Era um almoço de Domingo numa casa de campo, uma coisa simples e informal, o convite referia inclusivamente a forma de trajar, era um almoço campestre em que seríamos extremamente amigos e trajaríamos de forma casual. Depois de mais de uma hora de curvas e contra-curvas, buracos, pó e estradas de terra batida, chegámos a um palacete antigo acabado de construir, um palacete com grandes muros esponjados a ocre para dar a ideia que já lá estão vai para cima de cem anos e fomos recebidos por debaixo do pórtico que acondicionava um poderoso brazão de armas idealizado em autoCAD pelo atelier de arquitectura, pelo orgulhoso mordomo de jaleca branca assertoada com uns grandes botões doirados e reluzentes. Entrámos então na casa de tectos de estuque trabalhado do século XIX feitos pela Mapri-Estucadores, Lda., uma casa cujas paredes estavam pontuadas com grandes quadros escuros de onde nos espreitavam os antepassados de outrem, comprados num leilão de antiguidades. A dona da casa recebeu-nos de saltos vertiginosos, vestido vaporoso, cabelo saído do cabeleireiro e maquilhagem profissional, e eu, que já conheço bem estas coisas dos trajes, apresentei-me numa roupa daquelas intermédias e estudadas, que são tudo menos casuais, que dão para bom e para o normal, para não me acontecer como à mulher daquele outro, que levou a coisa à letra e apareceu de calças de ganga e, enquanto as travessas de prata passavam com os canapés, era olhada de esguelha pelas restantes senhoras, como se faria a um homem de fato num casamento de fraque. Depois os homens foram para um lado com as suas flutes de champanhe, para poderem falar das coisas verdadeiramente importantes de que só os homens sabem falar, negócios, bolsa, investimentos, no fundo foram dar as mãos e fazer girar o mundo e as senhoras pegaram nos seus copos de sumo de tomate temperado e foram tagarelar sobre coisas simples e triviais para junto da fonte romana revestida a azulejos quinze por quinze e alimentada pela água da companhia.
Depois a pessoa fica o tempo todo a contar os minutos para para o fim do suplício, a sentir-se num daqueles posts que lê mas que não tem nenhum comentário a fazer, aqueles em que fica a olhar sem crer muito bem nos seus olhos, só que não encontra a cruzinha no canto superior esquerdo do seu campo de visão, para poder fechar aquela cena e passar à seguinte, e então fica ali presa eternamente, num remoinho descendente, cada vez mais enervada, a puxar pela cabeça para tentar dizer alguma coisa bem plástica e adequada às circunstâncias, para tentar evitar a todo o custo que, no fim do dia, os donos da casa digam um para o outro "e então a mulher de fulano de tal... será muda?".
Depois a pessoa fica o tempo todo a contar os minutos para para o fim do suplício, a sentir-se num daqueles posts que lê mas que não tem nenhum comentário a fazer, aqueles em que fica a olhar sem crer muito bem nos seus olhos, só que não encontra a cruzinha no canto superior esquerdo do seu campo de visão, para poder fechar aquela cena e passar à seguinte, e então fica ali presa eternamente, num remoinho descendente, cada vez mais enervada, a puxar pela cabeça para tentar dizer alguma coisa bem plástica e adequada às circunstâncias, para tentar evitar a todo o custo que, no fim do dia, os donos da casa digam um para o outro "e então a mulher de fulano de tal... será muda?".
Isso era almoço para a Cutxi :)
ResponderEliminarHavia de a ter levado! Para a largar a correr ali pelo meio das saias das senhoras :D
EliminarBela ilustração de quando a pátine não se distingue de fuligem. Aposto que se não fossem as caganças, (o que eu adoro este termo, senhores!) da anfitriã, o realizar da fantasia retirada das novelas da globo ou de alguma série tipo axn ou fox, com toda a encenação, e até teria sido possível passar um bom bocado.
ResponderEliminarPois... não sei... aquilo era praticamente um cenário! :D
EliminarEm situações semelhantes tendo a ficar agoniada e calada. Com a idade tenho vindo a melhorar mas , uma vez, era eu bastante nova perguntaram à minha mãe se a menina( eu) era muda ou estrangeira...
ResponderEliminarEu cá cada vez estou pior :DDDDDDDDDDDD
EliminarSe soubesses como te entendo.
ResponderEliminarO truque é enfiar de shot uma coisa qualquer alcoólica que vá a passar num dos tabuleiros. A partir daí, fica tudo mais claro. A língua solta-se e o pior que os donos da casa podem dizer de nós, no fim da festa, é: "E aquela rapariga, extremamente bem educada, que é tão [inserir adjectivo: caturra, inconveniente, engraçada, desfocada]?" (Entre qualquer um e "muda", antes qualquer um)
:)
: DDDDDDDDDDDD
EliminarO pior é que só nos deram sumo de tomate!
Palmier muda? Jamais (Para ser lido com o melhor sotaque francês!)
ResponderEliminarÉ que não me sai nada! E eu juro que tento! : DDDDDDDDDDDD
EliminarOh pah, que maravilha!
ResponderEliminar: DDDDDDDDDDDD
EliminarDizes isso porque não eras tu!
Há muitos anos havia uma série irrigues com aquele actor gordo do preço certo, Nós os ricos, em que o protagonista enriqueceu com uma fábrica de antiguidades. Acho que ele ficaria lindamente nesse almoço.
EliminarPerfeito! :DDDDDDDDDD
EliminarIrrigues?! O que é de se passa com a escrita inteligente?
Eliminar
EliminarTambém fiquei a tentar perceber que raio de palavra o corrector tinha alterado :DDDDDDDDDDD
Eu achei mesmo que era a Mirone a dar uma de chique para completar o cenário!
Eliminar:DDDDDDDDDDD
EliminarSumo de tomate (até gosto) mas caramba... nem um gin?
ResponderEliminarNop... nem um daqueles com pétalas a boiar... :D
EliminarLá está, são os custos de se ser mulher-troféu. :DDDDDDD
ResponderEliminarAhahhahahhahhahahhhahahahhahahhahahhahaahhaahhahahhahaahhahahahhahahhahhahahaha
EliminarOlha, ossos do ofício! :DDDDDDDDDDDDDDDDDDD
Sumo de tomate temperado como deve ser é um bloody mary, bom solta linguas! 'Tou a ver que era tudo muito faz-de-conta...
ResponderEliminarPois... mas este era fake, era um sumo de tomate sem a parte do Mary :DDDDDDDDDD
EliminarOu só com a Mary, falta-lhe o bloody :) que seca, Palmier. Mas ainda bem que foi para nos dar este post tão bem escrito... como é seu costume.
EliminarQueremos foto do look. Para nos inspirarmos!
ResponderEliminarOh... não me auto-fotografei... :)
EliminarSe não houve selfie esse episódio nunca existiu. O passado só existe se houver, NO MÍNIMO, uma selfie.
Eliminar
EliminarSerá que não passou de uma ilusão? :DDDDDDDDDDDDDDDDDD
O que eu gostava, por vezes, de ser mosquinha, para assistir a estas coisas! :-D
ResponderEliminarNão vale a pena, a sério... :)
EliminarA Palmier é uma mulher avisada...
ResponderEliminarA mim, com essa conversa do informal, apanhavam-me de ganga e havaianas... Claro que teria que ficar no carro, sob a desculpa de terrível enxaqueca, sem poder ver gente...
Como diz o povo: "cada um é para o que nasce" :-)
Aahhahahahhahahhahahhahahhahahahhahahhahaahhahahahhahahahaha
EliminarÀ cautela, é sempre bom prevenir :)
É oficial: não gosto do seu modo de escrever. Lá está do tipo cenário! De forma artificial percebe? Mas bem lá no fundo, adorou ter sido convidada, certo? UPS...mais uma ideia para um post! (palminhas)
ResponderEliminarAnónimo/a, um post foi suficiente...
Eliminar(agora, só não percebo por que razão, se não gosta, continua a vir aqui ler... masoquismo? Cautela com isso... Quanto ao convite, lamento desiludi-lo/a, mas a verdade é que os rejeito quase todos. No entanto, para grande pena minha, há uns que não são assim tão fáceis de descartar. Sei que isso a vai deixar triste mas olhe, é a vida)
Doce Palmier,
ResponderEliminarAfinal, o que seria pior: ficar conhecida como "a mulher de fulano" ou como "a muda"?
Boa noite,
Outro Ente.
Sei lá... venha o diabo e escolha! :DDDDDDDDDDDDDDD
EliminarConheço o Feeling...
ResponderEliminarAqui há uns tempos fui convidado a actuar na sala da biblioteca do palácio foz aquando do lançamento de um livro...
...e raramente me senti tão desadequado!
Mas como sou roquer, e não quero saber de certos protocolos para nada, usei o meu amplificador à spinal tap e foi óptimo, que enquanto toquei o pessoal basou todo da sala para a varanda...
...só tive pena da pequena orquestra de câmara que interpretava Bach, do outro lado da varanda (que teria cerca de dez metros de largura), mas como caberia a quem nos convidou pensar nos inconvenientes de uma banda de rock a tocar num sítio daqueles...
...e para ser sincero, embora toda a gente (era um evento chiquérrimos cheio de auto-proclamados escritores) olhasse de lado para nós (se calhar porque não respeitamos o dress code, mas, além de não sabermos que havia um, mesmo que soubéssemos estaríamos a marimbar-nos para ele) tenho que admitir que me diverti à brava! Só os olhares escandalizados fizeram-me ganhar o dia!
:)
Na infância o sofrimento era acompanhar a mãe a casa daquela "tia" que mal conhecíamos, e passar a tarde a sorrir enquanto elas falavam de não sei o quê. E aceitar de quando em vez uma bolacha. E tentar não passar por mal educado... Ou mudo.
ResponderEliminarAfinal a vida não muda tanto assim com o avançar da idade.
Ahaahahahaha isso recorda-me uma férias no Algarve nos tempos de juventude :) já na altura os "camones" tinham tratamento priveligiado nos restaurantes..ora eu e uma amiga decidimos começar a falar em Inglês, no entanto, o nosso amigo não "pescava" nada de Inglês e claro ficava caladinho para a coisa não correr mal..e acenava com uns gestos como se fosse mudo!! Recordo-me perfeitamente da cara dos empregados com aquele ar "ah pobre rapaz é mudo" Mas olhe Palmier nesse tipo de situações como a que passou ou quando não encontramos nada (ou ninguém interessante) para falar, já a minha Avó dizia que "em boca fechada não entra mosca nem sai asneira"......
ResponderEliminarIsso faz-me lembrar a última festa de Natal da empresa do marido. A única anterior que tinha ido deu para perceber logo o tipo. Felizmente nessa primeira tinha acabado de chegar "às" França's e fui com uma calça/blusa pretas não destoei muito.
ResponderEliminarDesta vez procurei um vestido simples, com os acessórios correctos. Aquilo é uma empresa de transportes, a maior parte das esposas portuguesas foram de jeans e botas de pelo, com um camisola o grosso.
Depois as francesas + pátrias + escriturárias foram de vestido cerimónia de alças.
Nunca me senti tão bem por ter prestado atenção à toilette
*p.a.t.r.o.a.s.
EliminarEstúpido telemóvel inteligente
(candy crush?)
ResponderEliminarSerá que o anónimo do arroz de pato decidiu atacar de novo?!
ResponderEliminarPelo que descreveu, acredito que seria menos mau se a Palmier tivesse sido a convidada, em vez de a acompanhante.
WTF, mas por onde anda palmier?! Por cenas de uma telenovela?!
ResponderEliminarOlhe, eu é que não ando nessas andanças, senão bem que ia de calças de ganga e quando lá chegasse e visse as outras todas chiques dizia-lhes: "Mas que m**** é esta?! Isso é que é informal c***lho?!", certamente seria relembrada pela "malcriadona", mas saía de lá consolada e nunca mais seria convidada para essas secas!! :D
(o meu marido apoiar-me-ia!)
É fugir, fugir enquanto pode! Se essas senhoras por acaso descobrem que a Palmier tem nome de um bolo cheeeeeio de gordura... Q'horror!! :P
ResponderEliminarhttp://entreosmeusdias.blogspot.pt
Passei por isso este sábado e jurei para nunca mais! O meu marido que vá sozinho! Não consigo lidar com pessoas assim!
ResponderEliminarhá uns tempos aconteceu-me uma no genero... na empresa onde trabalhava havia sempre jantares uma vez por ano que a empresa pagava aos funcionarios, certo ano mandaram nos jantar para um casino uiiiiiiiiiiiiiii eu e a grande maioria dos colegas ficou a olhar :) ja sabíamos que era no casino fomos vestidos um pouco à maneira de gente fina eheheheh mas o pior tava para vir!!!! a comida my god era pouquissima tipo comida grumete, ou lá como se diz!! e talheres que nunca mais acabavam xiiiiiiiiiiiiiii desastre total :( resultado! assim que aquilo acabou fomos todos comer umas bifanas uns cachorros pras rulotes.... nunca maissssssssss!!
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