era bonito! 
Eu percebo que é mais fácil da outra forma, até porque é essa a forma que eu utilizo (nomeadamente aqui), mas, lá está, eu não escolhi ser Presidente da República... É por isso, Aníbal, que gostaria de te pedir que, para a próxima faças um esforço e te dirijas a mim frente a frente, porque esse é, na realidade, o teu trabalho... e olha que, caso não saibas, hoje em dia é difícil encontrar trabalho, pelo que, seria bom que encarasses o teu com um bocadinho mais de profissionalismo...

4 comentários:

  1. Ai Palmieri, Palmieri, eu que gosto tanto de fazer graçolas e dizer assim uns dizeres fico tanta vez sem palavras ao ler-te; e repito-me...mas o que é eu posso fazer...nada! Tenho de me repetir e dizer-te outra vez BRILHANTE!!!
    TU ÉS BRILHANTE!
    Seria tão bom que eles te lessem, e entendessem...se precisassem de ajuda por não terem trazido os óculos, por exemplo, eu até me importava de lhes ler a todos em voz alta; e devagarinho para perceberem bem!

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  2. E eu posso repetir se os senhores não ouvirem bem !!!!!
    :)

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  3. Ahh, como eu gostva que o Visado lesse este blog.... Teria seguramente (mais) um acessor atrás dela para apanhar os pedaços do ego esfrangalhado...

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  4. bem sei que isto não faz de mim melhor que o comum dos mortais mas.... eu não fui das que votou para pôr esse senhor lá no poleiro onde ele está agora...

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