Estive tão ocupada com a minha arte que até me esqueci de
contar que naquele Sábado, antes do Domingo de Páscoa, fui comprar pão, que no
Domingo nunca há – ou melhor, há, mas é daquele plástico, do supermercado – e então
fui à padaria, e estavam duas pessoas à espera de ser atendidas e eu percebi
que estavam à espera que o pão chegasse, e quando a menina me perguntou o que
queria, eu disse-lhe que queria um pão médio, e ela, ah tem de esperar dois
minutos que o meu colega está a descarregar, e eu, então está bem, e fiquei ali
a olhar para os bolos, que eu gosto muito de bolos, talvez leve estas roscas,
que parecem ser bem boas, e estes bolos que não sei o nome, mas que têm doce de
ovos a cobrir e depois uma camada de coco ralado com uma risca de canela, e
enquanto estava nisto o colega entrou com o carrinho cheio de cestos de pão
empilhados uns em cima dos outros, passou o balcão e a menina que estava a
atender atarefou-se logo muito com aquilo, pegou nos cestos e começou a
despejar os pães para dentro das tulhas, os pequenos na tulha dos pequenos, os
médios na dos médios e os grandes na dos grandes, enquanto o colega, lá fora, retirava mais um grande cesto para o carrinho, e então, enquanto a menina arrumava os
pães, o colega entrou com o novo carregamento, e eu vi que eram
folares, que cheirava mesmo bem a erva-doce, e então pensei cá para mim, olha
que boa ideia, também vou levar um folar – já está visto que estava cheia de
fome – mas no momento em que tive este pensamento, o colega bateu com o carrinho numa cadeira, o cesto virou-se e os folares rolaram pelo chão para todos
os lados, era um mar de folares que se reflectiam por ali fora, nos ladrilhos,
e eu a olhar para o cesto, a ver se se tinha salvado algum folar, e sim,
ficaram dentro do cesto uns dois ou três, não dava para perceber bem, os outros
estavam todos por ali espalhados, e então, naquela fracção de segundo, enquanto
o colega, esbaforido, soltou um palavrão extremamente audível, daqueles mesmo,
mesmo cabeludos eu fiz as contas aos folares ilesos e às pessoas que estavam à minha frente, se cada
uma levasse um folar ainda havia de chegar para mim, e enquanto estava nestas matemáticas, a menina dentro do
balcão pergunta “quem está a seguir” e eu olho em volta, à procura das duas pessoas
que estavam à minha frente, mas nisto vem uma chica-esperta lá de trás que,
aproveitando a estupefacção geral com aquele jardim de folares, furou por ali
fora, espetou o cotovelo no balcão e disse: sou eu!, ora eu, que estava à
procura das duas pessoas que estavam à minha frente, percebi que estavam ambas
lá fora, a falar ao telefone, consegui
vê-las bem porque as outras pessoas, as que chegaram depois de mim, estavam
todas acocoradas a apanhar os folares do chão, e então tive um repente, que havia de ter
direito ao meu próprio folar incólume, e ao invés de ficar com cara de palerma, que é o
que me acontece sempre com os chico-espertos, disse à menina que estava a
atender, muito determinada, não, sou eu que estou à frente!, e a chica-esperta disse com cara enfadada de chica-esperta “já não percebo nada disto”, e a
menina pergunta: então o que vai ser? Um pão médio, um saquinho de roscas, estes dois
bolos aqui, e quando estava para acrescentar o folar, o meu folar, o folar sobrevivente que havia de ser meu, vejo as pessoas agachadas a dar uns soprinhos
aos folares derrubados que apanharam do chão e a dizer “schhhh, ninguém viu…” e a
guardarem-nos novamente no cesto.
Então Palmier, até parece que não conheces a regra dos 5 segundos!!
ResponderEliminarMáxima
Por isso é que não usei pontos finais. Assim as pessoas começam a ler ao engano e depois não podem parar :D
EliminarDas duas uma, ou aceitas a regra dos 5 segundos, com um sopro é uma sacudidela fica tudo novo, ou optas pelo beijinho antes de deitar fora, que me parece mais trágico-cómico, tu é os outros senhores a darem um beijinho aos folares, em jeito de despedida sofrida, antes de os deitarem fora. Aprendi a regra do beijinho com a minha filha que no outro dia, depois de andar com o lanche da escola na mão mais de meia-hora me diz que não quer mais pão. Eu olhei para aquele meio papo-seco e disse, está bem, não comas, deita fora. A miúda dá um respeitoso beijinho ao pão e deita-o no caixote. Quando lhe perguntei porque deu o beijinho ao pão, disse que não sabia muito bem, mas tinha visto a bisavó fazer o mesmo porque pão é o corpo de Jesus.
EliminarAhhhhhhhhh! Pensei que a regra dos cinco segundos era para os posts! Que quando têm muitas linhas ninguém lê! :D Agora é que percebi! :DDDDDDDDDDDD
EliminarPois, não sei bem qual a melhor solução para este caso, se os soprinhos, se os beijinhos :DDDDDDDDDDDD
A minha avó materna nunca deitava pão fora sem lhe dar um beijinho.
EliminarEstão aí uns "é" no lugar de "e".
ResponderEliminarAcho que a regra dos 5 segundos precisa de um requisito básico. Acho que é preciso que não haja mais ninguém a assistir à tragedia. Se a pessoa em causa estiverem sozinha só tem de lidar com a própria consciência e, como é sabido, tal como os micróbios só atacam o pão depois de decorridos 5 segundos após a queda, se for apanhado antes é super-seguro comê-lo -depois de soprar e sacudir-, a consciência/razão/sentido crítico também só é activada 5 segundos depois das tragedia, antes estamos ali num limbo, sem consciência do que aconteceu.
Ah, estás a ver como, no meu caso, a regra dos cinco segundos foi totalmente subvertida! A padaria estava cheia de gente! :DDDDDDDDDD
EliminarA Mirone tem toda a razão. Se ninguém vir o alimento cair ao chão não faz mal comê-lo ,mas se alguém vir o alimento tem que ir para o lixo. São regras da ASAE.
EliminarRegras da ASAE que, julgava eu, eram do conhecimento geral. Afinal...
Eliminar:DDDDDDDDDDDDDDDDDDD
EliminarO problema são mesmo os soprinhos. Comer o folar cheio de "perdigotos" é muito nojento.
ResponderEliminarSoneca
Bem... comê-los do chão também não é grande coisa :D
EliminarE por acaso a Palmier já pensou que esses dois ou três folares que sobraram no cesto, e pelos quais tão bravamente batalhou, quantos vezes se teriam esparramado pelo chão até chegarem ao destino?
ResponderEliminarE os pãozinhos que viu chegarem incólumes, quantos vezes a tragédia não lhes sorriu.
E quando se senta à mesa de um restaurante, já pensou também, ao ver-se servida com arte e requinte, se a mesma atenção foi dispensada à confecção do apetitoso prato que agora se apresta a deleitar-se?
:DDDD
Olhos que não vêem...
EliminarLá está, é o requisito básico de que te falava. Sozinhos, se mais ninguém vir, a coisa até é capaz e passar, agora com assistência não há regra dos 5 segundos que resista.
EliminarHélas...É dar um beijinho, pôr o coração ao largo, e deitar fora.
Se ninguém viu, é porque não aconteceu!
ResponderEliminarNão passou de uma alucinação colectiva :D
EliminarUma visão mística. :DDDD
EliminarSerão patas de veado esses bolos que descreve?
ResponderEliminarDevem ser, sim :D São uma espécie de pão-de-ló cortado em cunha e depois coberto com creme de ovo e coco.
EliminarSão seguramente Patas de Veado, também pensei no mesmo quando li.
EliminarMáxima
Mas comprou o folar ou ficou a chorar :)
ResponderEliminarFiquei a chorar :)
EliminarOh... Então?! Estou como a outra... Também já não percebo nada disto... Mas então as pessoas não sopraram os micróbios dos folares antes de os voltar a pôr no cesto?! Esquisitinha, caray!
Eliminar("Ninguém viu" é maravilhoso... :DDDD)
:DDDDDDDDDDDDDDDDD
EliminarOlhos que não vêem... estômago que não sente.
ResponderEliminarA ignorância é uma bênção também nas questões alimentares. Os clientes que chegaram mais tarde devem ter-se regalado com os folares.
Mas eu cá, que sou um bocadinho picuinhas com estas coisas, também teria saído de mãos a abanar.