Mas acontece tantas vezes, ali debaixo dos
nossos olhos, o jeitinho com que se vão polindo umas arestas, primeiro
devagarinho, disfarçadamente, depois, quando não estamos a olhar, com uma
polaina, à bruta, para retirar o que não interessa, como uma cobra que tem de
deixar a sua pele, depois vai-se pondo um tijolo aqui, outro ali, uma janela com
bonitas cortinas onde antes estava uma parede cega, enterrando o que não
interessa, de forma dissimulada, com a ponta do pé, grão de areia seguido de
grão de areia, até que determinadas coisas fiquem definitivamente longe da
vista, depois dá-se um primário, uma demão de tinta, seguida de outra,
retiram-se as fitas isoladoras e, de repente, do nada, surge-nos a mais bela
borboleta jamais vista. E o construtor de imagem acredita piamente na
personagem que criou, comove-se com a sua borboleta colorida, emociona-se com
as suas novas qualidades, crê em si de tal forma que, qual número de
ilusionismo, faz com que os que estão à sua volta acreditem que aquilo é real,
apesar de todos os indícios nos dizerem o contrário, do sexto sentido acender a
luz vermelha e do alarme disparar. Eu. Eu é sempre a imagem de marca do
construtor de imagem, Eu sei. Eu sou. Eu faço. O construtor de imagem faz
questão em falar sempre na primeira pessoa do singular e de embrulhar o “Eu” numa
letra maiúscula. Depois é ver os crédulos a comprar, e o mais estranho é que compram,
como numa loja no primeiro dia de saldos, e nós ali sentados no provador, a olhar em volta e a perguntar se seremos os únicos a ver aquilo, à
espera do momento em que a máscara escorrega da cara como um papel de parede
mal colado, como uma mala de viagem no regresso a casa, daquelas malas que só fecham quando alguém se senta em cima da tampa, daquelas repletas de roupa
amarfanhada, uma mala tão cheia que, mal se carrega no fecho, explode
violentamente, espalhando os fragmentos da personalidade inicial por todo o
lado.
Acabaste de descrever aquilo que vejo na relação entre António Costa e uma quantidade incrivel de portugueses.
ResponderEliminarNão que conheça outros politicos ou que seja a favor de outros, simplesmente tudo o que vem dele soa-me a falso.
Este texto recorda-me o desgosto de uma grande amiga que comprou Ásia primeira casa numa das primeiras urbanizações do parque das Nações, logo a seguir à Expo. A casa era linda, luminosa é bem localizada. Bastou chegar o primeiro inverno para perceber que a casa dos seus sonhos não passava de uma obra concluída à pressa por empreiteiros gananciosos com bolsos abertos à espera dos euros de sonhadores incautos como a minha amiga. Infiltrações, materiais de má qualidade vendidos como se de luxo se tratassem. Foi um pesadelo. Travou lutas judiciais com o construtor que entretanto faliu e, se quis uma casa habitável, teve de gastar um dinheirão em obras.
ResponderEliminarAh... mas por mais obras que se façam... :)
EliminarEntretanto já não mora lá, a família cresceu e mesmo com obras a casa já não era adequada às suas necessidades.
EliminarA minha história, noutra cidade.
EliminarConstrução de m###a, luvas, trambiquices várias, licenciamentos a lá carte, falência do pobre construtor (aka realissimo fdp), e o je a pagar obras...
Isto pode aplicar-se a tanta blogger, que me fica a dúvida a piscar ;)
ResponderEliminarAcho que se aplica, sobretudo, a muita gente. Todos nós já nos cruzámos com alguém assim... :)
EliminarUm tijolo aqui, outro ali, um primário, uma segunda demão...
ResponderEliminarAcho que a Palmier se encantou tanto com a grande obra perto de si que se tornou uma profissional da construção.
:DDDDDDDDDDDDDDDDDDDD
EliminarA partir de agora, tudo tem de incluir uma metáfora da construção civil! :DDDDDDDDDDDD
(e hoje estou tão contente! O senhor da obra disse-me que já lá tenho um capacete com o meu nome! <3)
Em todo o caso, se fala de quem penso; não há nada a recear.
ResponderEliminarNão ganha ele...nem o outro tão-pouco!
Sondagens absolutamente fidedignas garantem que ganha o povo...sentadinho a ver futebol na televisão.
Ao menos que ganhe o Sporting! :)
EliminarTambém existe uma probabilidade de estarmos perante uma espécie de conversão de St.º Agostinho dos sec. XXI. Maniqueísta convicto encontrou na igreja católica as respostas que procurava e hoje é um santo "de referência".
ResponderEliminar:)
EliminarNao há construção, por muito bem feita que esteja em que não apareça uma racha, só é preciso estar atento :)
ResponderEliminarE são teimosas, o raio das rachas! Por mais que se tapem, elas voltam sempre a aparecer :)
EliminarDoce Palmier,
ResponderEliminarCom tanto salamaleque e comoção com borboletas, só pode ser obra de consultora de imagem.
"Pó de arroz / Rosa é, mulher o pôs / E o homem vai nas cenas / Eva e Adão outra vez / É como enfeitar um embrulho / Arroz com gorgulho talvez"
Um beijo,
Outro Ente.
#Deixemosconstrutoresempazeostaxistastambém
Talvez, talvez :D
Eliminar#adoroaconstruçãonãoaconsigodeixarempaz! :D
Há muito tempo o Salgado fez um post que dizia mais ou menos o seguinte, já não me lembro exactamente das palavras:
ResponderEliminar"mais cedo ou mais tarde, para o bem ou para o mal, todos nos revelamos e temos um gesto que de tão impactante nos definirá, aos olhos dos outros".
Foi um dos seus melhores posts, muito acertado. É mesmo isso, por mais que se disfarce e se construa uma personagem, mais cedo ou mais tarde o verdadeiro interior vem acima. É aborrecido se calha que não é coisa bonita de se ver...
Olha, agora que falaste nisso, também me lembro desse post :)
EliminarSão os doravante designados por "refazedores de passados".
ResponderEliminarE as migalhas vão-se espalhando............deixando o seu "rasto"
ResponderEliminarHummm???
ResponderEliminarO que é que se passa aqui???
Acabo de sair do coma de verão ...
Sei lá... acho que estou em coma porque deixei o verão! :D
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