Também tenho um pássaro

Há pessoas que têm pássaros normais, pássaros de grande categoria e qualidade, pássaros belos e coloridos que fazem ninhos nas suas janelas, pássaros que as acordam de manhã com um suave e melodioso chilrear, pássaros que cantam como tenores numa ópera de Donizetti, e depois há outras pessoas menos afortunadas, pessoas que, como eu, têm um pássaro nocturno, um pássaro que canta no escuro, dissimulado por entre os galhos das árvores, um pássaro que nunca se deixa ver, mas que faz questão em ser ouvido, um pássaro trabalhador que ocupa as suas madrugadas com uma cantoria deveras... como hei-de dizer...? Sui generis? Mas, lá está, ao contrário das pessoas com sorte nestas coisas de pássaros, o meu trata-se de um pássaro pouco ambicioso, um mafarrico voador que dedica as suas - e as minhas - noites a treinar para ser, nada mais, nada menos, que um alarme de um carro.

Deixo-vos então com o meu pássaro. Para que possam apreciar a minha nefasta situação.