Foi-me acontecer uma coisa destas! Não há direito...
É que eu não tenho uma receita de um batido verde para beber
logo às oito e meia, nem a de um pequeno-almoço com um pão de passas e alpista para
debicar a meio da manhã enquanto me sento tranquilamente à janela com um camisolão de lã branca com torcidos e umas meias grossas oriundas da Serra da
Estrela, nem mesmo uma receita para um
almoço, uma coisa light servida numa mesa de madeira decapada mas cheia de
estilo, já para não falar de uma receita para o lanche, assim umas waffles com
Nutella acompanhadas de um chá verde, gengibre & menta servido num tête-à-tête
de prata e, muito menos, uma receita para um jantar, qualquer que seja o jantar.
Na verdade sou basicamente uma sem-receitas. Uma come-qualquer-coisinha-que-lhe-apresentem-desde-que-já-esteja-pronta.
E o pior, pessoas, o pior é que eu sou portadora de um gene que corre desde há
gerações na minha família e que nos impede de cozinhar… somos acometidos de um
estado extremamente nervoso com a simples visão de um trem de cozinha. Sim… isto é muito grave… trata-se de uma patologia hereditária!
Posso aliás adiantar que, em consequência desta questão
genética, o meu pai alimentou-se durante anos a Bovril (um extracto salgado e
pastoso com sabor a carne que se mistura com água quente) acompanhado de umas
carteirinhas de pó que se diluíam em leite, mais vulgarmente conhecidas como o
alimento dos astronautas. E a minha mãe… pfff… a minha mãe… a minha mãe tratou-me
muito mal, é o que vos digo! É que a minha mãe, com a sua relação maníaco-depressiva com a
culinária, ora cozinhava imenso, imensas coisas diferentes, todos os dias, a
toda a hora, ora comíamos frango cozido com batatas fritas e marmelada durante
um ano. Juro pelos blogo-Deuses que, durante um ano inteiro, 365 dias da minha
vida, o meu jantar foi uma perna de frango cozida com batatas fritas e
marmelada! E, reparem, a marmelada não era sobremesa! A marmelada fazia, mesmo,
parte do prato. E o que é que uma pessoa pode fazer com um prato destes, hã?!
Tirar-lhe umas fotografias?! Só se as usasse como prova para fazer queixa à
Comissão Nacional de Protecção de Menores! Nã… eu nunca poderia contar isto a ninguém, uma vez que não
quero que ninguém saiba que eu fui submetida à tortura do regime alimentar repetitivo! Mas
a coisa não fica por aqui… ah pois não… a coisa vem de trás! Vem da minha avó, que
se recusava a entrar na cozinha, excepto para fazer a prova dos nove, aquela operação misteriosa que ela fazia naquela agenda
grande de capa verde-água e que acabava com aquela palavra mágica "novesforanada", palavra que fazia com que quem tivesse ido às compras respirasse de alívio e que significava que o troco das compras estava certo. Sim… a minha avó entrava na cozinha (e entrar é
aqui uma metáfora, porque ela ficava à porta) apenas e só para garantir que ninguém a enganava com a conta do supermercado. Eu, aliás, pensava que a cozinha era uma espécie de gabinete de contabilidade rodeado de agradáveis aromas. De resto, e como a minha avó nunca sabia o que se passava dentro
das panelas, quando estávamos à mesa e como forma de ocultar a sua ignorância sobre
a composição do almoço ou do jantar, mandava servir, não o rosbife com salada russa, nem os folhadinhos de carne com arroz... mas sim: “o que segue”. O que me induziu em erro durante anos... já que, até à minha adolescência, achei que o segundo prato se designava pela excelsa palavra proferida em língua estrangeira “oqueseg”.
Enfim… tudo isto foi escrito com o intuito de me antecipar às más-línguas e , antes que me venham
acusar de nunca, NUNCA, nem uma única vez, aqui ter postado aqui uma receita, eu própria me apresento voluntariamente, dou o peito às balas e confesso publicamente que o sangue que me corre
nas veias é o de uma falsa blogger. Uma blogger a quem estão e
estarão para sempre fechadas as portas do Walhalla blogosférico!
Lá por ter nome de bolo, não terá que ter um blog culinário. Eu venho aqui diariamente para APRENDER o que vestir, o que ler, como falar, como me comportar em público. Sem este blog eu estaria seguramente perdida, porque este presta um serviço público aos mais necessitados ( sim, que nem toda a gente nasce com o "dom") de altíssimo gabarito. Se lhe fecharem o Walhalla, sempre tem Avalon, que segundo creio não tem matronas gordas aos gritos.
ResponderEliminarVamos instituir oqueseg como o main course mais fashion de toda a blogosfera !
Também voto no "oqueseg" para incluir na nova linguagem blogosférica, utilizada por aqueles que, tal como eu, querem mesmo é que lhes ponham a refeição à frente sem querer saber se tem sementes de chia ou goji.
ResponderEliminarAi havia de ser bonito vires cá dar a receita do galão com paposseco com manteiga, havia! Tenho cá para mim que no dia seguinte os papossecos esgotavam em Lisboa e arredores. Pfff, sou mesmo "rEdícula". Olha agora esgotarem em Lisboa. Esgotariam em todo o mundo. Aliás, tenho informação segura, uma coisa assim "inside trading" mas em muito melhor (que me relaciono com a mais fina flor da corretagem internacional), que em Chicago a cotação para o trigo mole bateu todos os recordes só com a hipótese que levantei. Imagina agora que sim senhora, vinhas explicar aqui no blog como o senhor do café te prepara o paposseco e o galão!
ResponderEliminarQual galão,qual quê? O Latte!!
Eliminar"oqueseg" "oqueseg" "oqueseg" "oqueseg"
ResponderEliminarEstou a treinar ok? Até aqui só conhecia "Vou-buscar-o-jantar!"
Tb admito aqui que só tenho talento para escolher a partir de um menu. Confesso tb que não me importo por aí além.
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